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"Só você me conhece do jeito que você me conhece
Só você me perdoa quando estou arrependido
Preciso de você quando estou quebrado
Quando eu estou consertado

Preciso de você quando estou bem."

There you are — Zayn

— ...o carro não tem nenhum arranhão, mãe, juro pra você...

A voz de Henrique adquiriu um leve tom de impaciência enquanto garantia a mãe, pela milésima vez, que estavam todos bem e intactos naquele fim de viagem. Ele andava para lá e para cá na praça arborizada e ampla de Monte Belo, gesticulando como se a mãe conseguisse vê-lo do outro lado da linha telefônica, e Vitor tentava não rir observando a cena.

Já tinha conversado com os próprios pais e a constatação de que pareceram felizes ao telefone quando ele contou do sucesso da viagem ainda o estarrecia. Não sabia bem o que esperar. Foram necessários muitos anos para que conseguissem dialogar em família sem terminar em discussão, e cada vez ainda era uma surpresa para ele.

Vitor tomou mais uma colher do sorvete de pistache e fechou os olhos de satisfação. Precisava terminar logo, antes que Marina roubasse todo o seu resto de sorvete.

Quando Henrique sentou ao seu lado no banco de madeira minutos depois, a colher e o copo de plásticos já estavam na lixeira da praça.

— Tudo certo por lá? — Vitor perguntou ao primo, colocando aos mãos na frente dos olhos para protegê-los da luz solar.

Henrique bufou. Apesar disso, estava quase sorrindo.

— Como pode uma única mulher ter tantas preocupações... ela me fez garantir que ia mandar uma foto de todos nós antes e depois do festival, para garantir que chegamos bem em casa!

— É um pedido bem razoável — Vitor falou só para irritá-lo.

Henrique suspirou.

— É mesmo. Tô com saudade dela.

Vitor sorriu. Também sentia saudades da tia, que não via há quase um ano. Era a sua parente preferida, e sentia falta do seu abraço apertado e da sua macarronada digna de um restaurante de prestígio.

— Nem acredito que já tá acabando.

— Passou muito rápido, né? Daqui a pouco já vamos voltar ao dia a dia de sempre, mas tudo vai estar mudado e bagunçado...

Henrique olhou para o primo com preocupação.

— Não era você que tinha conseguido encontrar "a empolgação necessária para a faculdade", ou qualquer bobeira assim?

Vitor franziu as sobrancelhas, dividido entre a vontade de rir da péssima imitação de Henrique do seu jeito de falar e a chateação pela percepção impecável do outro garoto.

Eles eram família, afinal. Foram criados como irmãos a vida toda e, por isso, Henrique sempre o entendera mais do que qualquer outro parente.

— Minha empolgação é pro curso errado, né. O curso que eu não vou fazer.

— Que seria...?

Claro que ele sabia a resposta, mas aparentemente queria que Vitor dissesse. Ele suspirou. O primo tinha herdado toda a personalidade da mãe.

— Letras — ele engoliu em seco depois de dizer.

— E você não vai fazer por que mesmo?

Vitor não sabia onde Henrique queria chegar com aquela falsa ignorância escondida no tom inocente, mas decidiu dar corda para descobrir.

Interlúdio | CONCLUÍDAOù les histoires vivent. Découvrez maintenant