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Australia, Newcastle

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Australia, Newcastle.

Os pingos de chuva batiam com tudo no enorme guarda-chuva aberto em cima da minha cabeça, que papai segurava. Eu não consigo chorar, não consigo sentir nada. E isso já não vem de hoje. Guardo todos os meus sentimentos para mim, desde o minuto que tive meu coração partido, por alguém que pretendo não pensar e não citar mais.

Naquela manhã meu pai chegou em Newcastle, naquela manhã ele me abraçou como sempre fazia e me aninhou em seu colo, como se alguma emoção fosse sair de mim. Mas nada aconteceu.

Perder a minha mãe e meu padrasto em um acidente de carro, não me fez chorar, estar me despedindo deles nesse exato momento não está me fazendo chorar. Minha mãe costumava brincar, dizendo que eu era fria, já que há três anos perdemos a minha avó emprestada. Eu gostava dela, mas não consegui chorar pela sua morte. Mas não posso negar que aquilo me deixou ainda pior. Perder as coisas e as pessoas só me fazem me abrigar ainda mais dentro da escuridão que venho me enfiando a cada mísero segundo. Eu perdi duas pessoas que estavam ao meu lado, desde o momento que cheguei aqui. Eles me amavam e eu os amava, ainda os amo, onde quer que eles estejam, mas, não consigo chorar, sei que vou chorar mais tarde, sei disso. - Mas naquele momento, em pleno ao carregamento de dor ao meu redor, eu não conseguia.

Eles me fizeram amar ainda mais os livros, e o fato de eu querer cursar literatura. Agora, eu não sei o que será de mim. Estou no terceiro ano da faculdade, não conversei com ninguém sobre isso, ninguém mesmo. Não sei onde irei morar novamente. Não faço ideia para onde ir, se devo ir, ou se devo ficar.

Não sei porque não estou igual aos outros, é um momento triste, eu sei disso. Eu deveria estar demonstrando a tristeza que está acumulada em meu peito, que me aperta e me destrói. Mas eu não consigo. A última vez que chorei, eu estava sentada na minha varanda, olhando para as palmas de minhas mãos ensaguentadas. - Hoje mais tarde, sei que as lágrimas vão sair, isso eu tenho certeza.

Eu joguei as duas rosas-brancas em cima dos caixões, e encarei meu pai. Aquilo foi um pedido para eu ir embora. Sair dali, para tomar um banho e lidar com isso no meu quarto, trancada nele.

Maldito Desejo | + 18 Where stories live. Discover now