CAPÍTULO XI

35 2 0
                                    

A respiração de Arlen havia se cessado, as tentativas frustradas de revive-lo uma a uma se esgotaram...

Fico de joelhos com a mão sob a boca e com lágrimas escorrendo em minha face, não senti o gosto da vitória nem mesmo o gosto amargo da vingança, provei do desespero e da tristeza que não conseguia explicar, cada segundo que se passava era esmagadoramente terrível, os olhos marejados de todos os membros ao ver seu líder caído me partiu o coração.

- Está feliz agora? - Caliandra perguntou com a voz embargada e trêmula.

- Eu... - observo o cabelo negro dele caído sobre seu rosto sem nenhum resquício de vida.

- Eu perguntei se você está feliz sua puta. - ela estava assustadora, a dor era evidente em seus olhos.

- Eu pensei que estaria...

- Agora estamos a merecer do mundo, não temos ninguém para nos proteger, você alguma vez pensou em algo além de si mesma? Pensou em mim? Sabe que tenho que pagar aqueles miseráveis ou minha família vai pagar em meu lugar, pensou nisso? Pensou em Aurean? Pelo menos se lembrou que ele tem uma filha para sustentar?

Meu Deus... me esqueci completamente da filha de Aurean.

- Você não pensa em ninguém além de si mesma. - ela respirou fundo - Vamos, temos que achar alguma bruxa.

- Elas não vão nos ajudar, sabe que todas nos odeiam. - Kotta diz.

- Eu vou arriscar. Prefiro fazer um acordo com elas do que deixar meu líder morto porque uma egoísta o matou. - engulo seco.

- Vou com você. - digo me levantando.

- Não quero você perto de mim nem de Arlen. - naquele momento percebi que seu ódio por mim será eterno. - Aurean tranque-a no quarto dela vigie, Kotta você vem comigo.

Aurean me agarra pelo braço, escorrego enquanto me debato implorando para ir com eles, tento tirar a mão dele do meu pulso usando minhas unhas mas aqueles arranhões eram só arranhões para ele, parecia que o sangue que escorria não eram nada. Implorei até minha garganta arder para ajudar, Aurean me jogou para dentro do quarto com força, o impacto das minhas costelas com o chão me fez perder o ar e enquanto tentei me recuperar ouço a porta sendo trancada.

Começo a socar a porta de madeira tentando fazê-la quebrar, a medida que parecia que começaria a ceder ela congelou fazendo a tarefa ser quase impossível.

- Aurean - grito - Aurean me tira daqui - eu sabia que ele estava bem ao lado - Aurean eu preciso ajudar.

- Já fez o bastante. - ele gritou de volta.

Naquele momento percebi que me importava o suficiente com Arlen, coisa que nunca esperei sentir. Me arrastei para a bancada e pensei em um antídoto, a alguns dias atrás Caliandra havia me dado um livro sobre plantas venenosas, página por página li desesperada em busca de algo que pudesse curar, mas só havia explicações sobre como preparar os venenos.

Levo as mãos em punho aos meus cabelos e engulo o choro enquanto procuro em minha cabeça algum ensinamento, alguma ideia, qualquer coisa que me ajudasse a salvá-lo. Caliandra estava certa, não pensei em ninguém além de mim mesma... agora pessoas corriam perigo por um ato egoísta meu.

Pensei na filha de Aurean, aquela doce lobinha, a única que o tirava do estado de um completo psicopata. Agora a pobrezinha pode passar fome, e a família de Caliandra pode morrer...

Tudo o que eu queria era voltar no tempo e consertar aquilo.

- Deuses me ajudem. - clamei, mas não obtive resposta. Até os deuses viraram as costas para mim.

Me sento no chão me encostando na bancada deixando minhas mãos caírem para o lado, observo minhas pernas por um momento, desde que passei a morar com os Yamais tenho comido um pouco mais e recuperei meu peso, Arlen se preocupava que eu comesse bem e estivesse sempre saudável, até mesmo minhas bochechas voltaram a ser rosadas.

Olho para o lado e vejo um punhado de carvão vegetal e tenho a ideia de misturar com um pouco de leite, não sei ao certo de onde veio essa ideia mas sinto que preciso tentar... pior que está não fica.

Pego meu pilão de madeira e começo a deixar o carvão em uma espécie de farinha, meus braços doíam mas não parei de triturar.

- O que você está fazendo? - Aurean diz abrindo a porta.

- Antídoto. - respondo sem tirar os olhos do pilão.

- Não. - ignoro - Você não vai dar mais nada para ele.

- Aurean - paro por um instante - Você tem uma filha para alimentar e sabe que o dinheiro vem através dele. - ele cruza os braços - Eu sei que errei, me deixe consertar isso.

Ele pensa por um instante que mais me pareceu uma eternidade.

- Terá apenas uma tentativa.

- É tudo o que preciso.

- No que posso ajudar? - sua voz estava fria como gelo.

- Preciso de leite.

- Leite? - ele questiona.

- Leite. De vaca.

- Se estiver tentando matar...

- Eu quero salvá-lo. - interrompo.

- Não confio em você. - ele diz saindo do quarto.

Não espero que confiem em mim, não depois do que fiz, mas quero me redimir e quem sabe fazer disso minha cartada para voltar para Ronan.

O antídoto estava pronto, Aurean me ajudou a levantar um pouco a cabeça de Arlen para que o antídoto  escorresse por sua garganta só não contava que Caliandra chegaria naquele exato momento.

- Eu disse para deixar ela trancada. - ele diz dando um chute em Aurean fazendo ele ir parar do outro lado.

- Espere um pouco - tento dizer enquanto ela caminha em minha direção segurando duas espadas longas e reluzentes.

- Você... - ela rosnou.

- Caliandra. - a voz da bruxa a fez congelar - Deixe a garota em paz.

- Ela é a responsável. - ela berrou.

- Pelo que estou vendo, preparou um antídoto - a bruxa diz direcionado a mim. Faço que sim com a cabeça - Bom...

- Faça seu trabalho. - Caliandra diz colocando a espada nas costas da bruxa.

Nunca tinha visto uma bruxa de perto, esperava uma mulher maltrapilha e enrugada, não uma que se assemelha a uma deusa. Ela pousa seus dedos sobre a barriga de Arlen e depois sorri.

- Ele ficará bem graças a você. - ela sorri mostrando longas presas que não combinam com o sorriso doce que tem.

- Graças a ela? É graças a ela que ele está morto. - Caliandra diz indignada.

- Mas ele vai viver, ele mesmo sabe. - ela afasta uma mecha do seu longo cabelo preto. Fico maravilhada com a cor da sua pele: azul escuro - Arlen nunca esteve de fato morto, mas claro, levará alguns dias para que ele acorde e creio que irão honrar o código de ética dos assassinos.

- Não. - Caliandra diz friamente.

- Não? - a bruxa diz de modo perverso - Ela conhece o código?

- Não e nem precisa.

- Pois deixe que eu mesma conte a ela  - ela se vira para mim - Como matou o líder dos assassinos, você se tornou a nova líder dos Yamais. Espero que cuide bem da guilda minha jovem.

- Líder? - arregalo os olhos.

- Você agora é a maior assassina de Eldar, espero que esteja feliz com sua conquista.

"Mas que merda é essa?"

A BATALHA FINALWhere stories live. Discover now