Capítulo dez

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Amber

     A campainha toca irritantemente e até fico com medo que seja Dante porque se for ele, vou matá-lo. Ele não pode vir aqui infernizar a minha vida todos os dias, ontem já vi aquele rosto convencido. Calço as minhas pantufas e visto o robe para abrir a porta sem me importar com o cabelo despenteado. Nina, minha amiga modelo, entra sem a minha permissão como se fosse a dona da casa ou como se me visse todos os dias. Veste calças jeans justa que realçam suas pernas compridas, uma camisa rosa larga, saltos altos e uma bolsa da Dior preta.
      Ela esteve nos quatro cantos do mundo nos últimos meses, tive saudades, mas minha relação com Nina é diferente da minha com Karol. Nina e eu nos amamos, mas não nos abraçamos tanto, às vezes até brigamos demais, mas só de brincadeira. Já Karol, eu costumava dormir abraçada a ela quando estava triste, nos abraçamos demais, somos as melhores amigas. Talvez o tempo e a distância tenham me afastado um pouco de Nina, mas felizmente ainda somos amigas.
      — O que você faz aqui? Não devia aproveitar a vida de modelo ou algo assim? — brinco.
      — Queria saber como você está. — Ela me abraça rapidamente. — Olha só para você. Ganhou os quilos que precisava.
      — Olha quem fala. — Sigo a mulher até a cozinha.
      Eu sou alta com um metro e setenta e um, mas Nina com um metro e oitenta me faz sentir não-alta. Nosso grupo de amigas é bastante eclético, e adoro isso, todas as alturas, todas as etnias, diferentes personalidades.
      — Voltei de viagem. Estive num desfile em Paris, depois tive alguns trabalhos na Inglaterra e Alemanha, amiga, foi uma loucura. — ocupa um banco na minha ilha.
      — Você veio com os seus seguranças?
      — Sim, embora as pessoas não saibam quem eu sou.
      — Sua vida tem sido incrível, pelos vistos. — lavo as mãos e abro o frigorífico. — Quer comer algo fitness ou algo normal?
      — Panquecas de banana e aveia, iogurte natural, se tiver amoras, mirtilos ou framboesas, por favor não hesite em colocar.
      Viro para olhar para ela. — Também quer champanhe e um petit gâteau como sobremesa?
      Ela sorri. — Eu iria adorar.
      — Não era sério!
      — Está bem, então me dê o que você tem. Depois eu vou almoçar na casa do Duke. — Endireita o cabelo.
      — Acho que só ele te suporta. — Pego nos ovos. — E o seu namorado?
      Ela morde o lábio. — Terminamos. Estava tão ocupada que esqueci de dizer.
      — Você está bem? — pergunto porque eu não estou bem depois de terminar com Ivan. Bem, tecnicamente nem começamos, mas não importa. Estou triste mesmo assim, mas não estou tão abalada assim.
      — Sim. Agora estou com um ator britânico famoso. Não sei se você conhece. Do filme Amor talvez.
      Grito e vou abraçar a mulher. — Você está com Cameron King?
      — Sim. Mas a mídia ainda não sabe. Então não diga a ninguém. Ele é um pouco reservado.
      — Eu posso conhecer ele?
      — Talvez. Vamos ver. Estarei por cá por um bom tempo, então vão me ver bastante. — Ela me afasta. — Seu hálito matinal é de morrer.
      — Você também não é perfeita, querida.
      Termino de fazer os ovos escalfados com aspargos para Nina enquanto eu como panquecas com manteiga e café. Temos uma conversa agradável, meter as fofocas em dia, conto sobre o Ivan e até sobre o Dante, mas quando a campainha toca sinto que não devia ter mencionado o nome dele.
       EU NÃO DEVIA!
      — Não vai abrir? — Nina pergunta.
      Suspiro. — Espero que não seja o Dante. — Levanto e vou abrir a porta para a pessoa que eu não queria ver. Ele parece piolhos.
       — Dante, o que você quer?
       — Bom dia. — Olha para o meu robe aberto, para a minha camisola preta sexy. — Como você está?
       — Não importa, agora não é o momento.
       Ele passa por mim mesmo assim. — Vim em paz. Ultimamente temos sido os melhores amigos, mas você não quer aceitar isso.
       — Até onde eu sei, meu melhor amigo tem cabelos loiros e você o odeia.
      Ele ri e empurra o meu ombro levemente com a sua mão gigante. — Não o odeio. Já não. A Karol escolheu ele, e ele tem sido bom homem para ela. Está tudo no passado.
       — Não é como se houvesse realmente uma escolha. — Provoco. — Karol não queria saber de você.
       — Não sei porquê. Olha para mim! — faz gestos com as mãos para mostrar seu corpo.
       E eu vejo.
       Sua camiseta branca justa, calças jeans pretas e botas, ficam perfeitas nele. Tudo fica muito bem e até acho suas tatuagens bonitas. É uma pena que por dentro não tenha essa beleza. É por isso que não se julga o livro pela capa.
      Respiro fundo. — O que você quer hoje? Cada dia é a mesma coisa disfarçada de coisa diferente.
       — O quê?
       — Nada. Eu já disse que não é o momento.
       — Vim pedir um favor pequenino. Tão pequeno, pequenininho assim. — Ele mostra seus dedos gigantes, simbolizando algo pequeno.
       Imagino que seja o oposto de pequeno.
       — Quem você quer que eu mate? — pergunto.
       Ele ri, e foda-se que riso gostoso.
      — Você é muito engraçada. A mulher perfeita.
      — Não para você.
      — Bem, quer viajar comigo para a casa da minha família e ter umas férias?
       Encaro o homem que me convida para ir de férias com ele. Loucura tem limites, Dante precisa urgentemente de um psicólogo.
       — A minha responta é um redondo e gigante não.
       — Ouve, o meu irmão tem uma noiva perfeita, ele é perfeito, são tão perfeitos que estão rodeados de arco-íris, unicórnio e essas coisas. — Ele faz sinal de vômito. — É por isso que tenho que ir acompanhado. E você é a escolha perfeita.
       — Porque sou o oposto da noiva do seu irmão? — pergunto, já me sentindo ofendida.
       — Porque seríamos um casal foda, e assim meu pai ficaria mais irritado.
       — Por que ficaria irritado? Eu sou uma mulher simpática e divertida. — cruzo os braços.
       — Meu pai é bastante preconceituoso, julga tudo. E para ele, você não parece a nora perfeita. Não com suas saias curtas e tatuagens, piercing e alargadores nas orelhas ou seu batom preto e sombras de bruxa.
       — Caralho, Dante, vá se foder!
       — O que quero dizer é que eu gosto de coisas que ele não gosta. E ele acha que não consigo ter um relacionamento.
       — E daí? Também acho o mesmo.
       — Por favor, Amber. Eu preciso de você.
       — Não.
       — Eu posso pagar se quiser.
       — Não. — Mantenho a minha decisão.
       — Por favor. — Ele implora.
       — Não.
       — Depois eu faço tudo o que você quiser. Eu prometo.
       Agora sim, falamos a minha língua.
       Dou um passo e sorrio como uma vilã. — O que eu quiser?
       — O que você quiser. — Responde. Deve estar mesmo desesperado para prometer isso.
       — Qualquer coisa?
       — Qualquer coisa.
       — Espera um segundo, não se mexe. — Vou no meu quarto rapidamente e pego no telefone. Quando volto para a sala de estar, Nina está acenando para Dante com o sorriso cinco estrelas.
       — Muito prazer, Nina. Você é muito bonita. — O idiota diz.
       Ela ri e passa a mão nos fios loiros. — Obrigada. Você também é.
       — Interrompo alguma coisa? — pergunto.
       — Amiga, esse é Dante? — ela aponta para ele na frente dele. — Estou chocada.
       O idiota gostou do que ouviu. — Parece que sou famoso.
       — Nina, volta para a cozinha. Dante, vamos fazer o nosso contrato verbal. — Coloco o telefone perto dos seus lábios. — Diga, eu Dante seu sobrenome, farei tudo o que você, Amber Jeffrey quiser, se for de férias comigo e com a minha família.
       Ele suspira. — Eu, Dante Valentine, o mesmo homem de quem você fala para as suas amigas, farei tudo o que você, Amber Jeffrey, quiser se for de férias comigo e com a minha família em Orlando por uma semana.
       — Imagino que Amber não vai se arrepender. — Nina ri. E eu jogo um pé da minha pantufa nela. — Brutamontes!
       Dante sorri. — Parece que somos almas gémeas.
        Paro a gravação. — Eu vou com você. Agora pode ir embora.
        — Tem a certeza? — Nina pergunta. Jogo a minha outra pantufa nela. — Grossa! — volta para a cozinha.
       — Parece que a sua amiga gostou de mim. — Dante senta no sofá.
       — Ela tem um namorado mil vezes melhor que você.
       — Você não gosta mesmo de me elogiar.
       — Se você for bem comportado, eu não vou me importar em ser boa com você. Agora levanta do meu sofá! — Ordeno. Ainda é cedo para estressar a cabeça.
       — Mesmo que eu adore o seu lado malvado? — seus olhos verdes parecem mais claros agora, quando levanta e fica na direção da luz que entra pela janela.
       — Vai embora, Dante. Tenho a certeza que tem mulher para foder.
       Ele passa a mão no meu rosto. — A mulher que realmente quero está na minha frente. — O idiota se segura para não ri.
       Que homem insuportável!
       Dou um soco na barriga dele. Dante afasta sua mão para tocar onde foi golpeado. Gostaria de ter usado mais força, mas como ainda não terminei o meu café, então não deve ter doído tanto assim, sem contar que a minha mão é que quase se machucou naquele tanquinho.
       — Idiota.
       — Eu vou me comportar. — Ele diz e levanta a mão para me impedir de dar outro golpe. Felizmente para ele não tenho tempo para isso. Na verdade, acho que tenho gasto bastante o meu precioso tempo com Dante.
       — Pela milésima vez, vai embora. — Digo, já cansada dele. Será que existe alguém nesse mundo que aguenta esse homem? Agora entendo que realmente beleza não é tudo na vida.
       Ele sorri. — Oui, madame!
       Observo ele sair e fechar a porta sem truques. Quando ele vai embora há uma paz quase celestial. Ele conseguiu o que queria e eu espero conseguir também quando ele me der o que eu quiser. Que eu não me arrependa disso.
       Regresso na cozinha depois de voltar a calçar as minhas pantufas e fulmino Nina com o olhar. Ela nota o meu olhar, mas como sempre não se deixa intimidar.
      — O que foi?
      — Dante vai esfregar na minha cara todos os dias que eu falo sobre ele para as minhas amigas.
      Ela sorri. — Qual é o problema? Evite ele.
      — Ele é inevitável.
      — Deixa de drama, Amber. — Bebe seu chá verde. — Mas pelo menos isso vai te fazer esquecer do Ivan.
      — Um pouco. — Volto a sentar na ilha para comer as minhas panquecas.
      Parece que agora já tenho planos para a Páscoa.

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