Capítulo 10

309 58 10
                                    

Pov. Ingrid

Ele me encara ainda meio abismado, acho que tentando juntar todas as informações em sua cabeça, não o julgo apenas despejei tudo que estava entalado na minha boca desde que o vi no hotel, sinceramente nem consigo me lembrar de tudo que acabei falando parecia uma matraca e o arrependimento começava a bater agora.

- Tá bom, acho que podemos ir por partes. Primeiro que eu não te dei um bolo dez anos atrás por que quis, tive um bom motivo para faltar aquele dia, mas não consegui conversar com você no dia ou nos dias posteriores, não ajudou muita coisa você ter me bloqueado em todas as redes sociais, e soma isso aí fato de você nunca ter me contado onde morava ficou impossível te encontrar e esclarecer as coisas.

- Eu não te bloqueei... - se minha mãe me visse mentindo assim com certeza me daria um tapa na nuca e puxaria minha orelha.

- Como eu já disse várias vezes, você é uma péssima mentirosa, e aposto que se você me stalkeou foi por alguma conta falsa, que nem daquela vez que você me disse que gostava de Erick Souza no primeiro ano, lembra?!

Isso não é bem uma verdade, já que essa foi a primeira e única vez que consegui mentir para Ethan e ele não descobriu, como sempre acontecia.

A verdade é que eu já era apaixonada por Ethan desde a primeira vez que nos falamos e ele me defendeu de uns garotos idiotas que puxaram minhas trancinhas e zombaram da minha camisa do Nirvana, como se uma criança não pudesse ter bom gosto musical, e desde esse dia, com apenas nove anos, meu coração idiota se apaixonou por Ethan, como se ele fosse um lindo príncipe que resgatou a princesa de sua torre.

Mas no ensino médio não era muito fácil esconder essa minha paixonite que já era gritante pelo meu melhor amigo que por vezes me defendia das piadas idiotas que os garotos faziam sobre o meu corpo, as meninas não me incomodavam, elas viam como éramos próximos e tentavam se aproximar de mim para poder chegar até Ethan, e eu sinceramente nunca me deixei enganar, sabia bem o que elas queriam, e nunca era minha amizade.

No primeiro ano do ensino médio Ethan já deixava suspiros por onde passava e eu não era imunes a ele, mas tive a brilhante ideia de externar isso em meu caderno, como nesse ano não éramos da mesma sala não achei que ele veria nada, então como uma boba apaixonada que era escrevi a sua inicial na capa do meu caderno cercada de corações e alguns poemas apaixonados que toda menina escrevia em cartinhas e dava aos seus crushes na época, nunca me passou pela cabeça que em uma noite de filmes, enquanto eu ia ao banheiro ele folhearia meu caderno que estava na minha escrivaninha e descobriria a única coisa que nunca compartilhamos, me perturbou muito a cabeça para descobrir quem era a tal pessoa com  a inicial "E", confesso que me magoou um pouco que nem por um segundo passou pela sua cabeça que essa pessoa seria ele, mas me contive e falei o primeiro nome que veio na minha cabeça, Erick Souza, um menino gordinho e tímido da minha sala, não éramos necessariamente amigos, mas era um dos únicos que não parecia ter vergonha de falar comigo ou fazer trabalhos em duplas já que o resto dos alunos ou me ignorava ou fazia piadinhas no fundo da sala, eu fingia não ver ou ouvir, mas me machucavam da mesma forma.

Essa foi a única vez que consegui mentir para ele já que ele julgou que minhas bochechas coradas e a voz aguçada eram de vergonha e não de uma mentira, já que esses são os sinais mais claros de que estou mentindo. Depois desse dia ele vigiava o menino como um cão raivoso, dizia estar me protegendo e que queria ter certeza que de alguma forma ele era bom para mim e acabei tendo que fazer um perfil falso na rede social para fingir que estava mesmo interessada em Erick, não que ele não fosse bonito, apesar de não ser muito alto, ele não possuía muitas espinhas e era muito inteligente, gostava de músicas tanto quanto eu, mas o meu coração já tinha dono, um dono que não me via como uma pessoa namorável, apenas uma boa amiga e confidente, me contava tudo, como quando ele me contou que perdeu a virgindade com Milena, uma menina loirinha, bonita e burra como uma porta, por qual todos os meninos babavam, eu pude jurar que escutei o meu coração se quebrando como se fosse um espelho fino e frágil esse dia.

Quando Erick começou a namorar tive que fingir estar triste, o que me rendeu muito sorvete e uma noite de filmes com Ethan, enquanto ele despejava uma série de insultos ao pobre garoto que não tinha nem um pouco de culpa.

- Tá eu te bloqueei, mas não é como se eu já não tivesse feito isso outras vezes. - eu tinha a péssima mania de bloqueá-lo todas as vezes que ele me irritava com alguma piadinha ou brincadeira idiota.

- Só que diferente das outras vezes eu não tinha como ir na sua casa levar algum cd ou livro novo como pedido de desculpas.

Ele com certeza tem o seu ponto, mas não foi muito fácil essa época da minha vida, mamãe estava sofrendo, nós duas estávamos nos adaptando a uma realidade totalmente diferente e saber que ele podia simplesmente seguir sua vida como se eu não tivesse feito parte dela enquanto eu ainda estava de alguma forma presa ao passado não foi nada fácil.

- Me desculpe por isso, não fui a pessoa mais madura do mundo naquela época e acho que não soube muito bem lidar com isso.

Ele parece ficar realmente surpreso com meu pedido de desculpas e se afasta um pouco, o que me permite respirar com mais facilidade, ter Ethan tão perto não era uma tarefa fácil quando éramos adolescentes e agora que ele é um homem feito e incrivelmente ainda mais lindo, se tornou uma tarefa impossível.

- Eu só te perdoo se sair comigo amanhã e continuarmos essa conversa para que eu possa me explicar também.

- Ainda é um chantagista?

- Só sei usar as circunstâncias ao meu favor. - o seu sorriso presunçoso dança em seus lábios e tenho que fazer um esforço sobre-humano para não cair em tentação.

- Amanhã eu trabalho.

- Vai trabalhar aqui a noite? Podemos nos encontrar mais cedo, no horário do almoço.

- Eu vou estar trabalhando em um restaurante na avenida Brasil durante o café e almoço. - ele me olha curioso parecendo surpreso com a informação de que possuo mais do que um emprego, disposta a acabar com isso e finalmente poder pensar sem tê-lo tão perto penso na melhor solução possível. - Se quiser mesmo pode me encontrar na segunda-feira, eu vou estar nesse endereço das quatro até às cinco da tarde. - passo por ele e pego um papel e uma caneta dentro da minha bolsa no armário e anoto o endereço da sorveteria que trabalho no único horário que estarei disponível. - Agora eu preciso voltar a trabalhar.

Como se o universo estivesse esperando o momento perfeito ouço alguém forçar a maçaneta e bater na porta quando não consegue abrir, olho para ele e estendo as duas mãos, uma para entregar o endereço e outra para pegar a chave, uma troca justa. Ele põe a mão no bolso e retira a pequena chave com um chaveiro da logo da boate e me estende, pego a chave e ele o endereço, já estou caminhando em direção a porta quando sinto sua mão segurar o meu pulso, uma onda de eletricidade passa por todo o meu corpo e arrepia os meus pelos instantaneamente, só espero que ele não tenha percebido.

- Espero que não esteja tentando me despistar de novo Boo. - minha garganta seca na hora, sua voz é baixa e muito próxima do meu ouvido, e o fato dele ter usado meu antigo apelido não ajuda em nada minha situação. - Não me faça ter que contratar um detetive para te achar.

- Você não faria isso... - minha voz não é nenhum pouco confiante, pois eu sei que ele faria isso sim.

- Sabe que eu faria, mas quero que tenhamos confiança um no outro.

Dito isso ele me solta e espero alguns segundos até confiar nas minhas pernas de novo e em dois passos chego na porta e a destranco, não encontrando ninguém do outro lado da porta, seja lá quem bateu deve ter desistido, o que eu agradeço aos céus já que seria embaraçoso demais explicar o porque estava trancada em uma sala sozinha com um homem que nem é funcionário do lugar.

- Tchau Ethan. - me viro para me despedir e apreciar um pouco mais da beleza do meu antigo amigo.

Inesperadamente ele avança os poucos passos que nos separam, segura firme em minha cintura e deixa um beijo longo em minha bochecha, todo o meu corpo parece entrar em combustão instantânea.

- Até logo Boo, nos vemos na segunda. - e simplesmente se afasta e some na multidão de pessoas dançando.

Acho que a tarefa de não enlouquecer está indo por água à baixo.



Oie Pessoinhas

Prontas para começar esse ano por aqui??

Duas Vezes AmorWhere stories live. Discover now