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"Em sonhos
Eu te encontro em uma conversa calorosa
E nós dois acordamos
Em camas solitárias e em cidades diferentes."

Sad beautiful tragic — Taylor Swift

Se alguém dissesse, há alguns dias atrás, que Marina terminaria aquela terça-feira chuvosa na biblioteca pública de Ouro Preto na companhia de Vitor Braga, ela teria rido muito. E ficaria brava logo em sequência, porque não gostaria nem de pensar na hipótese.

Porém, lá estava ela. Lá estavam eles.

Apoiado em uma estante, Vitor estava na metade de um livro de capa dura intitulado Heartstopper. Ele soltava risadas ocasionais e sorria com uma frequência considerável, o que deixou Marina com vontade de ler um pouco também, mas o outro exemplar estava emprestado e ela não queria pedir para Vitor abrir espaço para que lessem juntos.

Ela deu uma volta no local, impressionada com o tamanho do acervo — segundo a bibliotecária, eram mais de 50 mil livros disponíveis — e os avisos pregados nas paredes, indicando que eventos culturais aconteciam com frequência. Havia até mesmo um delivery de livros!

Marina acabou de se entretendo com um gibi da turma da Mônica e, quando já estava no fim do segundo, Vitor encostou gentilmente no seu ombro e perguntou se ela queria sentar nas poltronas ali perto. Ela fez que não com a cabeça, guardou os gibis na estante e começou a andar pelo corredor, sabendo que Vitor a seguiria.

— Gostou de Heartstopper? — ela perguntou depois de alguns segundos de silêncio.

Os olhos de Vitor imediatamente exibiram o brilho que Marina chamava de "empolgação de um leitor apaixonado". Era meio bonitinho e fazia o coração dela doer.

— É ótimo! Já anotei o nome para ler o segundo quando achar uma livraria ou outra biblioteca. O daqui tá emprestado. É sobre dois garotos de uma escola na Inglaterra que viram amigos e vão se apaixonando. É uma história em quadrinhos, e eu nunca tinha lido nenhuma em forma de livro, então fiquei surpreso com o quanto os personagens são cativantes.

— Depois me manda o nome do livro por mensagem pra eu procurar também — as palavras saíram da sua boca antes que ela pudesse aprisioná-las.

Vitor imediatamente tirou os olhos dos pôsteres colados na lateral da estante e fixou os olhos nos dela.

Marina sentia as pernas tremerem quando ele fazia isso. Sentia-se muito patética, porque passou meses sofrendo por falta de notícias do garoto, e tinha se oposto veementemente à inclusão de Vitor na viagem, mas a verdade é que ela gostava da presença dele. A proximidade mexia com ela de uma forma que não sabia explicar.

Mas quando ele estava tão perto assim, com os olhos pretos e brilhantes mais estreitos que o usual pelo sorriso que abria e o cabelo casualmente caindo no rosto, Marina esquecia que devia odiá-lo. Ela passava bem longe disso.

— Você vai me passar seu número? — Vitor perguntou, o sorriso perigosamente se inclinando para a esquerda. Deveria ser proibido sorrir daquela maneira, Marina pensou, a cabeça um pouco enevoada.

— Vou — ela respondeu, tentando soar natural, mas sua mente era uma confusão.

Não transforme isso num evento, ela repetiu para si mesma. É só um número de telefone. Estamos viajando juntos. Pode ser útil em uma emergência. Você só está sendo prática.

No fundo, ela sabia que sua resposta não tinha nada a ver com lógica e sim com uma vontade irracional de ter o número de Vitor. Ela não iria mandar mensagem ou ligar para seu telefone, mas a recuperação daquelas pequenas causalidades — um número de celular, uma ida à biblioteca, uma conversa no sofá em uma tarde tranquila — a deixava tão leve quanto um balão de hélio prestes a conquistar o céu.

Interlúdio | CONCLUÍDAWhere stories live. Discover now