CAPÍTULO VI

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Encarei a filhote de lobisomem pular nos braços Aurean boquiaberta, toda a guilda se juntou em um abraço coletivo como se não tivessem matado um elfo a poucas horas.

- Estamos tão felizes em te ver lobinha. - Caliandra diz apertando o nariz dela.

- Senti saudades de vocês. - o rabinho balançava de um lado para o outro.

- Talula - Aurean diz pegando a filhote no colo - Você precisa conhecer uma pessoa. Qual era mesmo o seu pedido do ano passado?

Os olhinhos da loba brilharam e as mãozinhas se juntaram na sua boca enquanto ela gritava desesperadamente, se debatendo no colo de Arlen.

- Fadinha. Fadinha. Fadinha. Fadinha.

- Talia. - Arlen me chama. Saio de trás da parede um pouco encolhida com as asas retraidas. - Talula essa é Talia, metade elfo, metade fada e humana também.

- Uau! - ela exclamou.

- Oi pequena. - me inclino em sua direção e deixo minhas asas se libertarem.

Os pequenos olhinhos de Talula brilharam ao ver minhas asas douradas brilhantes estendidas para ela. Seu dedinho peludo se levanta para tocar mas ao ver a minúscula garra na ponta retraio as asas imediatamente, não estava nem um pouco a fim de sentir a dor das asas machucadas.

- Você tem asas lindas. - ela diz.

Olho para Arlen de modo incompreensível. Ainda não entendi como Aurean, um psicopata rude e sem coração consegue ser um pai para uma lobinha tão doce.

Arlen fecha os olhos e Caliandra acena com a cabeça logo após pega a filhote pela mão.

- Quer ir no lago comigo Talu? - Ela diz da forma mais doce possível.

- Siiiiiiiim. - ela corre para porta sem esperar por Caliandra.

Aurean as segue me deixando a sós com Arlen e Kota. Olhei para os dois e cruzei os braços esperando que abrissem a boca e revelassem alguma coisa, mas Arlen apenas se sentou e se serviu de chá de hortelã e Kota foi a dispensa comer pão doce que eu havia feito.

- Vocês vão me falar algo ou não? - eles permanecem em silêncio - Ou vou ter que contar para pequena Talu que todos aqui são assassinos cruéis e eu sou uma prisioneira.

- Não. - gritaram ao mesmo tempo.

Dou um sorriso satisfeito.

- Tatula vive conosco desde que nasceu. - Arlen diz - Aurean tinha um...

- Trabalho eu suponho.

- Sim... Um trabalho. Seu trabalho era matar um casal de lobisomens, não vou entrar em detalhes mas depois do serviço finalizado ele percebeu que a loba estava grávida.

- Ele abriu a barriga da loba e salvou a filhote - Kota completa a história - Desde então ele cuida de Talula como sua filha, esperando ela ter idade suficiente para contar a verdade e deixar que a filha o odeie por matar seus verdadeiro pais.

- Mas... - paro e penso - Quem cuida dela?

- Uma lobisomem gentil, Aurean paga as despesas todo mês. Talula pensa que ela é sua mãe, e também pensa que Aurean não vive com as duas porque não se amam mais. - Kota responde.

- Tão pequena... e já com uma história tão triste.

- Mas ao menos está viva. - após dizer isso Kota sai da cozinha.

Arlen apenas continua bebendo seu chá, olhando pela janela as árvores balançando calmamente. Seus olhos carmim expressavam tristeza e insegurança embora seu rosto mostrasse o monstro que ele era de verdade. Os olhos nunca mentem.

- Está preocupado com alguma coisa? - pergunto fazendo uma cadeira se afastar da mesa para me sentar.

- Não. - foi a única coisa que ele disse, então bebeu mais chá.

- Eu sempre fiz chá e você nunca bebeu uma gota sequer. O que me leva a pensar que só bebe quando está pensativo ou preocupado.

Ele sorri mostrando as presinhas brancas afiadas e longas.

- Que humana inteligente. - por mais que eu o odiasse, gostava quando ele me chamava do que eu realmente era: humana. - Não sei se você precisa saber.

- Tem razão, não preciso. - mordo um pedaço de pão doce que Kota havia deixado.

- Preocupo com o dia em que Talula vai descobrir que Aurean matou seus pais. Me preocupo com o dia em que Kota vá renunciar a guilda para que Caliandra fique segura. Me preocupo com o dia em que Caliandra não puder mais amar Krinnos e terá que viver como assassina para sempre, e me preocupo com você.

- Comigo? - ergo os olhos.

- De todos aqui é com você que eu me preocupo mais. Tenho que manter você viva, segura e inteira, sei que é forte e corajosa e que não vai se quebrar tão facilmente mas me preocupo com o dia em que m... Cedrick vira atrás de você para matá-la.

Senti pena dele naquele momento, esqueci que foi ele que me sequestrou e me afastou dos meus amigos e do meu noivo, senti pena dele. Parte de mim tentou se convencer de que não era culpa dele, afinal estava apenas trabalhando para alguém.

- Acho melhor eu ir ver se a Talula quer dar um passeio. - Arlen diz se levantando - O chá estava ótimo Tali.

Apenas sorri.

- Não quer vir? Hoje é um dos poucos dias em que não somos monstros assassinos, quero que veja isto também.

- Boa sorte para tirar essa ideia da minha cabeça. - me levanto e o acompanho.

Talula subia em uma enorme pedra pronta para pular no lago que se formava um pouco abaixo, antes que ela saltasse corri e subi junto com ela. Seus olhos brilharam ao me ver ao sei lado.

- Vai pular comigo? - seu rabinho balançava de um lado para outro.

- Claro, hoje está muito quente. Mereço um mergulho.

Pego a lobinha nos braços mas faço algo que ela não espera, levanto voo e depois despenco jogando água em todos da guilda.

- Talia!!!- Caliandra grita.

- Vem nadar - mesmo tendo revirado os olhos ela pula na água pegando a lobinha nos braços.

Kota surge logo atrás dando um pulo fantástico, Aurean se mantém apenas na borda mesmo com Talula gritando para que ele viesse brincar.

- Tio Arlen vem também. - Ela pede.

- Estou bem aqui pequena.

- Agora. - seu tom de voz mostrava o quão perigosa ela se tornaria quando crescer.

Mas nada se comparava a ver Arlen, o maior assassino de Eldar obedecer um filhote.

Talula nadou e subiu nos ombros de Arlen que brincou com ela até se cansar e pedir algo para comer. Aurean a tirou da água e a alimentou com um bife de algo que não reconheci e nem sei se quero saber o que ela comia.

- Ora, ora. - digo rindo para Arlen.

- O que?

- O maior assassino obedece a uma filhote.

- Com ciúmes princesa? - sua voz é sedutora mas eu reviro os olhos - Não se preocupe, se quiser que eu lhe obedeça é só mandar.

Ele afasta uma mecha de cabelo do meu rosto e seus olhos encaram minha boca.

- Você é um babaca sabia?

- Sim eu sei - Ele chega um pouco mais perto - Mas posso ser ainda mais.

A BATALHA FINALWhere stories live. Discover now