Capítulo 5

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Pov. Ethan

- O que está fazendo aqui?! - não queria que a primeira coisa que saísse da minha boca ao encontrá-la soasse tão grosseira, mas era muito difícil ignorar toda a situação.

- Trabalhando.

Sempre odiei suas respostas tão objetivas, e pelo visto nem o tempo tinha mudado essa característica.

- É sério que é só isso que vai responder, não vai nem ao menos perguntar como eu estou?

Ela parece ficar envergonhada e abaixa a cabeça, pelo menos uma reação verdadeira da antiga Ingrid que eu conhecia.

- Me desculpa, mas encontrar você aqui e assim não estava bem nos meus planos hoje.

Olho mais uma vez para todo o seu corpo e caminho até minha mala tirando um par de chinelos e colocando à sua frente, ela me olha hesitante, mas os calça.

- Demorou um pouco, mas finalmente consegui te encontrar né?!

- Eu não estava me escondendo de você. - sua voz já não é mais tão baixa quanto antes, mas ainda não olha nos meus olhos enquanto fala.

- É só o que eu poderia imaginar quando alguém vai embora e não responde mais nenhuma mensagem, nem ligações ou quando eu não faço nem noção de em que lugar ela mora.

- Acho que aqui não é hora nem lugar para falarmos sobre isso, e além de tudo eu estou trabalhando.

Sua rispidez em relação a mim é uma coisa totalmente nova e não estava preparado para isso, ela me vira as costas e sai do quarto indo em direção a um carrinho enorme cheio de produtos de limpeza.

- Aonde você vai? Precisamos conversar.

- Senhor, se tiver alguma queixa contra o meu serviço é só informar ao gerente.

- Ingrid, por Deus! É sério! - seguro no seu pulso quando ela faz menção de ir embora e a puxo de encontro à mim.

Pela primeira vez depois de dez anos consigo ver o seu rosto bem de perto, as sardas quase invisíveis em volta do nariz, os olhos castanhos que me encaram arregalados, a boca em formato de coração...

- Ingrid, meu amor, cadê você? - só percebi a nossa proximidade quando uma voz de homem a chama e ela se afasta.

Olho em volta e não vejo ninguém no corredor além de nós dois, até penso que possa ser coisa da minha cabeça, mas vejo quando Ingrid pega uma espécie de walkie-talkie do carrinho e aperta um botão para quem quer que seja do outro lado possa escutá-la.

- Oi Luc, o que aconteceu?! - diferente de quando conversava comigo, ela fala com carinho com esse tal de Luc, e fico me perguntando quem é o cara.

- Tentei te ligar, mas não consegui. Ainda não acabou? Olha a hora meu amor, vamos nos atrasar.

- Desculpe, acabei me enrolando aqui, já estou indo. Me encontra no primeiro andar por favor, e me trás a minha mochila.

Ela desliga o rádio e parece surpresa ao ver que ainda continuo no mesmo lugar a encarando de braços cruzados. Dez anos haviam se passado, mas parecia muito mais, acho que não conhecia mais nada sobre a vida de Ingrid.

- Então, tchau né!

- Você vai embora mesmo?!

- Olha Ethan, sinceramente, já tivemos a oportunidade de esclarecer muitas coisas no passado e não deu certo, não sei porque você quer tentar isso de novo.

- Se me der a chance de explicar eu sei que você vai...

- Eu te dei essa chance, um tempo atrás, há nove anos para ser mais exata. Combinamos de nos encontrar se lembra?! - ela nem me dá a chance de responder e continua. - Eu te esperei, te esperei por cinco horas plantada numa sorveteira do parque Ibirapuera aonde combinamos e você não apareceu! E enquanto estava lá, uma coisa horrível estava acontecendo e eu nem sabia. E mesmo depois disso tudo, não me ligou, não me deu uma explicação sequer, então não me julgue por não estar afim de escutar agora.

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