O Cheiro do Amor - Jikook

Arranhões de um gato mimado

Devemos começar reforçando alguns detalhes. Coisinhas pequenas, nada de mais.

Jungkook é um lobo. Um lobo macho. Um lobo macho adulto. Um lobo sem matilha. Jungkook se tornou um pouco diferente com os instintos superprotetores e territorialistas dessa espécie. Ele não era de ficar se esfregando nos móveis ou em Jimin, nem de ficar mordendo e deixando marcas visíveis no garoto.

Principalmente, ele não era de fazer essas duas últimas coisas porque toda vez que era visto em tal situação Jimin lançava um olhar enviesado para ele. Ou, quando se deixava levar a ponto de marcar sua arcada dentária pelo pescoço ou pelo ombro macio do seu gatinho, ele ficava levando bronca e resmungos bravos até a marquinha sumir.

Por ele mesmo, o lobo gostava sim de alguns comportamentos considerados incomuns, e não se importava em de vez em quando acariciar o microondas como se acaricia a cabeça de uma criança. E ele morder o parceiro era uma reação natural do seu corpo, ora bolas.

Ele tinha dentes saudáveis, dois caninos perfeitos e presas que ficavam quentinhas perto do corpo do outro garoto. O Jimin tinha um pescoço alvo, bonito e cheiroso. E eles tinham amor de sobra. Então é óbvio que uma hora ou outra Jungkook tinha sim que deixar seus instintos transbordarem um pouquinho e fixar seus dentes pelo corpo do companheiro.

Mas, diferente disso tudo, Jungkook tinha um problema.

Era que Jimin era um felino. E felinos tem umas peculiaridades que são distantes das dos lobos. Tá, não é exatamente um problema gigantesco assim que ele deveria estar reclamando como se só isso mudasse toda uma trajetória da vida de uma pessoa.

A mais marcante, e a que agora vinha incomodando mais Jungkook, era a energia acumulada de Jimin que dava as caras em horas incomuns. Ninguém espera ver um garoto, todo alinhadinho, cheirosinho e perfeitinho como só um jovem de vida confortável pode ter, andando às uma da manhã pelas calçadas escuras e mal iluminadas de uma cidade.

Ninguém espera mesmo ver uma cena dessas, afirmava Jungkook silenciosamente para si mesmo, então ele mesmo tomava as rédeas da situação e ia atrás de Jimin, seguindo o gato bem de perto com a postura mais confiante que conseguia fazer. Esperando que só isso bastasse para eles não chamarem a atenção de nenhum malandro batidinho por alí. E, afinal, funcionava toda vez. Ninguém realmente se sentiria autoconfiante o suficiente para se aproximar do corpo alto, grande e musculoso que seguia o gatinho distraído, com uma aura mal humorada e com aquele conjunto todo de preto.

Jimin ia andando quase saltitando ao lado de Jungkook. Às vezes ele soltava murmúrios baixos que faziam o moreno resmungar, porque ele sabia por experiência que se perguntasse "o que?" Jimin ia ignorar ele do mesmo jeito que ignorava todos que passavam pelo seu caminho, como se fossem eles os postes que mal eram encontrados por algumas daquelas ruas.

O gato saía da casa deles já mexendo incontrolável aquele rabinho peludo com os fios claros. O longo tufo de pelo se debatia de lá para cá ansioso como se espantasse mosquitos invisíveis. Quando estavam ambos no elevador fazendo o caminho até o térreo, por vezes o rabo inquieto batia e batia e batia de novo na perna de Jungkook, fazendo o moreno querer agarrar o dono e amassar ele até que estivessem os dois tão embrenhados que para separá-los teriam que levar os dois a um médico que descola um corpo do outro da cola do amor. Se isso existisse. Jungkook esperava que sim, se não iria ganhar bronca para o resto da vida que estivesse colado ao seu loirinho.

As orelhas que enfeitavam o topo da cabeça do felino também se mexiam com movimentos diferentes do comum. Na maior parte do tempo em que estavam só Jungkook e ele em algum lugar, elas ficavam esticadas para trás, como se Jimin se preparasse para alavancar em uma corrida ou como se tivesse tomado o maior susto e começasse a pensar em se esconder. Mas se estavam em um lugar aberto elas viravam em movimentos bruscos e rápidos, totalmente alertas.