Era atardezinha em Camposul quando nuvens negras informavam a chegada de uma tempestade. Escureceu antes do tempo previsto, e uma ventania invadiu a cidade, fazendo árvores tremerem de um lado ao outro, e vestígios de construções leves eram levadas longe.
Clarisse tentou fechar a janela da sua pequena casa, mas a madeira era leve, e já estava acabada. Tentar fechar foi eu vão, e o vento forte invadiu a casinha de Clarosse jogando longe seus cestos e derrubando um jarrinho de flores que tinha na mesa. As telhas tremiam por cima dela, e Clarisse se colocou a rezar.
- Meu Deus, me ajuda! Eu não posso ficar sem a minha casa... Me proteja!
Dara trancou com pedaços de madeiras em ferro as portas da pequena casa dos avós. Apesar de pequena, era segura, e os três se abraçaram como forma de proteção.
- Eu nunca vi uma tempestade dessas... Se vissem o tempo feio que está lá fora!
- Vimos sim, minha filha! Irei rezar para que isso acabe logo!
- Vovó... O Raimundo está protegido?
- Seu avô já colocou o bicho no lugar dele. Mas que Deus proteja os desamparados nesse momento!
- O vento parece que está uivando... É esquisito!
- Vem filha, vem rezar comigo pra que esse tempo vá para bem longe daqui!Álvaro terminou de preparar o cavalo e foi ter com a dona Adelaide, Baronesa de Assunção.
- Obrigado por tudo, senhora!
- Álvaro, estás louco? Não estás vendo esse tempo?
- É melhor ainda! Ninguém imaginaria uma fuga em uma tempestade.
- Álvaro, fique, espete tudo isso passar!
- Não posso deixar a Bela esperando, senhora. Devo ir! Mas antes visitarei uma amiga, Clarisse... Iria passar por lá logo depois de buscar a Bela, mas quero sair do convento direto para a estrada.
- Poupe-me dos detalhes! Não quero ser testemunha disto mais do que já sou. Tenha muita boa sorte, rapaz! Que Deus e Nossa Senhora os protejam!
- Amém dona Adelaide... Amém! Fique com eles a senhora também.
- Guardou bem o dinheiro que te dei?
- Sim senhora!
- Agora vá! Mas se por acaso desistir e quiser voltar. As portas estarão abertas para você! - Ela apenas sorriu e saiu para seus aposentos. Álvaro ficou pensativo.Na agitação para tirar coisas da área do convento, Bela aproveitou-se para sair mansinha pela lateral do portão, e esperou que todas as irmãs entrassem, escondendo-se debaixo da árvore, mas o vento levou a chuva mais forte e rápido do que ela imaginava.
Na casa grande, Magda tentava conter a angústia diante da tempestade que chegava com fúria. Benjamim estava impressionado e Benício desceu as escadas com agitação.
- Estou com medo! O céu está horrível!
- Acalme-se, querido! Felizmente moramos em um lar seguro.
- É, mas dá para ouvir o uivo do vento.
- Benício é só uma tempestade, sim? Nada de mais. - Ela não queria demonstrar o seu susto.
- Se pelo menos a Bela estivesse aqui... Com certeza ela mandaria o meu medo para bem longe!- Tenho certeza que Bela está pensando em nós nesse momento! Vem, Benício... Vamos jogar algo em meu quarto.
Benjamim subiu com o irmão caçula enquanto Alfredo descia as escadas olhando os lados.
YOU ARE READING
O Amor e o Tempo
Historical FictionNo século XIX, em Camposul (cidade fictícia), Isabela Cavalcanti Grecco usa um véu cobrindo seu rosto por 18 anos, para cumprir uma promessa feita pelos pais, que a dedicaram a Nossa Senhora, e a igreja católica, para agradecer a vida de prosperidad...