🏴‍☠️ O anel claddagh 🏴‍☠️

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A manhã chegou cedo demais. Chaeyoung abriu os olhos. Havia dormido apenas um pouco, a mente borbulhando. Jimin estava parado junto dela com os olhos remelentos.

— É melhor eu ir — disse ele. — Quero ver se tudo está pronto para o funeral.

Chaeyoung confirmou com a cabeça.

— Vejo você lá, não demoro. — Ela se levantou do catre e o abraçou de novo.

Quando a porta se fechou, Chaeyoung sentou-se outra vez. A falta de sono e todas as ansiedades que lhe passaram pela cabeça a haviam deixado com uma sensação de enjôo.

Preparou-se o suficiente para olhar pela escotilha. Havia pouca coisa para ver lá fora, além das ondas batendo, do céu e do mar cinzentos, na maior parte indistinguíveis um do outro. Era um tempo adequadamente triste para o funeral de Joohoney.

De repente sentiu uma dor lancinante nos olhos. Era tão aguda que a afastou da janela e a fez recuar para a cama. Ficou ali deitada, recuperando o fôlego, a mão cobrindo instintivamente os olhos.

O que havia acontecido? Abriu os olhos de novo mas, ao fazer isso, sentiu outra pontada de dor. Fechou-os de novo, tentando não entrar em pânico. Não entendia o quê estava acontecendo.

Por instinto, levou a mão ao anel Claddagh, de Lisa. Quando o polegar e o indicador se fecharam ao redor dele, sentiu-se no mesmo instante mais calma. Seria sua imaginação ou o anel estava ligeiramente quente ao toque? Apertou-o e, ao fazer isso, o calor do metal aumentou.

Nesse momento, começou a ouvir barulhos na cabeça. Ouviu o som de passos e vozes distantes. De algum modo, sem abrir os olhos, sabia que os ruídos não eram do Diablo. Ela estava tendo uma “visão” — se é que poderia chamar assim, quando não podia ver nada além de uma escuridão opaca e nevoenta.

O anel ficou ainda mais quente em sua mão. Tinha a sensação de estar se movendo.

Seus passos eram muito mais ruidosos do que qualquer um que já tivesse dado. Era como se usasse botas pesadas, batendo irregularmente em tábuas de convés.

Sentiu a mão se estender e empurrar alguma coisa. Uma porta. Sua mão se estendeu. A porta devia estar se abrindo. Pôde ouvir o ranger de uma dobradiça antiga. E então uma voz.

— Lisa.

O nome a eletrizou. Prestou atenção, tentando reconhecer quem falava.

— Lisa — repetiu a voz. Era a voz de uma garota, mas Chaeyoung não conseguia situá-la. — O que está fazendo aqui? É manhã. Hora de descansar. — Havia cautela na voz da garota, até mesmo medo.

Agora o anel estava quase quente demais para ser tocado. Mas Chaeyoung sentiu um desespero para não soltá-lo, percebendo que, se fizesse isso, a visão desapareceria.

— Desculpe. — Reconheceu imediatamente o sotaque de Lisa. Era mágico ouvi-la de novo, em qualquer circunstância.

— Você perdeu o caminho? — Era a garota de novo. O medo dera lugar à pena.

Chaeyoung podia ouvi-la na mudança de tom. Perdeu o caminho? Como assim?

Se ao menos Chaeyoung pudesse ver o navio, além de escutar. Apertou o anel no polegar e no indicador, com mais força ainda.

Agora ele a estava queimando. Mesmo assim não viu nada além da névoa mas, enquanto o metal parecia cortar sua pele, ouviu com mais clareza ainda os sons do navio dos vampiros.

— Desculpe. — Lisa outra vez.

— Não — respondeu a garota. — Tudo bem, Lisa. Tudo bem. Me dê sua mão.

Vou levá-la de volta à sua cabine.

— Posso encontrar o caminho de volta — disse ela, a voz com um orgulho e uma raiva pouco característicos.

— Espere!

Mas agora a voz da garota estava mais fraca. Chaeyoung teve de novo a, sensação de movimento. Movimento irregular. Mãos se estendendo. E então um tropeço. Sentiu enjôo quando a sensação de queda tomou conta de seu corpo. O anel estava quente demais para segurar. Ofegou e soltou-o. Seus olhos se abriram.

Ficou deitada na cama da pequena cabine no navio pirata, com a respiração acelerada. O polegar e o indicador pareciam feridos e doloridos onde o anel Claddagh havia queimado. No entanto, quando levantou a mão, não existia marca.

Nenhuma marca. Não conseguiu entender.

Sabia que tinha feito uma viagem ao navio dos vampiros. Não uma viagem como a que Jisoo fizera ao Diablo. Era mais como uma visão — como a primeira vez em que encontrara o capitão do navio dos vampiros e sua cabeça se encheu com a imagem súbita de carne se rasgando e sangue vermelho sobre a pele escura.

Mas essa nova visão era mais constante do que aquela, mais linear. Era como se tivesse entrado na cabeça de Lisa. Pôde ouvir sua conversa. Sentiu os movimentos dos braços e dos pés dela. Havia sentido — agora percebia — algo da dor dela.

Tinha algo a ver com os olhos. Como se... por favor, não... como se ele não conseguisse enxergar direito. Sentiu um pânico gelado se espalhar pelas veias do corpo enquanto as lembranças fluíam de volta, como a maré retornando.

Na manhã em que Jimin abordou o navio dos vampiros, Lisa havia permanecido no convés para protegê-la. Tinha ficado mesmo depois de Jisoo soar o Toque do Amanhecer — quando todos vampiros são chamados para dentro, para longe da luz.

A luz era perigosa para eles — extremamente perigosa. Só o capitão podia se aventurar na luz. Mas Lisa havia permanecido fora, por causa dela. Seria possível que, ao fazer isso, ela tivesse machucado os olhos? Será que ficou cega?

O que dizia o bilhete de Lisa?

... Algo para se lembrar de mim. Viaje em segurança! Viaje em segurança!

Será que Lisa podia estar lhe mandando uma mensagem através do anel? Precisava retornar ao navio dos vampiros. Mas como?

Nesse momento soou um tiro de canhão. Chaeyoung deu um pulo. O tiro de canhão era o sinal para subir ao convés. O funeral de Joohoney estava para começar. Ela estava atrasada!

Siblings Park - Maré de terror -Onde histórias criam vida. Descubra agora