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"Então, bom para você, você parece feliz e saudável
Eu não, não que você se importasse em perguntar

Bom para você, você está muito bem sem mimQuerido, Deus, eu gostaria de poder fazer isso."

Good 4 u — Olivia Rodrigo

Marina agarrava o volante com tanta força que seus dedos estavam começando a doer.

Atrás dela, Henrique e Lívia jogavam alguma coisa no tablet dele e Bianca estava esparramada no banco do passageiro. Marina quase teve uma síncope quando a viu colocar o pé no painel e a garota teve a piedade de voltar atrás. O carro não era dela, e sim dos pais de Henrique, mas ela cuidaria como se fosse.

Marina escutou o barulho conhecido de bolha de chiclete estourando ao seu lado. Bianca a observava com interesse. À medida que se aproximavam de Araxá, ela fazia isso com mais frequência, e eles estavam a uns cinco quilômetros do ponto de parada agora.

A motorista teve muita vontade de acelerar e só parar em Belo Horizonte, de preferência, mas Henrique nunca a perdoaria. Uma outra parte de si queria atropelar Vitor assim que o visse. E uma fração teimosa dela estava com saudade.

Droga. Que grande molenga ela era. Marina quase riu sozinha com o rumo dos seus pensamentos. Obrigou-se a prestar atenção somente na estrada, já que parecia incapaz de limitar seu cérebro à raiva. Ela sabia que, àquela altura, Henrique e Lívia não estavam mais jogando. Todos os seus amigos pareciam focados nela, agora que estavam tão perto de descobrir sua reação ao ver o ex-namorado depois de dois anos.

Marina parou o carro em uma das vagas da rodoviária, o rádio do carro desligando no exato momento que a próxima música começaria. Eles só saberiam qual depois que ela desse partida no veículo novamente, mas essa era a última das suas preocupações. Ela observou uma silhueta movendo-se ao longe, cada vez mais perto deles.

Ele nem prestou atenção no lugar combinado, ela desdenhou em pensamento, desesperada para achar qualquer reclamação a fazer. Era melhor que pensar demais no quanto ele tinha mudado e, que merda, em como tinha conseguido ficar ainda mais bonito.

Marina o odiava por isso. Por ter um sorriso tão charmoso, que a fazia ter que apertar os próprios lábios em uma linha fina para não sorrir junto. Odiava como ele sempre tinha um livro incrível nas mãos, "O Morro dos Ventos Uivantes" dessa vez, e odiou a vontade que teve de perguntar se ele estava gostando.

Mas, principalmente, ela odiou a felicidade que a consumiu por um segundo por estar no mesmo ambiente que ele de novo.

— Boa tarde — Vitor cumprimentou com sua voz grave, abraçando Henrique por longos segundos.

Eles tinham o mesmo cabelo castanho-escuro e formato do rosto e praticamente a mesma altura. Marina era alta, mas lembrava de sempre ter tido que erguer o pescoço para olhá-lo. Os primos se pareciam em muitas coisas, mas enquanto Henrique tinha a pele branca como a de Lívia e o cabelo curto, Vitor era pardo e mantinha o cabelo até o queixo. Ele prendeu os fios em um coque apressado e o penteado ficou espantosamente bom nele.

Em seguida, o jovem abraçou Lívia com um sorriso enorme. Eles eram amigos próximos e conversaram por alguns segundos sobre o livro, assim como Marina queria ter feito. Vitor ainda cumprimentou Bianca com simpatia antes de se virar para Marina.

Ela queria poder dizer que sua primeira emoção fora a raiva, mas, francamente, ela não saberia dizer. Estava presa naqueles olhos quase pretos de tão escuros. Marina viu tudo ali: intensidade, ponderação, intimidade perdida.

Interlúdio | CONCLUÍDAWhere stories live. Discover now