Capítulo 2 - Plano de Ataque

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Roma

As cenas do passado ainda ardiam forte em minha mente. A guerra no Complexo da Maré. No aterro do Flamengo. Conseguia-me recordar de flashs claros e cenas onde a morte e o diabo me abraçaram juntos. Os corpos, o desastre. A destruição. Não houveram vencedores naquele lugar. — A não ser Heliel.

A última conversa que tive com meu irmão, Caleb. Foi talvez a mais traumática que tive de ter durante nosso tempo de amizade e cumplicidade. Nunca imaginei ser tão traída. Agora não importava mais, já havia perdido pessoas.

Um barulho fino e contínuo começou a atrapalhar meus pensamentos. Até que um toque no ombro me tirou do transe, e me fez voltar a realidade. — Toma! — Gael me ofertou o chá. Ele sorriu para mim. Tentava me animar o mínimo que fosse.

— Chá? — Peguei a caneca da mão dele. — Dona Rosângela realmente mudou você. — Ri da cara de irritado dele.

— Aquela mulher me ensinou a ser mais humano... — Ele pegou uma caneca na mesinha, e sentou-se no sofá. — E a fazer chá também.

— Você não sabia fazer chá? — Henrique o contestou.

— Agora todo mundo nasce sabendo fazer tudo? — Ele apontou para Henrique, que estava sentado ao lado dele. — Você sabe fazer lagosta?

— Sei.

— Sabe? — Ficou surpreso. — Por que então não faz aqui hein!? Talvez amanhã no almoço! Seu sabichão.

Era dessa forma que Gael pedia a alguém para cozinhar algo que ele gostava. Admito que a cena me tirou algumas risadas internas. Não havia tempo ruim com ele. Agora, parei para pensar. De nós era sempre o mais eloquente.

Olhei para o canto. Sentado um pouco mais distante, acredito que ele se sentiu desconfortável com o novo ambiente.

— Bruno. — O chamei. — Tudo bem?

— Tá sim... Só é estranho... — Olhava para a sala, e fugia de me encarar. — Isso aqui não é lugar para gente do meu tipo.

— Você salvou vidas naquele lugar. Assim como salvou no ataque ao Aterro. — O respondi. — Aqui é um lugar onde pessoas com esse propósito ficam. É sua casa, se quiser.

— O...obrigado... — Ficou envergonhado.

— Aconteceu muita coisa enquanto eu estava fora. — Henrique olhou para ele. — Heliel nos traiu. Caleb, Ares, e Ruan morreram. Cadê a Isadora?

— Ela foi para Alemanha. — Respondi. — Heliel destruiu as duas pernas dela. Está se recuperando numa clínica de lá.

Henrique deixou a caneca de lado e foi até a geladeira. Lá retirou uma latinha de cerveja. Não estava confortável em tomar algo que lhe trouxesse sonolência num momento daqueles.

Derrota. Essa era a sensação. Só que desde o enterro no Cemitério do Caju, eu já havia prometido a mim mesma. — O Heliel vai pagar pelo que fez. — Sem querer, quebrei a caneca de chá na mão. Estava desatenta outra vez, molhei o sofá sem querer.

— Henrique, você disse que viajou para o Egito atrás de algo a respeito do olho do imperador. — Gael levantou para pegar um pano. — O que achou?

— Na época que eu estava estudando sobre o olho acabei por encontrar mais coisas desagradáveis do que o oposto. — Ele abriu a geladeira, e me ofertou uma cerveja.

— Tipo? — Peguei a bebida.

— O olho do imperador é um portal de universos. Por isso o usuário é capaz de causar tanta destruição. — Henrique deu um gole violento. — Se Heliel for capaz de se conectar com o universo puro da magia, ele será capaz de aprender ou roubar a magia dos magos antigos. Pode ser um perigo nacional no momento, mas o mundo inteiro deve enxergá-lo como uma ameaça global.

— Universo puro? — Bruno pontuou. — Eu ouvia Ivan falar sobre ele, mas achava que era baboseira, tipo terra plana.

— A terra plana é. O universo puro é real. Por algum motivo as almas de magos poderosos vão para esse mundo. Claro, é o que os estudos contam... — Henrique respondeu. — O segundo ponto é que a respeito do selo.

— Os olhos de cópia e anulação? — Perguntei. — Existe uma forma de recriá-los?

Henrique balançou a cabeça em negação. — Não de uma maneira boa. Eu estou com os olhos que estavam no selo antigo do imperador. Eles estão lá em casa. O problema é o ritual.

— Têm um ritual? — Gael, ao terminar de limpar, pegou uma cerveja também. Jogou outra para o Bruno.

— Por que vocês acham que o Imperador é tão raivoso com a humanidade?

— Ele é um Slaaf. Isso não é óbvio!?

— Não é isso Bruno. — Contestei. — Já estudamos a antiga guerra no colégio. O imperador era um Slaaf que regia um continente onde Slaafs e magos conviviam. A África...

— Na época, milhares de povoados da ponta do Egito até os limites do Tanzânia foram dizimados.

— Mas isso foi em detrimento a guerra, não? — As coisas começaram a se encaixar na minha cabeça.

— O ritual... Para que os olhos tivessem força o suficiente para selar o imperador. Os magos usaram as vidas protegidas pelo Imperador. Milhares de almas, para fortalecerem os dois olhos. — Henrique comentou, cabisbaixo. — Os olhos que peguei, estão, novamente, fracos.

O silêncio pairou pela sala, onde não tínhamos forças de comentar nada a respeito.

— Existe algo de bom? — Bruno quebrou o gelo. — Você não pode ter viajado por anos só para deixar minha vida mais triste.

Henrique soltou um sorriso leve. — Só um ponto baixo. Na antiga guerra, os magos que selaram o Imperador atacaram de dia. Ele tinha constante troca ambivalente de forças com a mãe dele. Então a mãe dele era mais poderosa de dia, e esse poder retornava a ele à noite.

— Isso deve ocorrer com Heliel... — Terminei a charada.

— É, o problema é que a mãe dele não devia ser uma militar treinada de guerra. — Gael tinha razão.

— Vamos ter que pedir ajuda de mais gente então. Muita gente...

— O Rei e a Dandara? — Gael se virou para Bruno.

— Eles assumiram a segurança do Complexo inteiro. Estão praticamente incomunicáveis. — Bruno respondeu. — Acho que eles vão reclamar bastante.

— Mas podemos tentar... — Gael afirmou.

Um toque de campainha. Havia alguém do lado de fora do apartamento. Todos nós ficamos aflitos. Preparados para algum combate iminente. Exceto Henrique, que caminhou em direção a porta. — Relaxem... É a minha turma.

Ele abriu a porta, e a primeira pessoa que a ultrapassou era uma mulher de longos cabelos loiros. Vestida com uma roupa totalmente preta. O braço esquerdo dela, era uma mana vermelha.

— Você é a Roma Grozny, estou correta? — Veio em minha direção. Ela entrou na casa. O salto dela fazia um som delicado a cada passo firme que dava. Ao se aproximar, estendeu a mão.

— Quem é você?

— Me chamo Diana Alvinegro.Seu irmão costumava me chamar de Braço do Demônio. — Sorriu. — Sou aantiga líder dos magos federais.

DEUSES DE SANGUE - VOLUME 2Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz