Foi no processo em que me enlouquecestes que eu me curei

Começo de uma relação ou de um filme de drama?

Estamos na quarta noite que dormi na casa do Harry. Tinha chaves, tomava o pequeno-almoço lá, fazíamos sexo e ele nunca ia trabalhar sem me dar um beijo de bom dia. Chegou o quarto dia, era um domingo, ele não trabalhava.
O Harry perguntou-me o seguinte: "Imaginas-te numa relação comigo?"
O meu coração dizia que sim, mas a minha cabeça estava claramente no não. E essa foi a minha resposta, foi um "Não, tu sabes o teu passado e as coisas que me contaste da tua relação anterior".
A conversa foi longa, até porque eu ouvi o que o Harry me tinha a dizer. Ele explicou-me que certas coisas ele só me contou da maneira que contou porque nunca pensou se sentir assim com alguém nos próximos momentos.
Fora da história, escrevo eu no dia de hoje, o que que eu tenho haver com isso? Eu não tenho culpa de te teres apaixonado por mim mais rápido do que tu pensavas. Eu sabia que o plano do Harry era ficar solteiro e curtir a vida, até porque ele acabara de sair de uma relação, e já se ia meter em outra?
Mas eu não tenho culpa. Duas linhas não se cruzam à toa, mas a nossa cruzou, porque não digas a uma miúda que queres uma relação de longa data só porque te estas a deixar ir pelo momento perfeito, mesmo sabendo que não estás preparado. Aquilo era só um momento perfeito para ele, mas para ela era um começo de uma história perfeita.

Mas as palavras dele não foram essas, ele garantiu-me estar pronto para estar comigo. Era eu e ele contra o mundo. E foi aí, foi nesse dia, nessa simplicidade que nós dissemos que o vinte é nosso, o dia vinte onde tudo tinha começado com o beijo.
Mas esse conto, ainda era muito escondido de todo o mundo. Eu e o Harry andávamos, morávamos efetivamente juntos, mas eu não era assumida. Ninguém podia saber de nós. Ele nunca me conseguiu explicar o porquê, se foi porque tinha medo da reação da ex parceira, dos pais dela, dos pais dele, da minha família ou quem sabe talvez de si próprio quando se encontrasse numa nova relação séria.
Então vou-vos explicar o nosso "deal".
Somos namorados, estamos numa relação, só não assumida. Mas temos de ser fiéis um ao outro, aliás, nós estamos a dormir todos os dias juntos, eu quero um futuro contigo.
Esse foi o nosso acordo, o que eu não sabia era que eu era tão cega por ele, ao ponto que aceitei as seguintes situações que esta história narra.
Havia dias que os meus primos iam a casa do Harry, principalmente nos fins de semanas, eis o que acontecia, eu tenho dezoito anos, mas tenho pais. Os meus pais sempre aceitaram que eu dormisse com ele, sempre me deixaram sair até às quatro, cinco da manhã, mas o que não gostavam nem nunca vão gostar é que eu saia de casa depois da meia-noite, para passear. Eu não saía àquelas horas para passear, eu saia para ir até à minha segunda casa, porque eram as horas que os meus primos já não estavam lá. Eu cheguei a reclamar, mas não havia maneira alguma para que ele me assumisse perante a minha família, o que era frustrante, porque tive de mentir dezenas de vezes aos meus primos na cara.
Eu no fundo sabia que eu e o Harry éramos feitos um para o outro, mas em outra altura da vida. Eu estava à frente, eu estava pronta para jantares com famílias, pronta para oficializarmos, e ele por mais que gostasse da Barbie, não estava preparado.
Ele estava na fase da vida que eu até chamo de "perdido".

Acho que toda a gente chega a um ponto na vida, aliás, às vezes até se chega várias vezes a esse ponto, que estamos frustrados com algo, mas não sabemos com o quê.
Que temos tudo bem, uma pessoa espetacular ao lado, a família com saúde, o trabalho a dar dinheiro para casa e os teus amigos estão do teu lado sempre que precisas.
Mas algo te frustra, algo dentro de ti não esta bem, mas nem tu sabes o que é. Eu acho que o Harry se sentia bem comigo, muito bem, mas quando digo "bem comigo" falo em questão de amor, nós funcionávamos, nós conectámos, nós tínhamos maluqueiras parecidas e foram essas que marcaram a nossa relação, mas também foi essa intensidade que fez isto tornar-se tóxico.
Mas ele não se sentia bem com ele próprio.
Ele sempre me disse a típica frase daqueles filmes, onde o casal maravilha não acabam juntos: "A culpa não é tua. Sou eu, a culpa é minha, não tem nada haver contigo". Acho que a raiva de ele ter terminado uma relação tão longa antes de me ter, era tão grande que, por mais perfeitos que nós fossemos, ele tinha de provar à ex-parceira que ainda não tinha seguido em frente e que continuava de braços abertos para ela, que se seguissem em frente, dos dois, ela tinha de ser a primeira.
Mas aqui entre mim e ti, eu a escritora e tu que estas a disfrutar a leitura desta história, por mais que ele esperasse para me assumir, nós sabemos que ele se apaixonou por mim na mesma naquela altura, independentemente se a ex parceira sabia disso ou não.
Nunca julguei, esperei por ele, esperei pelo nosso namoro e olhem, nunca chegou, por isso aprendam com esta leitura, não esperem nada de ninguém nem nada de alguém.
De quem tu menos esperas é de quem tu mais recebes, de quem tu mais esperas, é quem mais te desilude.
"Aquele que de ti se esquece, normalmente é aquele que é por ti lembrado"
Seguinte frase vem da música do Dillaz – "Conto".
Para quem não sabe, eu pareço uma princesa por fora, não saiu de casa sem ter o cabelo arranjado, mas na música, só o Hip-Hop Tuga me dá paz.
Essa frase nunca fez sentido comigo até hoje, até isto.
Eu e o Harry chegámos a ter conversas aonde ambos dizíamos frases como esta: "Isto é tudo demasiado bom para ser real" e era, daí hoje já não sermos nada. Eu digo sempre a seguinte frase nos dias de hoje "agora somos estranhos outra vez, mas desta vez, com memórias". O Harry em todas as discussões ou situação que eu dizia isto nestes tempos, nunca percebeu o que quis dizer. O nosso fim foi tão drástico que nós nem amigos ficámos, aliás, estamos mais perto de ser inimigos do que amigos, daí nos voltamos a ser estranhos, tal como antes de entrarmos nesta relação, só que destas vezes com muitos momentos para relembrar.
Sempre ouvi dizer que recordar é viver, mas nesta situação quanto menos me recordar da Barbie e do Harry menos ataques de ansiedade eu tenho.