Capítulo I: Deveria ser crime, mas não é.

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São três da manhã pontualmente, sei bem disso porque meu corpo e mente já estão condicionados a despertar nesse horário, não importa se irei trabalhar ou se não levantarei da cama.

Tomo um pequeno susto, ao perceber que tem alguém aqui comigo, mas após alguns segundos, me lembro de quem é, e por isso relaxo. A falta de costume com tais coisas por anos a fio, e como isso ainda me afeta — como quando preciso me esforçar para não agir como se houvesse um invasor em meu quarto — pode ser realmente um pouco assustadora.

É impressionante como até alguns meses atrás, o silêncio de meu quarto seria comumente monótono, tediosamente solitário; e ainda mais como isso mudou, me permitindo ter o hábito de ouvir o som dessa respiração fraca, que vem de encontro a meu rosto em quase todos os dias da semana.

Não moramos juntos — ainda, mas todo o tempo que nos sobra antes e depois do trabalho, até mesmo nos dias de folga, fazemos questão de aproveitar na companhia um do outro. Não existe muito o que fazer ou para onde ir, quando se tem um bebê de nove meses e, por conta de seu trabalho, é preciso morar em um deserto que muitas vezes está infestado de facções criminosas.

Afundo meu nariz em um emaranhado de fios macios e cacheados que parecem não ter fim, inalando o aroma de framboesa negra, sorrindo sonolentamente enquanto meu rosto é pressionado contra o colchão, por uma bochecha macia que está sobre a minha. Aumento meu aperto no corpo muito menor que o meu, mas não muito, por medo de estalar a coluna de minha namorada.

Escuto um grunhido preguiçoso, provavelmente é meu, aperto meus olhos fechados com mais força para impedir que meu sono se esvaia completamente; esse é um dos dias em que posso aproveitar para dormir até tarde.

E pretendo aproveitar isso, ainda mais porque estou meio cansado, por ter ido dormir somente quando já era uma e meia da manhã. Pelo menos foi por um bom motivo.

Um motivo bom pra um caralho. Ahh, e gostoso também.

Tudo o que fizemos na noite e madrugada passada — depois de nosso encontro a céu aberto, no teto do alojamento, que passei um bom tempo planejando — foi tão bom, que não tive coragem de deixar ir a mulher, que agora eu abraço como se minha vida dependesse disso, para dormir sozinho.

Graças a Deus e para minha sorte, não precisei insistir, para que Yvennia aceitasse passar mais uma noite aqui.

Deus queira que essa não seja a última. Repito mentalmente a frase que mais parece uma prece, e que digo a cada vez que acordo ao lado dela.

Um par de pernas com coxas um pouco grossas envolve meus quadris, me puxando contra seu corpo, com força demais para quem está dormindo. Dobro meus joelhos sobre o colchão, para que meus pés não fiquem para fora do cobertor que nos esconde e, meio deitado debaixo dela, aperto minha Yve e apalpo sua cintura, até que a escuto resmungar.

Sua barriga arredondada roça em meu abdômen e seus seios fartos são maravilhosamente pressionados contra meu peito, quando se encolhe contra mim, grunhindo e me fazendo cogitar perder todo o resquício de sono que ainda me embriaga para repetir as doses da noite passada.

Mesmo antes de conhecê-la, sempre gostei de sexo, não era do tipo vadio, até porque não estava nos meus planos engravidar alguém estando fora de um casamento, mas também nenhum santo, devo confessar. Ainda que fosse bastante trabalhoso, encontrar alguma mulher que não sentisse medo de mim, de minha aparência ou de meu tamanho.

Porém, quando paro para pensar, chega a ser um pouco preocupante como com essa mulher, que já se parece parte de mim, sempre estou disposto a não sair de cima dela, até que meu corpo esteja tremendo. E mesmo com meses de namoro, isso nunca mudou.

𝙳𝙴𝚂𝙴𝚁𝚃 𝚁𝙾𝚂𝙴.Where stories live. Discover now