Game Over

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Parte II

O pai de Maeve trabalha em uma cozinha; seu cargo é "Chef de Partie" de um restaurante renomado. Para ela, o nome sofisticado apenas significava comidas deliciosas em casa. Seria o ideal, se o seu pai não passasse o dia inteiro trabalhando e só voltasse bem tarde, apenas cozinhando nos dias especiais e nas manhãs antes de ir; momentos esses que, na verdade, eram raros. A demanda no restaurante era grande e sua mãe não cozinhava tão bem; ela também chegava cansada do seu trabalho, sobrando a opção de delivery na maioria dos dias.

Por mais que os eventos especiais, como os encontros em família, significassem desfrutar da comida de um cozinheiro como o seu pai; acredite, nem por isso valia a pena. Por quê? Porque encontros em família significavam socializar, e a gozação de suas primas tirava Maeve do sério. Eram incrivelmente insuportáveis, sendo melhor evitar interação o quanto possível, mesmo.

Socializar com pessoas da sua idade, porém, não era um problema no passado. Maeve costumava ser extrovertida, engraçada e sempre liderava as brincadeiras quando era criança. Algo aconteceu, porém, e sua visão sobre as pessoas mudou. Ela acorda para ir à aula, evita interagir, e pensa no momento de chegar em casa e se divertir jogando. Quando fazia alguma "amizade", como sempre, era totalmente posta em último lugar das suas prioridades; se trancar em seu quarto sendo a primeira.

Ela negligenciava as pessoas, ou até mesmo situações envolvendo outras pessoas. Era uma atitude que a tornava desconfiada, quase receosa. 'Perda de tempo', pensava, sempre justificando suas escolhas. Se irritava quando seus pais questionavam sobre sua mudança repentina de atitude. "Você está bem?", "O que aconteceu? Você mudou", "Era tão mais animada antes". Os seus últimos dias na antiga escola foram insignificantes, os anos passaram como se fossem uma memória esquecida.

Recomeçar. Era essa a palavra que pensava enquanto refletia esses dias, depois de se acalmar, sobre sua proibição de jogar. Ou melhor, "Restart''. Quando foi que ela parou de se importar com todos à sua volta? Se no passado ela já foi alguém comunicativa, gentil com todos ao seu redor, teria como voltar a ser, certo? Ou pelo menos um pouco do que deixou para trás possa ressurgir de novo. Esses devaneios foram se tornando mais frequentes até chegar o seu primeiro dia de aula na escola nova.

Estava desacostumada a interagir e socializar, mas o desafio até que a cativava. Decidiu acordar motivada, e determinada a fazer novas amizades. Saiu correndo para tomar o café, depois de colocar seu melhor tipo de roupa, que sempre usa quando sai de casa: jeans e blusa larga. Amarrou seu cabelo tingido cor cinza, em um rabo de cavalo, pegou sua mochila e desceu as escadas. Dava para ouvir um barulho de frigideira estalando, e de uma voz característica. Era seu pai que estava na cozinha, cantarolando. Ele a viu e disse:

— Para onde vai com essa pressa toda? — Estava preparando um "brunch", parecia delicioso, típico ovos com torrada, mas tinha presunto e um toque de especiarias.  — Preparei ovos e torradas, exatamente como você gosta. Lembra da última vez que pediu?

Maeve estava praticamente saindo pela porta, mas parou de repente; pegou as torradas e as devorou às pressas.
— Obrigada, pai! Estou de saída!

— Mas já? — Ele mal conseguiu terminar de falar antes de ouvir o som da porta batendo enquanto sua fala pairava no ar. Ele bufou, olhando para as torradas intocadas, e pensou: "Quando a mãe dela chega do trabalho? Está na hora de eu ir também, e sobraram torradas".

"Será que eu consigo ao menos manter uma conversa decente com alguém?"

Maeve estava cheia de empolgação enquanto aguardava no ponto de ônibus; assim que entrou no veículo e deparou-se com uma fileira barulhenta de estudantes, seu entusiasmo sumiu quase que instantaneamente. Parecia que sua confiança tinha evaporado.

Level Up Your Heart!Where stories live. Discover now