Capítulo 9: O apoio das massas

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Nós ficamos mais de dois meses compartilhando por meio de qualquer fonte de rede social a convocação ao plenário público na Federal do Rio de Janeiro. Eu, particularmente falando, acreditei que ninguém viria.

Estava terrivelmente enganada. Havia mais de cem mil de pessoas ali. Dentre eles magos e não magos, e entre os magos aqueles que aprenderam a utilizar magia em sala. E os que aprenderam através do ensinamento de Ivan nas comunidades que passou. Um brilhante professor que criou militantes silenciosos.

Fiquei do lado de fora do plenário. Estava exausta de ouvir xingamentos e acusações por conta da posição dos protetores. Aqueles contra a militarização policial esquartejavam minha honra sem devaneios.

Começamos às oito da manhã. Faltava agora, cinco minutos para o meio-dia.

— Um cigarro? — Bruno se prostou na barra de ferro e me ofertou.

— Você sabe que eu não fumo. Mas Obrigada. — O olhei acender o fumo.

— Eu também não fumava, mas o estresse causa essa vontade. Infelizmente.

— Me sinto perdida. — Me abri a Bruno. — A população carioca não confia em mim. Meus aliados tão pouco. Tudo que tenho é o carinho de pessoas que posso contar nos dedos, e a vontade de concertar os problemas causados. Parece que estou levando todos a morte.

— Às vezes o certo a se fazer não significa ter o carinho dos outros... — Ele tragou o cigarro. — Quando meu irmão morreu, eu passei quase um ano me comparando a ele em tudo. Foi assim que voltei a estudar. Só que uma hora você tem que perceber.

Ficamos no silêncio.

— Você não é seu irmão, Roma. E não precisa ser.

O ar ficou arisco. Ele moveu meus cachos com mais força naquele momento. As palavras de Bruno adentraram em mim como algo a mais.

Era a quebra da minha máscara.

Algumas lágrimas começaram a descer. Como se eu finalmente tivesse aceitado. Após a morte de tanta gente, e de tantos familiares. Não era uma responsabilidade minha. Eu só precisava ser o que nasci para ser.

— Você está chorando?

Dei um soco no braço de Bruno. — Não conte isso aos outros. Ou eu acabo com você. — Sorri a ele.

Bruno sorriu de volta. — Você pode até não ter percebido. Mas é uma líder incrível. Nunca vi alguém que fosse capaz de unir tantas tribos assim.

Outros camaradas começaram a abarrotar as nossas costas. Gael inclusive que pressionou seu corpo contra minha bunda, sem total necessidade.

— O que tanto conversam aqui? O plenário está tão legal... — Sasha falou.

— Você me parece... — Bati na mão do Gael. — Larga a minha bunda Gael! — Ele soltou por um segundo, apenas. — Parece que está mentindo.

— Só pareço? — Sasha pegou um lixador de unha e começou a ajeitar as mãos. — Com todo respeito, não poderíamos só ir matar o Heliel?

— Não é tão fácil assim. Até Brasília vão ter Slaafs demais. Além de que não sabemos o nível de poder dos Reis. — Contestei. — Essa ideia de herói nacional é uma piada. As pessoas estão cansadas de confiar a vida delas na mão de alguém.

— Então o que somos?

— Uma liderança. — Respondi. — Os magos mais poderosos que possuem em meio as massas. Com o dever de lidera-las para a libertação.

— Vocês-

— Ezequiel se você falar esquerda mais uma vez eu vou te enfiar a porrada. — Amanda reclamou ao amigo.

O palhaço debochou com os braços e ficou em silêncio. A gente acabou rindo da situação. Dandara pegou um cigarro com Bruno, e começou a fumar também. — Eles confiam em você, Roma. — Ela afirmou. — Pode não parecer, mas apenas estão putos que a situação chegou a esse extremo. Mas confiam em você. A última coisa que pode fazer agora. É trair a confiança do povo.

— Quando vamos nos movimentar? — Gael questionou.

— Logo. Antes preciso fazer duas coisas. — Olhei para Bruno. — Preciso trazer ele para a equipe, ou não vamos ter chance nenhuma. — Olhei para Amanda. — E também vou precisar confrontar o Chris.

Amanda ficou pensativa. Ela olhou para as pessoas que comiam no momento de pausa do plenário.

— Eu entendo o porque ele te amou... — Ela recitou. — Ares. Meu primo. Eu o entendo agora. Essa determinação e sinceridade. Dá vontade a qualquer um que veja, de seguir as suas palavras. Ouça-me, Roma. Se criar um caos com Chris, estará criando uma guerra antes de sair do Rio.

— Eu sei.

— Se o machucá-lo. Morrerá pelas minhas mãos.

— ...Eu sei.

Precisava falar com uma outra pessoa também. Alguém que não precisava ser citado naquele momento. "Vovó..."

DEUSES DE SANGUE - VOLUME 2Where stories live. Discover now