Assédio

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O ônibus chegou e Zuri entrou. Como não havia lugar para se sentar, ficou de pé ao lado de uma barra de apoio vertical, onde encostou a cabeça. Além dos fantasmas do passado, o presente também não estava sendo tão gentil. Ao contrário, incomodava muito. Estava desempregada e as contas não paravam de chegar. Mesmo com os bicos que fazia, as coisas estavam muito difíceis.
Enquanto viajava nos problemas e em alguma remota possibilidade de solução para eles, de repente, Zuri se assustou com um movimento atrás de si. Um homem, mais alto que ela, aproximou-se, segurou, com os dois braços, na barra de cima e começou a se encostar, quase como se fosse abraçá-la. A aproximação foi tanta que Zuri sentiu o volume da calça denunciando a excitação. Virou-se e, sem pensar duas vezes, começou a gritar: "Seu filho da puta! O que é que você pensa que está fazendo?" E o homem, com o rosto virado para o outro lado, a princípio, fez que não era com ele, mas em seguida, tombou a cabeça lentamente e, em um tom cínico, indagou: "Tá falando comigo, moça?" Mais que depressa, Zuri redarguiu: "E por acaso tem algum outro tarado aqui? Gente, olha a calça dele! Ele tava roçando em mim! Motorista! Toca pra delegacia!" As outras pessoas do ônibus começaram a gritar e o motorista parou no ponto para saber o que estava acontecendo, mas abriu a porta para que outros passageiros descessem e, com isso, o abusador aproveitou e fugiu. E assim, Zuri terminou de chegar em casa com mais um dissabor para a coleção.
Em meio a todas as preocupações, uma mensagem no telefone "vem pra cá" colocou um sorriso naquele rosto acabrunhado. Era Marçal, um amigo com quem Zuri tinha uma relação especial. As crianças estavam na escola, então não haveria grandes problemas. "Daqui a pouco chego aí" foi a resposta.
O apartamento de Marçal não ficava tão próximo assim,  mas como o dinheiro não era algo que dava o ar da graça tão frequentemente quanto Zuri gostaria, foi a pé. Alguns minutos e muitas dores nos pés depois, já estava deitada no colo do amigo, contando-lhe a desventura do ônibus.

Zuri Where stories live. Discover now