3 - Acerto de contas

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Enquanto Keiro observa Marine com olhos curiosos, o pai da jovem questiona: "Você já me encontrou. Na verdade, encontrou toda a minha família. Então, sejamos claros e sensatos. Não creio que você veio fazer uma visita. Diga, o que você quer?"

Keiro sorri: "Sim, realmente eu não vim aqui fazer uma simples visita, caro ex-general Koyäng. Estou precisando apenas de um favor seu. Fiquei sabendo que você tem uma nave muito bem conservada guardada em algum lugar desse imenso terreno. Preciso dela."

O pai de Marine, senhor Koyäng, fica bem pensativo. Ele ama tanto a sua família que por ela desistiu de ser um legionário há muitos anos, mesmo assim, o incomoda o fato de ajudar um provável fora da lei: "Posso saber qual é o motivo de você ter vindo parar neste mundo tão distante do seu?"

Keiro começa a rir freneticamente, é perceptível a sua tentativa de controlar o nervosismo. Com olhar ameaçador, ele responde: "Eu não sabia que o senhor era tão curioso. Será que preciso lembrá-lo de que este não é um bom momento para fazer perguntas?"

Koyäng continua calado e pensativo. Veio-lhe à memória o fato de ter sentido a presença de um legionário no início da tarde, mas ele não levou a sério por achar impossível que algum legionário chegasse a Borbol. No entanto, ali estava o pior legionário de toda Ordem dos Sete, filho de um velho inimigo. Ajudar esse homem seria o mesmo que matar inocentes.

Vendo a demora em obter uma resposta, Zira fica furiosa! Ela puxa o braço de Marine para junto de si e aponta a sua arma para a cabeça da jovem: "Eu já estou farta! Vai ajudar a gente ou posso fazer um buraquinho aqui?"

Aisha dá dois passos à frente com os braços esticados em direção a filha: "Por favor... Não faça mal a ela. Eu indico onde está a nave."

Keiro fica satisfeito e sarcasticamente encena um elogio: "Ótimo! Nós temos aqui uma mulher sábia. Então, vamos todos sair para dar uma voltinha. Mas antes... senhor Koyäng, desligue o sabre de luz, por gentileza." Contrariado com a ideia de ficar indefeso, Koyäng desliga o sabre de luz. Ao lado de sua esposa ele segue Zira que anda a uns cinco metros adiante, ela prende Marine entre os braços como sua refém.

Keiro olha para Nayane e aponta para a porta que dá acesso ao quintal dos fundos, o local por onde entrou. Isso indicava que ela também deveria sair com os outros. Mesmo trêmula, ela obedece. O clima é extremamente tenso e cheio de incertezas.

Talvez você esteja se perguntando: "Mas por que esse Koyäng não age logo? Ele era um general com um alto treinamento, como ele fica indefeso numa situação dessa?" Você pode estar pensando assim por que a família não é sua. Mas esta é uma situação delicada, um erro pode custar a vida de uma ou mais pessoas, e era nisso que o ex-general estava pensando.

Quem é Keiro? Ele não é só mais um legionário comum, ele é o filho de um hábil estrategista. O pai de Keiro trabalhava em uma posição de grande poder e prestígio. Koyäng conheceu esse homem poderoso e de início chegaram até a ser bons amigos, mas com o passar do tempo ficou evidente o quanto aquele homem era frio, manipulador e corrupto.

Koyäng era o legionário representante daquele planeta e sendo extremamente justo, não poderia simplesmente ignorar o tráfico de drogas que estava sendo feito às escondidas. Ele tentou aconselhar e ajudar o chanceler Wondo, pai de Keiro, a mudar o rumo de seus negócios. Um esforço em vão. Wondo sentiu-se ameaçado e começou a buscar formas de prejudicar Koyäng.

Nesta época, Koyäng tinha a missão de proteger a princesa Aisha. Qualquer um que olhasse os dois juntos perceberia com facilidade que o relacionamento entre eles era mais profundo, ia além do relacionamento entre guardião e princesa. Wondo viu nessa falha de conduta uma ótima oportunidade para intimidar o seu inimigo.

Era uma manhã como tantas outras, a luz do sol atravessava as vidraças do castelo iluminando o corredor, enquanto isso, Koyäng estava em pé de vigia em frente ao quarto da princesa Aisha. Olhos atentos para todos os lados, ouvidos aguçados, e mesmo assim não foram suficientes para deter o impensado. Repentinamente uma mulher começa a gritar desesperadamente! O jovem legionário entra pela porta enlouquecido de pavor imaginando o pior. A princesa estava sentada em sua cama, trêmula, com os olhos cheios de lágrimas, ela segurava uma grande mecha de seu brilhante cabelo azul, alguém o havia cortado! Ele suspirou aliviado por perceber que a donzela estava bem, porém seu peito continuava apertado. De algum modo, alguém havia acessado o quarto furtivamente o suficiente para matar a jovem, caso o quisesse.

Koyäng sentou-se ao lado da amada, envolvendo-a em um forte abraço. Ao olhar em volta confirmou que as janelas estavam fechadas "Como é possível alguém ter entrado aqui? Fiquei de guarda a manhã inteira e não ouvi nada!" Seu coração doía com a ideia de perder aquela mulher tão especial. O peso da impotência diante da realidade fora de seu controle o fazia olhar melancolicamente para o céu azul e límpido atrás das vidraças.

Novamente, examinando o quarto com mais atenção, ele percebe um pequeno papel dobrado e cuidadosamente colocado ao lado do travesseiro. Ao abrir o papel, ele compreende. "Isso foi só um aviso." Pois na carta dizia: "Prezado amigo, cada homem domina sua casa ao seu modo. Em outras palavras, não se meta na minha! Ou coisas ruins podem acontecer. Assinado: você sabe quem."

Certeza! Aquela mensagem tinha sido escrita por Wondo. Servia apenas como um pequeno aviso do que poderia acontecer caso ele continuasse a se meter em seus negócios. Aquele homem era um maldito! Keiro tem os mesmos olhos calculistas do pai.

Koyäng sabe bem com quem está se metendo e sabe que se fizer qualquer bobagem poderá perder agora os seus dois amores, a esposa e a filha. Sem contar que debaixo de sua tutela também se encontra uma criança inocente. Ele precisa manter-se calmo e descobrir uma forma de salvar a todos.

Certamente Keiro tem grandes mágoas contra ele, afinal, Koyäng foiresponsável pelo reset de seu pai, e mesmo que o ajude agora, aquele homem maunão deixará barato. Esse tipo de gente se alimenta de rancor e vingança.

Uma Noite Fatal (Light Novel Rebelião) Livro um - Ficção Cientifica e PoliticaWhere stories live. Discover now