Prólogo

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Camila sempre apreciou a calmaria que havia no lugar onde morava, Baltimore, cidade grande de Maryland. Nasceu em Cuba e foi criada ao arredor das praias de Havana, mas teve que se mudar quando passou na faculdade, onde se deu muito bem e logo arrumou um estágio numa escola local. Desde então, já são 5 anos de experiência.

Seus vizinhos nunca incomodavam e eram pessoas gentis, adorava conversar com eles enquanto caminhava pela vizinhança

era um bairro agradável de se morar

seu divertimento matinal, era acordar sentindo o aroma de cacau torrado que exalava da fábrica de chocolate no final da rua. Fazia seu café da manhã e apreciava a presença de seu noivo, Cristian, um italiano ranzinza que sempre acordava de mau humor. O conheceu no primeiro dia de faculdade, passaram 3 anos namorando antes dele a pedir em casamento. No começo, tudo são flores, claro.

— Odeio esse barulho. — diz ele em um forte sotaque, se referindo ao barulho do alarme que camila sempre colocava, mas nunca lembrava de tirar.

Ela sorri para o celular, o ignorando, como costumava fazer quando estava com raiva. O que faz ele apoiar a mão na têmpora e tomar um gole de café. Suas manhãs daquela semana, estavam sendo em uma ressaca infinita, estava saindo quase todas as noites depois que se demitiu do trabalho.

— Per dio, esse café tá muito bom — mais uma tentativa falha de chamar atenção. então novamente ele tenta: — passione?

mais uma vez.

— Camila, ainda está com raiva? Está me ignorando por quê? — pergunta ele, em tom de preocupação. — Sobre ontem... eu te falei, foi só uma brincadeira de mau gosto, os meninos são brincalhões. Jamais pegaria o número de outra mulher.

— Tá, deixa isso pra lá, não quero brigar. — Vencida pelo cansaço da noite anterior, ela o interrompe. Encontrou um guardanapo com um número de telefone e uma mancha de batom do lado, na camisa de Cristian... — Estou ansiosa com a viagem, meu estômago tá dando cambalhotas aqui dentro. Ainda temos tantas coisas para organizar.

O casamento seria em setembro, no outono. Faltavam apenas 4 meses.

ele suspira e sorri aliviado, expressando um sorriso que Camila podia sentir exalando o cinismo pela casa toda.

— Ascende pra mim? — se aproxima, tirando um marlboro amassado de seu bolso e a entregando um isqueiro antigo, que havia herdado de seu avô. Camila assentiu e logo em seguida puxou o cigarro de sua boca, negando freneticamente, desaprovando sua atitude. — Vamos, passione, isso é pelo velho. — Continua ele, insistindo com um sorriso no rosto.

Seu avô havia falecido a pouco tempo, enfrentava problemas do coração, consequência de tanto tempo fumando charutos.

— Seu avô jamais aprovaria isso, Cristian. Nem de brincadeira. — diz, camila, que por um momento se perde em pensamentos, lembrando do quanto se dava bem com o mais velho. E o quanto ele aconselhava dizendo "faça o que eu digo, mas não o que eu faço"

Giovanni Jauregui tinha muito orgulho do neto por ele ter escolhido uma boa pessoa para dividir sua vida, até mesmo o presenteou com o anel de noivado que usou com sua amada esposa, mas sempre soube que Camila era demais para ele. Entretanto, tinha esperanças para o futuro dos jovens, acreditava que um filho mudaria tudo, um filho seria a felicidade. Uma ideia antiquada gerada por sua família, mas morreu sem ver o que desejava.

Cris podia se enganar, mas Camila estava começando a se questionar sobre esse relacionamento. As horas que o homem costumava passar em Maryland, deixava sua cabeça confusa, era notório que suas atitudes desrespeitavam a mulher, mas ela queria manter as aparências enquanto pensava em algo para dizer a sua mãe, que era rígida demais para entender que ela queria desistir de casar-se com o "senhor perfeito"

Também, é claro, ainda gostava do homem e no fundo havia esperanças de uma mudança.

— Está bem, vou arrumar minhas malas. — diz ele, procurando algo em cima da mesa. — Viu um envelope que estava aqui? — pergunta ele, demonstrando preocupação.

— Sim, acabei abrindo por engano, achei que era uma correspondência minha. — Responde ela, em tom de brincadeira. Os olhos verdes semicerrados a encaram, ganhando sua atenção. — Algum problema? — questiona.

— Você leu?

— E isso seria um problema? — o questiona novamente.

— Non, passione. È solo questione di lavoro. — respondeu, Cris.

— Entendi. — respondeu prontamente. — Está em cima da cama.

— Tá bem, passione. Vou fazer a barba e terminar de arrumar minhas coisas, não demore aí, temos uma longa viagem pela frente.

Antes de subir as escadas, Cristian beijou o rosto de Camila e seguiu em direção ao quarto. A mulher se perdeu em pensamentos, havia tanto para ser questionado, se Cristian a estivesse traindo, não seria a primeira vez, ela já o encontrou conversando com outras mulheres, e até mesmo um par de brincos em seu carro, mas ele sempre tinha uma desculpa.

Precisava de uma solução.

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