30_ Ressaca

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( Narrado por Sophia )

Bom dia! ㅡ Já levaram uma pancada na cabeça? Uma tijolada? Uma martelada? Já caíram e bateram com a cabeça no chão? Não? Eu também não, mas estava sentindo uma dor como se tivesse sido atropelada e a roda passou por cima da minha cabeça. Se alguém dissesse que meu corpo estava estirado no asfalto por ter sido atropelada, eu acreditaria. Mas, ao contrário de alguém falando isso, tudo que escutei foram várias vozes cantando bem alto enquanto batiam em algo, talvez tampas de panela.

ㅡ Que merda é essa? ㅡ Reconheci a voz de Íris e abri os olhos com dificuldade. Onde é que eu estava??

O sol já nasceu lá na fazendinha
Acorda o bezerro e a vaquinha
E já cocoricou dona Galinha... ㅡ Levei um tempo para reconhecer o quarto e as vozes berrando por ele. A cada palavra cantada/gritada naquela música, minha cabeça latejava como se ao invés de estarem batendo nas panelas, batessem em mim.

Levanta! ㅡ Continuaram a gritar e eu apertei os olhos. Por que eu estava tão destruída e mal humorada? Por que eu queria matar todos eles? Por que o sol lá fora já estava forte e eu ainda estava na cama? Por que eu não me lembro como diabos vim parar na cama?

ㅡ O que vocês estão fazendo?? ㅡ Reconheci a voz de Trevor e virei de costas, puxando o edredom para cima de mim. Eu não me lembro de nada e certamente nem imagino como está a minha aparência.

ㅡ Acordando elas a moda da fazenda. ㅡ Kevin quem respondeu.

ㅡ É, mas a Sophia deve estar de ressaca. Querem matar ela? ㅡ Trevor voltou a falar e... Ressaca? Eu estou de ressaca? Eu bebi ontem? Ai, meu Deus, eu bebi ontem! É verdade! Eu disse pra Íris que ia beber só um pouco para tentar esquecer um pouco daquela confusão... Acho que bebi demais. O que será que eu fiz?

ㅡ Ai, é verdade. Foi mal, Sophia. ㅡ Os garotos começaram a pedir desculpas e saíram do quarto. Assim que escutei a porta se fechar, me virei novamente e olhei para Íris, com uma touca de cetim na cabeça e um sorriso maroto no rosto.

ㅡ Ele cuida tão bem de você. ㅡ Ela fez a onda com as sobrancelhas.

ㅡ O que eu fiz ontem? ㅡ Minha voz não estava rouca, o que significava que eu, ao menos, não fiquei berrando ou coisa do tipo.

ㅡ Como assim?

ㅡ Eu bebi e não me lembro de nada depois do bar. Não lembro nem de quem venceu o jogo. ㅡ Cocei a cabeça e me sentei na cama. Dali era possível ver parte da fazenda pela janela. Fiquei impressionada com o número de gatos num gramado perto das vacas. Deviam ter uns doze.

ㅡ Fluminense. ㅡ Ela tirou a touca da cabeça e se levantou. ㅡ Por isso o PK está de bom humor ao ponto de vir acordar a gente com a fazendinha. ㅡ Continuei a encarando, esperando que ela contasse mais que o resultado do jogo. ㅡ Ah, você quer saber o que você fez enquanto estava bêbada?

ㅡ Isso!

ㅡ Nada. ㅡ Parte de mim se acalmou. ㅡ Você é centrada até bêbada. Eu pedi pro Trevor te levar pra fora do bar enquanto eu ia no banheiro e quando eu voltei, você estava dormindo no carro. Veio dormindo até aqui e continuou assim depois do Trevor te colocar na cama.

ㅡ O Trevor me colocou na cama?

ㅡ Óbvio! ㅡ Riu. ㅡ Acha que eu ia perder a chance? Eu shippo vocês demais. Foi tão fofo ele te colocando na cama com cuidado e te cobrindo com todo carinho. Acho que ele gosta de você. ㅡ Sua última frase tirou minha atenção do fato que fui carregada por Trevor e não me lembro de nada.

ㅡ Acha?

ㅡ Eu acho. ㅡ Ela andou pelo quarto e se apoiou na janela, olhando lá para fora. ㅡ Eu disse desde o início que não foi coincidência ele ter aparecido quando você falou com uma estrela feito uma maluca. Sem contar o nome do cachorro da sua mãe. ㅡ Ela parou de sorrir de repente. ㅡ Falando na sua mãe... ㅡ Se aproximou. ㅡ Como ela está?

ㅡ De qual está falando?

ㅡ Da nojenta que tem seu sangue. ㅡ Suspirei ao voltar nesse assunto. ㅡ Tem tido notícias dela?

ㅡ Não. Papai diz que eu a preciso visitar, mas...

ㅡ Você não precisa visitar nada. Palhaçada é essa? Ela não merece que você perca tempo com ela. ㅡ Ela tocou o meu ombro. ㅡ Eu só estou perguntando isso porque te conheço e sei que lembrou dela ontem. Não fique se sentindo mal por causa dela, ok? Ela era uma mulher má que não merece a filha que tem. E nada do que ela já disse é verdade. Você é a pessoa mais produtiva e talentosa que eu conheço. ㅡ Sorri para ela antes de abraçar. ㅡ Agora eu acho melhor você tomar um banho, porque ainda está cheirando àquele bar.

Puxei a blusa para perto do meu nariz e assenti com uma careta.

ㅡ Concordo. ㅡ Ri e me levantei para tomar um banho.

[...]

ㅡ Partiu, cachoeira? ㅡ Patrick esfregou as mãos e o pessoal comemorou. Estávamos na varanda da casa dos avós dele já com mochilas para ir até essa tal cachoeira que ele disse ter por perto.

Já havíamos tomado café e almoçado. Eu ainda estava com um pouco de dor de cabeça, mas nada comparado ao que senti quando acordei.

ㅡ Tomem cuidado lá, viu? ㅡ A senhora se aproximou de nós. Novamente ela vestia um vestido florido. Acho que ela devia ter uma coleção com várias cores e flores diferentes. ㅡ E como foi o culto ontem, meu neto?

Olhamos para a cara de Patrick e só com a careta dele, entendemos. O safado continuava mentindo para os avós e disse que fomos a igreja ontem, para não dizer que tínhamos ido a um bar.

ㅡ Foi ótimo, vó. ㅡ Patrick sorriu torto.

ㅡ É mesmo? O que foi pregado?

ㅡ O que foi pregado? ㅡ O desespero estava estampado na cara dele. ㅡ É... Foi pregado sobre... Sobre...

ㅡ Foi pregado o livro de terceira João, capítulo 1 e versículo 4. Onde diz: Não tenho alegria maior do que ouvir que meus filhos estão andando na verdade. O pastor explicou que o prazer de Deus é que andemos no seu caminho. Na sua verdade. Que as vezes é difícil, pois muitas vezes precisamos deixar de fazer nossas vontades, para fazer a de Deus, mas que vale a pena. ㅡ Trevor disse aquilo com tanta calma que até nós acreditamos que ele estava numa igreja ontem a noite.

ㅡ Amém. ㅡ A avó do Patrick assentiu. ㅡ É a mais pura verdade. ㅡ Voltou a sorrir. ㅡ Cuidado lá.

Ela se afastou e todos encararam Trevor.

ㅡ Que foi? Fui criado numa família cristã. ㅡ Ele riu dando com os ombros.

ㅡ Muito... Obrigado. ㅡ Patrick apoiou a mão sobre o ombro dele.

ㅡ Você tem que parar de mentir para eles, isso sim. ㅡ Balancei a cabeça negativamente. Mas ele me ignorou e nós seguimos para a tal cachoeira.

No meio do caminho, um diálogo estranho me veio a mente. Algo sobre um segredo. Algo sobre eu contando um segredo. Eu contei um segredo para alguém ontem? Mas eu só estive com a Íris.

ㅡ Íris? ㅡ A puxei para um pouco distante dos outros. ㅡ Eu te contei algum segredo ontem?

ㅡ Não, por que?

ㅡ Nada. ㅡ Balancei a cabeça e voltei a caminhar.

Se eu não contei para ela. Para quem contei? Espera... Ela disse que me deixou com Trevor para ir ao banheiro. E se eu contei alguma coisa para ele?? E o que seria essa coisa?? Ai, meu Deus...

•••
Continua...

Te Pedi para a Estrela CadenteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora