28 - Oi, Tina!

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— Amor, onde está o... — seu corpo gelou e ela parou antes mesmo de chegar no último degrau ao ver a ex-namorada sentada confortavelmente em seu sofá — O que faz aqui? — lhe direcionou um olhar furioso

— Nós precisamos conversar, é importante! — Emily se pôs de pé rapidamente

— Nós não temos nada para conversar! — disse ríspida terminando de descer as escadas, olhou para a cozinha e viu a namorada à beira do fogão, Natasha trocou um olhar com a esposa, mas não disse nada

— Por favor, Tina, é realmente muito importante - Emily pediu, o desespero era palpável em seu tom de voz

— Nunca mais me chame assim — Maria disse se referindo ao apelido que Emily havia lhe dado por causa de seu segundo nome, Christina

— Mãe — Peter chamou descendo do banco e indo até ela — A mamãe tá fazendo chocolate quente com quatro marshmallows — ele disse fazendo o número quatro com a mão

— Isso é ótimo filho — ela falou se abaixando para ficar na altura do menino — Você tá melhor? — perguntou repetindo o ato que Natasha fez minutos atrás para checar a temperatura do filho

— Ainda tá doendo um pouquinho — o menino respondeu mostrando o nível da dor com os dedinhos, Maria deixou um beijo em sua testa e sussurrou um "vai passar" no ouvido dele antes de se levantar

— Porque deixou ela entrar? — Hill perguntou para a esposa

— Ela parecia bem assustada, dá uma chance pra ela falar, pode ser importante. E talvez seja bom pra você esclarecer o que ficou mal dito de uma vez — Natasha disse baixo quando se aproximou — Vamos estar lá em cima no quarto assistindo desenho, qualquer coisa chama — lhe deu um selinho e pegou na mão do filho indo em direção a escada

Maria suspirou e enfim entrou na sala se aproximando um pouco mais de Emily. Ela não queria falar com a ex. Não tinha nada para falar com ela. Mas decidiu lhe dar uma chance como Natasha sugeriu.

— Você tem cinco minutos — falou cruzando os braços e esperando que ela começasse a falar

— Eu preciso da sua ajuda, sei que trabalha para a Shield — Emily disse e viu Maria arquear a sobrancelha desconfiada

— Do que está falando? — Hill se fez de desentendida enquanto analisava cada movimento da mulher

Emily não deveria saber que ela trabalha na SHIELD, ninguém que não trabalhasse lá deveria saber da existência da agência. Durante todo o tempo que estiveram juntas, Maria sempre disse que trabalhava para o FBI.

A mulher levou a mão dentro do casaco e Hill rapidamente sacou uma das inúmeras armas que escondia em pontos estratégicos da casa.

— Calma, calma — Emily levantou as mãos pro alto e mostrou um pequeno dispositivo, com calma ela jogou no chão e pisou em cima — Era uma escuta

Maria ainda se manteve na defensiva apontando a arma para a ex. Emily suspirou e se sentou novamente no mesmo lugar em que estava antes.

— Há dois anos, minha galeria de artes em Paris foi à falência. Depois de esgotar todas as minhas possibilidades, eu decidi pegar um empréstimo, mas o banco me negou, então fui procurar outra pessoa que pudesse me ajudar

— Você pediu dinheiro a um agiota? — Maria a interrompeu

— Bom, eu não tinha outras opções melhores no momento — deu de ombros como se aquela fosse uma prática comum — Caleb foi muito gentil

— Claro que foi — Hill revirou os olhos

— Ele me emprestou bem mais do que eu realmente precisava, eu estava desesperada então aceitei. Por dois anos ficou tudo bem, eu direcionei metade do valor da venda de cada obra para ele afim de quitar a dívida, mas aí as vendas começaram a ir mal outra vez e eu ainda tinha metade da dívida para pagar — Emily suspirou fazendo uma pausa — Será que não tem nada para beber?

Maria revirou os olhos — Não, vá direto ao ponto, Emily. Meu tempo é precioso

— Há algum tempo que eu não o pago, e então no mês passado ele veio me cobrar — ela levantou a blusa e mostrou alguns cortes superficiais já em estado de cicatrização — Antes de ir ele disse que se eu não arrumasse o dinheiro até o fim da semana ele voltaria, e ele voltou... Disse que tinha uma forma para que eu quitasse a minha dívida de uma vez por todas — engoliu a seco tentando encontrar as palavras certas — Eu deveria espionar alguém para ele, me aproximar e descobrir o máximo possível sobre a rotina de uma pessoa e lhe dizer cada mínimo detalhe

— Suponho que essa pessoa seja eu — Maria falou

— Não, é a sua esposa

Hill estremeceu e engoliu a seco ao ouvir a confissão. Porque a Natasha? Quem era esse Caleb e o que ele tem a ver com a ruiva?

— Ele me explicou o plano e me entregou uma ficha com algumas informações, uma foto e um nome, Natalia Alianovna Romanov. Assim que eu a vi eu tive a certeza que já a conhecia, havia a visto nos jornais várias vezes nas últimas semanas, mas na tv a chamam de Natasha Romanoff uma das super-heroínas que salvou Nova York dos alienígenas... Eu imediatamente neguei, quem sou eu pra investigar alguém, ainda mais alguém como a Natasha — ela riu nervosamente — Mas ele disse que eu não tinha escolha, e que era algo simples, eu não precisava me aproximar se eu não quisesse, apenas estar por dentro dos seus horários de saída e lugares para onde vai

— E porque tá aqui me contando essas coisas? Tenho certeza que isso não faz parte do plano dele

— Tem razão — Emily suspirou — Eu não posso fazer isso, Maria, não mais. Eu preciso de ajuda, cansei de viver com medo. Eu tentei seguir a Natasha, tentei fazer o que ele pediu, mas tem noção do quanto isso é difícil? — questionou, mas Maria não respondeu e ela apenas riu como se tivesse falado algo idiota — É claro que tem, você é uma agente do governo...

— Porque eu deveria acreditar em você? Até onde eu sei, isso pode fazer parte do seu plano para se infiltrar nas nossas vidas. Aliás, como ele soube que você me conhece?

— Hãm... Eu não sei, Caleb não é um agiota qualquer, ele é um homem poderoso, tem recursos, deve ter investigado minha vida para saber como eu poderia ser útil para ele já que não paguei a dívida

Maria escutou a justificativa, mas não disse uma só palavra. Aquela história estava muito mal contada.

— Eu sei que você não tem motivos pra confiar em mim, sequer para me ajudar, mas eu realmente não sei mais a quem recorrer, te garanto que não estou aqui para fazer nenhum mal a você ou sua família, você me conhece — disse e deu um sorriso fraco

— Conheço? — Maria perguntou vendo a mulher se levantar

— Conhece. Eu continuo sendo a mesma pessoa, Tina

— Se afasta — Hill deu um passo atrás ainda apontando a arma para a mulher — Como descobriu onde eu trabalho?

— Caleb me contou, ele me explicou o que era a SHIELD e disse que eu deveria me reaproximar de você porque você era a chave para encontrar Natasha, eu imaginei que fosse pelo fato de vocês trabalharem juntas, mas pelo visto é mais que isso — disse abaixando o olhar — Fico feliz que tenha encontrado alguém, você parece feliz

— O que espera que eu faça? — Hill perguntou ignorando o último comentário da ex

— Eu não sei, prender ele?

— Você deveria ter ido à polícia

— Ele saberia, Caleb sabe de tudo, você é minha última esperança. Temos um alvo em comum, você quer proteger sua esposa e eu quero me proteger, todos ganham

Maria suspirou. A vice-diretora não sabia que atitude deveria tomar diante daquela situação. Emily poderia estar mentindo e isso tudo era uma armadilha, assim como ela também poderia estar dizendo a verdade e provavelmente estaria correndo risco de vida podendo ser morta no momento em que colocasse os pés pra fora de sua casa.

E agora, o que ela faria? Deixaria o passado de lado e daria um voto de confiança a Emily ou a mandaria embora para lidar sozinha com a enrascada em que se meteu?

Segunda Chance | BlackHillOnde histórias criam vida. Descubra agora