O fio daquele io-io

50 5 14
                                    

Pov. Chat Blanc

Ela olha-me no fundo dos olhos como se tentasse ler-me como um livro aberto mas misterioso e confuso. E eu não me mexo porque...nem eu sei bem.

Para não a afugentar? Porque estou paralisado com o susto que levei? Não tenho a certeza.

Mas então a voz dela ecoa de repente, séria e tenebrosa:

- Esta é a última vez que eu vou tentar falar contigo- morde o interior da bochecha e respira fundo- Por isso, não me obrigues a fazer algo impulsivo... Por favor.

A maneira como ela fala, o reflexo de puro medo e aversão no seu rosto. A forma tremida como a voz dela sai quando ela implora para que eu não faça nada de mal, nada que a obrigue a tomar alguma medida drástica.

Os arrepios percorrem o meu corpo dos pés à cabeça.

Então, ela desamarra os meus pés e eu passo a mão pelo nariz enquanto me levanto, tentando limpar o sangue, que só se espalha ainda mais pelas minhas bochechas. Tento dar um passo em frente para me aproximar dela mas ela recua apressadamente e olha para baixo, como se encarar-me fosse uma tortura.

Não vejo os lábios dela mexerem, mas pelo tom hesitante na sua voz percebo que demorou e quase "ensaiou" o que ia dizer:

- O que é que tu queres de mim?

Oh, Ladybug...

Fecho as mãos num punho apertado, um de cada lado do meu corpo e acho que isso a assusta um pouco, pela maneira como se afasta quase no mesmo instante que os meus dedos se curvam contra a palma da minha mão. Por isso, relaxo e tento ser o mais calmo e brando que consigo neste momento. Mas o sangue continua a escorrer-me pelo nariz.

- Os brincos- sussurro, quase demasiado baixo para duvidar que ela me ouve.

No entanto, ela estala a língua e ergue a cabeça, revirando os olhos.

Ela ouviu-me. E não gostou da minha resposta.

- Eu já entendi que queres o raio dos brincos, Chat- ríspida e agressiva- Mas quero entender porquê? Porque é que queres os brincos e porque é que estás assim tão desesperado para os ter ao ponto de arriscar a vida de milhares de pessoas?

Já não está assustada. Está só zangada, quase ofendida com a minha falta de respostas.

Quem me dera poder dizer-lhe alguma coisa, poder explicar-lhe tudo.

Mas a máscara roxa brilha à volta dos meus olhos.

Ele percebeu que eu saí e percebeu o que estou a fazer, com quem estou a falar.

E as dores começam, como agulhas que picam e furam cada parte do meu corpo. Dores finas mas que permanecem ali, mesmo depois de a agulha sair. Nos meus braços, pernas, na minha cabeça...

Em. Todo. O. Lado.

Fecho os olhos e tento convencer-me de que está tudo bem, que ele só me está a manipular quando diz:

- Ela só quer acabar contigo. Ela é a tua verdadeira inimiga.

Acaba com ela, diz ele.

- Chat, o que é que ele te está a fazer?- diz ela.

Ataca, aproveita agora, diz ele.

- O que é que ele te está a dizer?- diz ela.

Destrói-a. Mata-a, diz ele.

Os meus olhos continuam fechados conforme as dores pioram, como se as agulhas já não saíssem, agora é como se elas fossem mais fundo na minha carne, presas entre os meus músculos e a remexerem-se contra os meus nervos. E a transformarem cada resquício de esperança de que tudo vai ficar bem em algo bárbaro e aflito.

O Monstro e a Joaninha | [MIRACULOUS AU]Where stories live. Discover now