Capítulo catorze

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Dante

      Esqueci meus remédios para dormir e passei a noite em branco. Amber ainda dorme num sono profundo e invejável enquanto controlo a sua respiração. Faço o exercício de pensar nas coisas que consigo ouvir. Há o som dos pássaros lá fora e a respiração de Amber.
       Seu rosto está virado para o meu lado, tão linda e perfeita que parece um anjo. Acho que devia contar a ela sobre o meu problema, já que é minha namorada falsa, ela merece saber. Meus pais vão achar estranho que a minha namorada não saiba das minhas crises de ansiedade.
       Amber acorda e boceja, colocando-se sentada na cama. Parece que dormiu como um bebé, pelo menos um de nós teve uma boa noite. Estava mais preocupado em levar os resultados dos meus exames de sangue para mostrar para Amber, que esqueci dos remédios para dormir. Voltei naqueles dias de merda, não devia ter esquecido.
       — Bom dia.
      Tento sorrir para ela. — Bom dia.
      Ela abre as paredes de vidro. E olha que o meu rosto. — Você está com uma cara péssima. Não dormiu?
      — Não consegui. Estar perto de você é demais para mim. — Digo. Vou parecer um morto-vivo durante o resto do dia. Não posso ingerir cafeína, na minha condição não é muito recomendável.
      — Você está bem? — inspeciona o meu rosto.
      — Estou.
      — Eu vou tomar um banho. Se calhar você também precisa. Ou pode dormir.
      — Não quero dormir quando você acabou de me convidar para tomar banho com você.
     — Não coloca palavras na minha boca. Você vai tomar banho sozinho. E não ouse espreitar. — Ela estreita os olhos para mim.
      Amber desce da cama, e admiro seu pijama preto, que é um macacão de cetim curto e sexy rendado nas costas. Ela vai tomar banho e demora quase uma eternidade, mas deixo passar até porque acordamos cedo. Espero até que ela sai para que eu possa fazer a minha higiene também.
       Tenho tentado me comportar porque Amber pediu, mas no fundo queria muito beijá-la, tocá-la, espreitar enquanto tomava banho. Eu não consigo deixar de ser um idiota, no entanto consigo controlar o meu lado idiota. E ontem ela me deixou dormir na cama, se eu continuar num bom caminho posso conseguir muito mais.
      Amber já está vestida quando saio do banho. Usa um suéter rosa e saia preta curta com chinelos. Nada de botas de cano alto ou batom preto, apenas a saia curta que mostra a beleza das suas pernas. Ela passa creme no rosto e depois protetor solar enquanto eu visto as minhas roupas.
      Quando termino de vestir minha camiseta preta e calças jeans, vejo ela vir até mim e colocar umas coisas estranhas debaixo dos meus olhos e depois passar cremes no meu rosto. Eu deixo e acho adoravel vê-la esticar seus pés para alcançar o meu rosto.
       — É para melhorar o seu rosto. — Responde o que queria perguntar. — Você está péssimo.
       — Você não vai fazer maquiagem?
       — Eu vou ficar em casa, qual é a necessidade?
       — Eu gosto. — Minha mão descansa na sua cintura enquanto ela termina de passar os cremes e protetores.
       — Eu também gosto de muita coisa, mas não posso ter. — Sorri.
       — Está bem. Viu como nós nos damos bem?
       Amber se afasta e vai para o quarto. Fazemos tudo no closet porque o quarto foi desenhado para ter apenas a cama. Eu a sigo e vejo enquanto coloca os alargadores nas orelhas, quando ela os tira, não se nota que ela os usa.
       — Você quer esconder as tatuagens? — pergunto.
       Amber vira para mim. — Por que acha isso? Quer que eu troque de roupa? — cruza os braços. Eu não sei porquê, mas adoro quando faz isso. Ela o faz de um jeito diferente.
      — Não. Era só uma pergunta.
      — Melhor descermos. — Ela passa por mim para sair do quarto. Suspiro e vou atrás dela, depois de tirar o que ela colocou debaixo dos meus olhos. Deve ser máscara para olheiras.
       Vamos de mãos dadas até a sala de jantar, onde todos nos esperam, quer dizer, todos não, Ivan ainda não desceu. Sua noiva está aqui, com seu vestido azul e sorriso gigantesco. Meus pais também nos recebem com um sorriso quando sentamos na mesa.
      — Bom dia. — Digo.
      — Bom dia. — Amber sorri e senta ao meu lado. O cheiro dela é maravilhoso, nem dá para me concentrar na comida.
     — Bom dia. Filho, está bem? Não conseguiu dormir? — minha mãe pergunta. Aparentemente as máscaras da Amber não ajudaram tanto.
      — Não. Mas depois resolvo isso. — Digo.
      Começamos a devorar a comida, e Ivan vem sentar na mesa com o rosto sério. Eu acho que ele está assim desde que eu cheguei, mas como posso saber? Talvez seja a preocupação do casamento.
      — Bom dia.
      — Como você está, filho? — meu pai pergunta ao seu filho preferido.
      — Bem, só não dormi muito bem. — Ele serve café numa chávena.
      Ivan não tem transtorno de ansiedade, apenas eu herdei isso do meu pai. Se calhar deve ser mesmo do casamento.
      — Vocês os dois. — Zoey diz. — Eu posso fazer chá de camomila para vocês antes de dormir.
      — Seria bom, querida. — minha mãe sorri para a verdadeira nora.
      Ivan olha para Amber de um jeito estranho, depois bebe seu café e come uma torrada. Imagino o que ele deve pensar, que Amber é estranha, deve se perguntar porquê tem muitas tatuagens e essas coisas, o mesmo que o meu pai deve pensar porque eles não são muito diferentes.
       — Então, ouvi dizer que haverá casamento. — Amber diz.
      Zoey sorri. — Sim. — Mostra o anel. — Acabamos de nos tornar noivos.
      — Oh, quanto tempo? — Amber pergunta.
      — Quase dois meses. — Toca no ombro do meu irmão. — Foi muito romântico.
      Amber bebe um pouco de sumo de laranja. — Imagino.
      — Eu quero saber como você convenceu o Dante a ter um relacionamento, Amber. — minha mãe pergunta.
      — Porque ela faz o meu tipo. — Respondo.
      Amber sorri. — Bem, Dante não é fácil de lidar, nem eu sei como consegui.
      Rimos, exceto meu pai e Ivan. Meu pai olha para Amber. — Eu estranhei quando Dante disse que tinha uma namorada. E está tudo bem para você saber que ele tem uma boate onde tem strippers e que ele frequenta todos os dias?
        Se ele não tocasse nesse ponto, não seria ele.
       — Quando duas pessoas estão num relacionamento é preciso haver confiança. Eu confio no Dante.
      Pareceu tão real, que tocou o meu coração.
       — E o que acha dessa forma de ganhar dinheiro? — meu pai pergunta.
       — Bem, a única forma que condeno é através de atos ilegais. Dante não cometeu nenhum crime, então não vejo qual é o problema. — Amber dá as respostas certas, e olha que nem tivemos tempo de pensar nessas coisas.
      Sorrio para ela. — Entendem porquê ela é perfeita?
      Amber olha para mim também. — Não exagera, amor. — o sorriso não alcança seus olhos.
      Ouvir ela me chamar de amor, me faz querer que isso seja real.
      Que porra!
      O que é isso? Eu não faço essas coisas.
      — Pode não ser ilegal, mas é imoral. — Ivan responde.
      — O que eu acho imoral é traição. — Amber defende-me. Parece que não gostou do meu irmão. — Não podemos comparar um traidor com o Dante, que ajuda algumas mulheres empregando-as.
       — Que tipo de emprego? Dançar nuas na frente de vários homens famintos e estupradores? — Ivan bufa.
       — Está vendo as coisas na perspectiva errada. As strippers são julgadas por todos, pode não ser uma profissão tão decente, mas é o jeito que elas encontraram de ganhar dinheiro.
       — Bem, essa profissão é perigosa. — Ivan insiste. — Quantas strippers não são estupradas? Acha que dançar nua na frente de predadores não irá causar nenhuma reação neles? Acha certo o que o Dante faz? Sem contar que promove a prostituição.
       Amber já está impaciente. — As pessoas dizem o que elas querem dizer e fazem o que querem fazer. Se é isso que você acha, respeito a sua opinião, só não acho que deveriam fazer Dante de vilão até porque ele paga homens para proteger aquelas mulheres.
        — Amber, está tudo bem. — Toco o seu ombro. Eu prefiro nem tocar no assunto porque quando meu pai e meu irmão me atacam, parecem ter todas as munições. — Eu sou imoral e egoísta, não sou o mocinho, já aceitei, está tudo bem.
      — E vai se fazer de vítima! — meu pai acena em negação.
      Minha mãe me dá um sinal para deixar o assunto morrer. Se continuarmos com isso iremos brigar até amanhã e não estou aqui para isso. Quero aproveitar as minhas férias.
       Ninguém diz mais nada sobre o que eu faço e terminamos a nossa refeição.

                                         ****

      Mostro a casa para Amber porque ontem ela estranhamente quis saber da minha história de infância. Tem feito o papel de namorada muito bem, nem me reconheço. Talvez seja porque uma parte de mim tem medo do que Amber irá pedir quando o nosso acordo terminar.
      A casa em Orlando, meus pais compraram depois de todos os problemas que tive. Era uma época bastante sensível para mim quando Emily morreu, eu passei um ano aqui e tive acompanhado psicólogo. Ainda bem que meus pais estiveram para mim porque eu poderia me tornar no que Luke é hoje.
      Eu devia ter estado para ele também.
      Arrependo-me disso todos os dias. Mesmo que me culpasse, mesmo que me afastasse eu não devia ter ido embora. Mas é bastante complicado porque eu não estava bem, como poderia ajudar se eu também precisava de ajuda?
      Paramos na frente da piscina e Amber fica na minha frente com braços cruzados. Ela é linda de todas as formas, mas acho que não consigo me acostumar com esse rosto angelical no corpo de uma durona.
      — Você me defendeu porque é o que você acha ou porque tinha que parecer real? — pergunto.
      Coloca uma mecha atrás da orelha. — É o que eu penso. Seu pai não sabe do Inferno, não é?
      — Ele sabe que o Inferno é para onde eu vou. — brinco. — Não. Ele não sabe da existência do Inferno.
      — Por que não contou?
      — Porque não importa.
      — Você não tem uma boa relação com eles, não é? — pergunta o óbvio.
      — É verdade.
      — Porque você trabalha com strippers?
      — É mais complicado do que isso. Meu pai sempre quis que eu e Ivan fôssemos iguais a ele, mas Ivan é o que mais se interessava pelas mesmas coisas que o meu pai. Eu ficava com ciúmes e fazia absurdos para chamar a atenção do meu pai. Com o tempo, as coisas ficaram como estão agora.
       — Entendo. — ela vira para olhar para meu irmão e sua noiva se prepararem para apanhar sol.
       Zoey usa um maiô rosa e senta na espreguiçadeira ao lado do Ivan que fala com a empregada para trazer alguma coisa para eles.
       Amber revira os olhos. — Eles parecem a Barbie e o Ken.
      Rio. — Eu não teria dito melhor. Você é engraçada.
      Ela sorri. — E estranhamente você não é tão insuportável como eu pensava. Ou é porque estamos na casa dos seus pais? — arqueia a sobrancelha.
       — É porque você está me conhecendo aos poucos. Agora vou dizer uma coisa bem infantil. Preparada?
       — De você, já estou acostumada.
      — Vamos brincar na piscina e mostrar para o meu irmão e a noiva que somos mais incríveis que eles?
      Ela morde o lábio. — Vamos irritar aqueles chatos.
      Seguro a sua mão e corremos para dentro de casa como duas crianças, mas paramos quando Bruna aparece nas escadas. Ela olha para nós com a testa franzida, mas ignora e continua seu trabalho. Rimos a caminho do quarto e fecho a porta.
      Amber ri. — Sua imaturidade é contagiosa.
      — Juro que não sabia. — Levanto as mãos. — Agora diga, por favor, que trouxe biquínis.
      — Estou sempre prevenida, querido. Valho por cinquenta. — Ela entra no closet. — Se você espreitar, vou arrancar seus olhos.
      Vou ter com ela e procuro o protetor solar porque fiz uma tatuagem há três semanas e quero ela linda quando cicatrizar completamente, se bem que ela parece concretizada, mas não é assim que as coisas funcionam.
      — Eu também preciso me trocar.
      — E você vai. No quarto. — Ela procura nas suas roupas. — E quem manda nessa relação sou eu.
       — Entendido, amor.
       Escolho uma sunga e vou trocar no quarto. Seria mais divertido fazer isso na frente da Amber, mas ela não está interessada em ver o que tenho para oferecer. Só que eu já mostrei uma vez, deve ser por isso que não está curiosa.
       Quando Amber sai do quarto, meu queixo cai. Seu biquini azul meia taça atoalhado que parece ter sido desenhado para ela. As tatuagens de borboletas nos seus braços parecem mais bonitas. Ela tem flores e três borboletas no braço esquerdo e duas borboletas no braço direito. Quando ela dá a volta fico apaixonado pelas covinhas nas costas e o coração na parte de trás do pescoço, que posso ver porque seus cabelos estão num coque. Seu traseiro é lindo demais, e tenho a certeza que essa imagem não vai sair da minha cabeça enquanto eu viver.
       — Pronto?
       Apenas aceno com a cabeça porque não tenho palavras.
      Que mulher foda!

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