10 - Eu Não Queria

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Depois de se perderem incontáveis vezes entre os lençóis, Maria e Natasha finalmente se deixaram vencer pelo cansaço e dormiram aconchegadas nos braços uma da outra.

Eram quase quatro da manhã quando Maria acordou com o choro abafado de Natasha.

— Ei, Nat - chamou baixinho, a ruiva estava de costas para ela - Tá tudo bem?

Natasha choramingava e resmungava algumas palavras em russo. Maria as identificou como as mesmas que escutou quando a russa estava tendo um pesadelo meses atrás.

A morena se sentou na cama e acendeu o abajur.

— Natasha, acorda - falou um pouco mais alto, mas nada, a ruiva parecia estar presa em sua própria mente

Não, por favor - choramingava, o coração de Maria se partiu vendo a ruiva daquela forma, seja lá com o que ela estivesse sonhando, era muito ruim - Eu não quero, eu não posso fazer isso - repetia em russo

— Natasha, acorda - tentou mais uma vez e nada então Maria a virou para si - Não é real, Nat, você precisa acordar! Anda vamos, acorde!

Natasha deu um pulo na cama e despertou levando a mão em baixo do travesseiro, Maria sabia porque.

— Tá tudo bem, eu tô aqui - olhou pra ruiva com carinho e a abraçou - Não precisa dela, está segura comigo - deu beijo em sua testa - Quer conversar sobre isso? - perguntou depois dela se acalmar

Natasha assentiu e limpou as lágrimas.

Abriu a boca diversas vezes mas desistia logo em seguida, Romanoff tentava achar não só as palavras certas, mas a coragem também. Era um assunto delicado, difícil, ela queria poder falar, tirar aquele peso das suas costas e talvez quem sabe receber um pouco de apoio ou um ombro amigo, mas ela não sabia por onde começar.

— Tá tudo bem se não estiver pronta pra falar - Maria falou gentilmente pegando em sua mão

— Não, eu quero, só não sei como começar - suspirou

— Que tal falar um pouco sobre o que estava sonhando agora? - sugeriu

— Minha cerimônia de iniciação - disse desviando seu olhar da morena - Assim que as garotas completam dezoito anos na sala vermelha, passamos por uma cerimônia de iniciação que é dividida em dois passos. O primeiro é... - engoliu a seco, ela não gostava de lembrar - Somos submetidas a uma esterectomia obrigatória - deixou que algumas lágrimas escapassem, Maria não sabia o que dizer então apenas a abraçou e deu espaço para que ela continuasse ou não - E o segundo é nossa primeira morte. Ela era só uma criança, eu não podia, eu não queria apertar o gatilho - começou a chorar novamente enquanto se encolhia nos braços da morena

Maria nunca vira Natasha tão quebrada assim. Ela jamais poderia imaginar, tinha uma certa noção de que a sala vermelha abusava de diversas formas das crianças em seu treinamento, mas nunca pensou que fossem tão cruéis assim. Hill não era do tipo que concertava pessoas quebradas, mas para Natasha ela abriria uma excessão. Ela estava disposta a ser a pessoa que ajudaria Natasha a passar por aquilo da forma correta, sem esconder ou ignorar os sentimentos como a ruiva costumava fazer.

— Tá tudo bem, já passou - sussurrou enquanto a abraçava - Você não teve culpa, Nat

— Então porque eu não consigo esquecer? Já tirei tantas vidas, mas essa é que mais me assombra

— Você foi manipulada desde muito nova, e tirar a vida de alguém é um trauma muito grande para uma jovem carregar, mas você tem que saber que não foi sua culpa. Nenhuma dessas mortes foram - disse olhando em seus olhos - Eles fizeram isso Nat, não você! - a ruiva escutava cada palavra com atenção - Vai ficar tudo bem, a partir de agora você não vai mais lidar com isso sozinha, faremos isso juntas - Maria sorriu fraco enquanto acariciava o dorso da mão de Natasha

Natasha sabia que aquele trauma não sumiria da noite pro dia, mas pela primeira vez em toda a sua vida ela teve uma pontinha de esperança de que ele sumiria em algum momento.

***

— O cheiro tá maravilhoso - Natasha disse entrando na cozinha e abraçando a morena por trás - Bom dia!

— Bom dia! - desejou se virando de frente para a outra mulher - Dormiu bem?

— Perfeitamente - sorriu e lhe roubou um selinho -  O que vamos fazer hoje? - perguntou se sentando em um dos banquinhos da ilha enquanto Maria terminava de fazer as panquecas

— Não sei, geralmente eu trabalho aos sábados ao invés de aproveitar a folga

— Nós já trabalhamos a semana toda, vamos aproveitar que temos um dia livre do Fury

— Até surgir uma emergência - a morena riu

— Vira essa boca pra lá, Maria - Romanoff revirou os olhos - Vamos fazer algo diferente - sorriu como uma criança ao ter uma ideia mirabolante

— Devo me preocupar?

— Não, você vai adorar, tenho certeza - disse e Maria lhe olhou desconfiada

Assim que terminaram seu café, elas foram tomar um banho juntas. O que normalmente duraria uns quinze ou vinte minutos se estivessem sozinhas, demorou quase uma hora. Depois de finalizarem o banho, elas se arrumaram e saíram. Natasha pediu que Maria deixasse o carro no estacionamento do shopping e explicou que de lá elas seguiriam andando, a ruiva ainda mantinha em segredo o lugar para onde iriam.

— Você tá brincando - Maria disse abriu um enorme sorriso quando elas chegaram no lugar - Você tinha razão, eu adorei - falou animada e viu um sorriso bobo brotar nos lábios de Romanoff

Natasha a havia levado para uma pista de boliche, um dos lugares favoritos de Maria quando criança.

— Tenho que admitir, você é boa - Natasha disse após Maria lançar sua primeira bola e derrubar todos os pinos de uma vez

— É um dom - lhe lançou um sorriso convencido e pegou outra bola para entregar a ruiva - Sua vez - disse em um tom desafiador

Natasha adorava desafios. A ruiva se levantou e se preparou. Respirou fundo e lançou a bola na pista.

— Foi quase, amor, quem sabe na próxima - Maria disse quando os pinos caíram mas um ainda se manteve de pé, ela estava tão focada no jogo que nem se deu conta da forma que havia chamado a ruiva

— Vou errar mais vezes se for pra escutar você me chamar assim - a ruiva disse se aproximando e envolvendo seus braços na cintura da morena

Ao se dar conta de como acabara de chamar Natasha, Maria sentiu suas bochechas queimarem mas então sorriu quando percebeu o sorriso bobo que enfeitava os lábios da ruiva.

— Acho que não vai precisar errar pra escutar isso - disse lhe dando um selinho

Elas ficaram por um bom tempo na pista de boliche, até que a fome se fez presente novamente e elas decidiram finalizar o jogo e ir almoçar. Após a refeição, elas voltaram para pegar o carro no estacionamento do shopping, mas decidiram dar uma volta pelo estabelecimento antes de irem pra casa.

Estavam tomando um sorvete, quando seus celulares tocaram ao mesmo tempo.

— E não é que a emergência apareceu - Maria disse ao ler a mensagem de Fury

— O que ele quer com a gente em pleno sábado? - Natasha perguntou um pouco irritada, seu dia estava sendo bom demais para ser verdade

— Eu não sei, mas deve ser importante ou ele não chamaria nós duas no fim de tarde de um sábado

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O que será que o Fury tá aprontando? 👀

Vejo vocês no próximo capítulo!

Segunda Chance | BlackHillWhere stories live. Discover now