No Rio de Janeiro - Baculejo: Parte 1

1 0 0
                                    

 "Encosta na parede aí porra! Abre as perna... Tá armado?"

"Tô não senhor!"

"Levanta a camisa porra! Anda!"

"Peraí doutor, eu sou só trabalhador."

"Doutor é o caralho! Tenho cara de médico por acaso? Sô polícia porra! Vaza, vaza logo!"

"É isso aí soldado, tem que mostrar quem é que manda nessa porra, se não vira bagunça..." Disse o sargento Freitas enquanto o soldado Braz pressionava o rosto de um rapaz contra a porta de ferro da barraca, que estava fechada dês de o tiroteio do dia anterior, assim como todos os comércios da localidade. Seja das facções entre si ou contra a polícia, o fato é que, quando ocorre um confronto, a localidade assim como bairros adjacentes e uma área considerável ao seu redor se paralisam: o transporte cessa, escolas e comércios baixam suas portas, a energia elétrica geralmente é cortada, ruas são bloqueadas, moradores são obrigados a deixarem suas casas com o risco de morte... E tendo em vista os confrontos constantes em diferentes pontos da cidade, pode-se dizer que o a cidade do Rio de Janeiro funciona quase que pela metade apenas.

"...Tá bom Braz, libera esses vagabundos ai."

O sargento se mantinha encostado na viatura, vestindo suas botas pretas e o uniforme cinza, colete a prova de balas preto como o nome POLÍCIA escrito em letras brancas garrafais e um boné. No coldre da perna a pistola S&W calibre 40, arma acautelada; no cinto uma Glock 9mm preta com numeração raspada (arma de matar os vagabundo, como dizia o Sgt.) e nas costas, também enfiado no cinto, o bom e velho 38, revólver de seis tiros que, apesar da pouca capacidade de munição, não corria o risco de falhar na hora da necessidade. O Sargento continuava de pé observando, com o fuzil Calibre 5,56 MP4 A1 a tiracolo, arma de fabricação norte-americana recentemente adquirida pela polícia militar do Rio de Janeiro, em uma barganha pelas sucatas que o exército dos EUA estava aposentando. Os rapazes continuavam de pé, formando uma fileira, todos de pernas ligeiramente afastadas e as mãos apoiadas na porta da barraca, enquanto o soldado terminava de lançar seus impropérios e ameaças, com alguns safanões eventuais na nuca dos menos afortunados.

"Agora vaza! Some todo mundo se não vai tudo pra delegacia..."

"É isso aí soldado, tá aprendendo!" Disse o sargento enquanto os rapazes deixavam o lugar, voltando para seus lares ou saindo da favela. A entrada onde os policiais estavam era uma rua principal com algumas vielas transversais, e se bifurcava logo na subida do morro. Na esquina com a pista havia um minimercado e uma padaria, e entrando a rua até a bifurcação estavam vários outros estabelecimentos comerciais, quase todos fechados, com exceção de um bar de sinuca e um salão de cabelereiro.

Pílula de CianuretoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora