Capítulo dois

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Dante

    Eu esperava tudo, menos que Amber abrisse a porta de calcinha. Não que eu possa ver a sua calcinha, ela veste apenas uma blusa comprida, que eu tenho a certeza que se ela der as costas para mim, terei a visão perfeita do seu traseiro. Seus cabelos estão num coque bagunçado tão pretos como a escuridão, que ajudam a realçar o azul dos seus olhos, e pela primeira vez, não vejo ela com maquiagem.
    E ela é linda.
    Nunca pensei o contrário, até gosto quando usa batom preto ou vermelho e sombras exageradas, mas nesse momento, acho que prefiro ela sem maquiagem. É mais natural e mais linda. Caralho, eu nunca pensei. Sem o piercing no nariz, sem a maquiagem pesada, sem os alargadores nos ouvidos, ela parece outra pessoa. Parece uma mulher inocente, um anjo.
     E esses olhos, caralho!
      Ontem eu a vi sair de um restaurante e a segui, não vou mentir. Desconfiei que era ela e apenas vim para ter a certeza. Parece que agora que Karol casou, ela decidiu mudar para outro apartamento. Será que sabia que eu estava por aqui também? Karol disse alguma coisa?
     — O que você faz aqui? — cruza os braços contra o peito.
     Porra!
     Já disse que ela é linda?
     — Ontem eu a vi, queria ter a certeza que era você. — Digo.
     Amber parece ter acima de um metro e setenta, mas não a considero alta, não quando quase não passo pela sua porta. Seus peitos são médios, e suas coxas um pouco grossas. Gosto das lindas tatuagens nos seus braços, borboletas e flores em ambos os braços, e sinto que deve esconder mais algumas.
     — E como sabe que esse é o meu apartamento?
     — Eu não... — dou um passo para frente. — ...sabia. — Sorrio para provocar.
     — Eu não tenho tempo para essas coisas.
     — Posso ao menos dizer que a sua calcinha é linda?
     — Nunca viu uma calcinha antes? — olha para baixo. — E você não consegue ver.
     — Mas isso não me impede de imaginar.
     — Céus, ele é louco. — Sussurra para si, mas posso ouvir. — Já vi o seu rosto, e você viu o meu, agora pode ir embora.
     — Posso fazer uma pergunta antes?
     — Primeiro diga como sabia qual era o meu apartamento. — Seus olhos estreitam para mim.
     Suspiro e decido ser sincero. — Eu bati todas as portas até chegar aqui.
     Ela pisca e olha para mim como se fosse louco e depois começa a rir. Gostaria de dizer que ela tem um riso irritante, mas é tão doce e angelical que me pega de surpresa. É sério, ela agora parece um ser inócuo.
      — Não acredito. Você é um idiota.
      — Eu sou insuportável assim mesmo. — Coloco as mãos nos bolsos. — Então, posso fazer a tal pergunta?
      — Se você deveria se internar? Definitivamente.
      — Você está solteira? — solto, tentando mostrar o meu melhor sorriso.
      — É isso que você quer perguntar? Sério?
      — Devia se sentir lisonjeada.
      Amber revira os olhos e fecha a porta na minha cara. Entendo essa raiva depois que tivemos uma guerra de gás de pimenta. Não sei porquê — talvez porque meus olhos ardiam demais — mas não consigo parar de lembrar daquele dia.
      Muita coisa aconteceu nos últimos meses, além de Karol casar com outro. Decidi seguir em frente com os meus sentimentos, tenho tido muitas distrações e ainda decidi vir para cá para provocar Amber, como se não soubesse que me atraio facilmente por mulheres que não gostam de mim.
      E ela é um espetáculo.
      Afasto-me da porta e entro no elevador rindo porque estou ciente que tenho um lugar bem reservado no inferno. Eu não vou conseguir deixar Amber em paz agora que ela mora aqui, nem que seja para trepar só uma vez.
      Caralho, acho que agora entendo porquê não gostam de mim.

                                      ****

     Volto para o Night club depois da tentativa falhada de entrar no apartamento da Amber, e Lorenzo vem atrás de mim. Ele é o meu gerente e amigo, a única pessoa em quem confio. Somos amigos há mais de dez anos, o tipo de amizade que nada pode quebrar. Somos leais um ao outro, e olha que aprendi demasiado sobre lealdade depois que perdi um amigo que agora não me suporta.
      Lorenzo caminha até mim e cruza os braços. Sua camisa branca dobrada até aos cotovelos, do mesmo jeito que faz todos os dias. Ele é o tipo de amigo que eu sempre precisei, pois se eu sou o caos, alguém tem de ser a ordem. Não que ele seja um santo, mas ele é a minha consciência, se bem que antes era igualmente pior.
       Estou entediado por isso observo as minhas meninas ensaiarem. Agora é a vez de Tate que atualmente é a melhor de todas as strippers. Ela sorri para mim e termina em grande. Seus cabelos loiros caem pelo rosto e sorri mais ainda quando faço um sinal para ela me encontrar lá em cima depois.
         — Onde estava? — Lorenzo pergunta.
         — No inferno. Aconteceu alguma coisa?
         Inferno é o nome do meu bar. Dei esse nome porque eu sei que um dia irei queimar no inferno, então seria engraçado que por enquanto criasse o meu próprio inferno, um lugar que não seria tão excruciante. O outro motivo é por ter lido A Divina Comédia e como o meu nome é Dante, porquê não ser o Inferno de Dante?
        Sou louco assim mesmo.
         — Sim. O Luke esteve aqui.
        Viro para encarar Lorenzo. — O que ele queria?
        Estou surpreso porque há anos que ele não me procura. Soube que foi preso, depois saiu e fez parte de um grupo de apoio, depois não tive mais notícias dele. Ele é o amigo que me odeia. Porque comigo é assim, faço sempre merda e é difícil manter as pessoas por perto, por isso tento fazer tudo certo com Lorenzo e Stephen, meu outro amigo, gerente do inferno.
        — Ele disse que queria que você não o esquecesse. — Lorenzo presta atenção nas meninas. Ele sabe a história toda, senão não seria meu melhor amigo.
        Respiro fundo. — Entendido.
        Luke era meu melhor amigo, éramos como irmãos, eu, ele e a Emily. Eu estava apaixonado pela Emily, ele também, mas eu não sabia. Então, eu namorei ela. Depois, terminamos, e Emily parecia muito distante e perdida, tinha perdido o brilho. Foi quando ela se suicidou. Nunca soubemos o real motivo, mas até hoje Luke me culpa por isso, deixamos de ser amigos desde então. Foi há oito anos.
      — Eu jamais esqueceria. — Sussurro. Emily me assombra durante todos esses anos.
      — Então, não vai mesmo dizer onde estava? — Ele tenta mudar de assunto porque sabe que não gosto de falar disso.
     — Porquê está tão curioso? Não é nada de mais. E você é meu amigo irá saber antes de todo o mundo. — apoio os braços no palco.
      — É algo ilegal?
      — Ilegal é o meu nome do meio, mas não. Ou será que é? — brinco. Claro que querer transar com a Amber não é ilegal.
      Lorenzo também se apoia no palco. — Nossas meninas são lindas.
      — Demais.
      — Mas você exagera.
      — Bem, nesse momento apenas tenho me divertido com a Tate. Quer dizer, com todas, mas a Tate é a minha preferida. — Digo baixo o suficiente para elas não ouvirem.
      — Isso gera rivalidade entre elas porque todas querem a sua cama.
      — A sua também.
      — Você sabe que gosto de mulheres mais reservadas, inocentes, essas sim me deixam duro. — Seu sorriso parece lembrar de alguém.
      — Gostos são gostos. Mas não esqueço que sentia tesão pela Karol também. Não parava de a assediar.
      — Isso foi há muito tempo. Sabe que mudei. E Karol não era uma oferecida. Só para você.
      — Pena que foi embora. Ela é uma das melhores fodas que tive. — Fico arrepiado só de lembrar.
      — À propósito de foda, Jade esteve aqui ontem.
      — Ela não se cansa de ser rejeitada? Eu não quero nada com ela, ainda mais agora que é prostituta de luxo.
      — E você se importa com isso?
      Rio. — Claro que sim, caralho. Algumas coisas têm limites. Agora que estou saudável de novo, só quero foder com moderação. E com pessoas que não são suspeitas de ter uma DTS.
      — Nossas meninas não são santas, você sabe disso.
      Vejo Tate beber água de um jeito sensual. Ela despeja algumas gotas sobre aqueles peitos grandes pecaminosos. Só de pensar no jeito que ela rebola fico louco.
      Rio. — Oh, se sei!
      — Tenho que trabalhar. Não quero continuar com essa conversa.
      — Vai trabalhar!
      As meninas acenam para mim. Eu não sei o nome de todas, Lorenzo sabe, conheço cada uma pelo corpo porque eu sou esse tipo de pessoa e vou queimar no inferno.
     — Oi, Dante. — Tate sorri para mim.
     — Tate e Brittainy, vocês podem me ajudar a resolver um assunto? — nunca me importei em ser sutil, não vou começar agora.
      E elas vêm tão logo acabo de pronunciar seus nomes. Lorenzo abana a cabeça em negação quando saio com as duas para o meu quarto. Tenho um quarto no Night Club, sou o dono daqui e há muitas mulheres gostosas. Transar com elas o tempo todo seria inevitável. É inevitável.
      Vamos para o meu quarto e fecho a porta. Acendo as luzes porque eu amo ver tudo o que acontece, sou bastante apreciador do corpo feminino, por isso sexo no escuro não tem graça para mim. Primeiro puxo Brittainy para beijar a sua boca, depois Tate se junta a nós.
     Passo a mão pelos cabelos loiros de Tate. — Cada dia mais linda. Vocês são muito lindas.
     Brittainy fica de joelhos e abre a minha calça enquanto beijo Tate, amassando seu traseiro com a minha mão. Apenas mais um dia normal no Night Club.

                                        ****

     Sextas e sábados são os meus dias preferidos para beber como se não houvesse amanhã. Estava pronto para ficar bêbado quando a minha mãe liga para mim. Ela tem ligado todos os dias ultimamente, e isso é sinal de que é uma coisa muito importante. Já consigo imaginar o que é. E é o assunto que tenho tentado adiar todos esses meses.
      — Mãe. — Atendo.
      — Como você está?
      — Muito bem. E como estão as coisas? — pergunto, mas no fundo só quero saber se ela está bem.
      — Bem também. Eu liguei porque combinamos de umas férias de Páscoa, lembra?
      Como poderia esquecer se ela lembra sempre?
       — Pensei que o meu pai não queria que eu fosse.
       — Ele quer. Você sabe que ele te ama.
       Meu pai sempre deixou claro que meu irmão era o favorito. Ele faz as coisas tão bem e tudo para deixar meu pai orgulhoso. É o filho perfeito que irá casar com uma herdeira rica, com uma reputação impecável. Enquanto eu sou um desastre, não namoro e já perdi a conta das mulheres que levei para a cama.
      — Está bem. Verei o que posso fazer. — Digo. E com "verei o que posso fazer", significa que inventarei uma desculpa para não aparecer.
      — Por favor, apareça. Seu irmão estará com a noiva. Vai ser muito importante para a nossa família.
       O que eu não faço pela minha mãe?
      — Está bem. Eu vou. Pela senhora.
      — Muito obrigada, filho. Te amo.
      — Também te amo, mãe.
      Desligo e penso em ligar para Luke, mas ele não atenderia. Claro que não vai atender, pode ter mudado de número, sem contar que ele me odeia de morte.
      Stephen senta ao meu lado enquanto a garçonete enche o meu copo com whisky. Eu gosto de ficar bêbado, tenho um problema. Na verdade, esse não é o meu único problema, eu sou um desastre ambulante, mas o que importa? Só se vive uma vez.
      — Então é uma viagem para ver o seu irmão? — pergunta.
      — Sim. Ele vai casar. Minha mãe quer a família toda lá. Mas eu não quero ir. Eles são todos perfeitos, principalmente o meu irmão. E a noiva dele, caralho, jamais ficaria com uma mulher daquelas. — Digo e bebo um pouco da minha bebida.
      — Pensei que não a conhecesse.
      — Eu investiguei a família dela uma vez. Eles são irritantes. Agem como se não tivessem nenhum defeito. Aposto que não vão gostar de mim.
      — Imagino.
      — Quero inventar uma desculpa, mas também não quero desiludir a minha mãe.
      — É engraçado que você muda completamente quando se trata da sua mãe. Você, o terror de muitos homens.
       — Terror de homens e mulheres. — Dou um grande gole para terminar o resto do líquido. — Minha mãe é o meu ponto fraco.
       — Gostaria tanto que você tivesse mais um. Às vezes eu penso como seria se se apaixonasse. — O desgraçado ri.
       — Eu já estive apaixonado pela Emily, depois pela Karol, não esqueça isso.
      — Mas e se fosse diferente? Se não tivesse tédio ou fosse correspondido?
      — Vira essa boca para lá. — Bato na madeira. — Alguma vez disse que quero essas coisas? É muita responsabilidade e você sabe que eu não sou exemplo de responsabilidade. Ou sensatez. Ou seriedade. Ou romantismo. Ou fidelidade. Ou maturidade. Ou...
       Stephen me corta, rindo. — Já entendi. Você é um idiota.
      Bem, essa é a verdade. Sou muitas coisas, mas como será que faria Amber querer transar comigo? Acho que ela não me suporta.

Colapso [COMPLETO NA AMAZON]Where stories live. Discover now