Capítulo 1 - Novo Mundo

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Heliel

Brasília, 6 meses após a morte do presidente.

O clima seco intensificava o calor da manhã em Brasília. Eram apenas nove horas, e já havia consumido minha segunda garrafa de água. "Eu ainda sinto sede. Como tive medo de perder isso." Ainda assim, não me sentia mais "humano." Era algo maior. Olhava meu reflexo no lago do palácio do planalto. "Não me vejo mais como um humano... É uma sensação estranha."

— Narciso morreu do mesmo jeito. — Uma voz meiga surgiu do alta da rampa. De cabelo loiro e rosto leve. Ela usava roupas curtas, e brincos despojados.

— Memória. Por que está nessa forma humana? — Nos encaramos. A Slaaf sorriu.

— Não achou belo? Queria compreender melhor dessa cultura. Viver como algo eterno é enjoativo. — Memória chegou ao meu lado, e se amaldiçoou com o reflexo na água. — O que pensa tanto?

— Se o que estou fazendo é certo...

— Eu sempre fui apaixonada por isso. — Ela empurrou um pouco de poeira na água. — Homens acreditam que tudo é constituído pela moral. As vezes ignoram a materialidade.

— E existe o não-moral?

— Fome não tem moral. Saúde não tem moral. Poder não tem moral. — Memória tocou em meu ombro. — O material serve a alguém. Você só precisa saber a quem quer servir.

— Todos foram a favor do Imperador na Era de vocês?

— Não. Opiniões não são únicas, meu caro Heliel.

— O que o Imperador fazia com elas?

— Agora você é dono do poder dele. Saberá a resposta...

Um tiro surgiu longe de nossa visão. Os ouvidos, claro, notaram o impacto da bala. Algo que parecia ser impossível de acontecer nas proximidades do Planalto. Me teletransportei em direção ao princípio do som, onde cheguei rápido à cena, a memória me seguiu.

A moça estava caída no chão, com a perna ferida pelo projétil. Enquanto o agressor corria em disparada para longe da cena do crime. Caminhei até ela, e a toquei no ponto da ferida. Ela se debateu no chão por conta da dor.

— Calma. Eu estou aqui. — Sorri a ela.

Usei da mana para retirar a bala de dentro do músculo. Em seguida, curei o machucado, de tal maneira que nem parecia que havia sido ferido. Os gritos de dor cessaram com a cura, e o choque estarreceu o semblante. — O-obrigada... Presidente... — Pude vê-la ficar feliz. Mesmo que assustada.

— Quem era aquele homem?

— Meu ex—marido... Ele andava me ameaçando... aí... — O choque começava a trazê-la ao pânico.

— Ele não mais a perturbará. — Afirmei.

Enquanto o atirador havia fugido, eu ativei Tronos em seu pescoço. Minha magia diria se ele era culpado ou não. A cabeça dele havia explodido no beco. A única justiça em que eu podia realmente confiar. Tronos.

As pessoas que viram a cena nas ruas começaram a sair do comércio. Elas me aplaudiam e gritavam por meu nome. Estavam realmente felizes pela minha aparição. "Para quem eu quero servir".

— Memória. Obrigado. — Olhei para a Slaaf. — Existem pessoas ao nosso redor que passariam a vida sem ter uma casa. Que continuariam pagando por comida. Um povo fadado a morrer para manter a riqueza de algumas famílias.

— Essas pessoas não vão a favor do seu modo de governar Heliel. Provavelmente, você criou inimigos poderosos na busca de proteger tais humanos. Inimigos mundiais.

— Eu estou disposto a matá-los. — Acenei de volta aos trabalhadores. — Pelo meu império, eu não me importo de ter que destruir o resto do mundo. 

DEUSES DE SANGUE - VOLUME 2Where stories live. Discover now