A Anatomia de Grey

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Penélope/Liz

Pensa numa cólica fudida? Pensou? Então multiplica por mil! Me sentia como se uma vaca de salto alto estivesse dançando flamenco dentro do meu útero. Minha Pérola estava ao meu lado na cama fazendo carinhos nos meus cabelos enquanto eu tentava prestar atenção na série que se passava na TV, mas o cansaço me fazia cochilar. Era uma das inúmeras temporadas de Grey's Anatomy e a minha menina era especialista nessa série, sabendo o nome das personagens e quem tinha ficado com quem e casado, ou traído. Uma coisa eu sabia, se fosse médica nunca na vida iria trabalhar naquele hospital. Ô lugar pra ocorrer desgraça com os médicos e enfermeiras.

— Mas ele não tinha morrido? - perguntei quando um médico apareceu numa praia e a ex-esposa chorava.

— É sonho.

— Mas no sonho ele aparece velho? Tipo faz uns anos, né? Não tinha que ser com a cara de como ele era quando tava vivo?

— Sonho pode tudo, ué.

— Tá. - Não fazia sentido pra mim, mas tudo bem. — Essa atriz tá doente? Tá tomando corticoide?

— Não, por quê?

— Tá com uma cara de trakinas...

— Para, Liz, ela tá maravilhosa! Teve dois filhos, mudou mesmo. - Disse sem paciência.

— A outra médica lá que é ex do marido morto também teve filho e tá igual. Linda. Parece até que é vampira... surreal...

— Você vai deixar eu prestar atenção? - Consegui irritar a minha menina.

— Nossa, Pê... tô dodói, não briga comigo.

— Desculpa... - me deu um beijinho e continuou olhando fixamente para a TV. Nota mental: nunca dizer que os atores que ela gosta são estranhos. Mas uma coisa eu posso dizer dessa atriz, pelo menos ela não fez aquelas coisas horríveis de harmonização que deixa todo mundo com a mesma cara. Várias vezes tive que negar convites para procedimentos que achava muito invasivos e que iriam mudar demais o meu rosto.

Acabei cochilando e quando acordei já era noite. Pérola estava assistindo vídeo-aulas no celular. Depois que ela se inscreveu no vestibular todos os momentos de folga ela assistia às aulas de um curso online preparatório em que a inscrevi. O engraçado era que ela não aceitava que eu pagasse as coisas para ela, mas não se importava que eu fizesse permuta em post ou stories. Acho que não caiu a ficha dela que isso para mim também é dinheiro. Porque as empresas me pagam uma boa grana por um story.

Fiquei quietinha só aproveitando o calor do seu corpo. "A minha princesa, se eu pudesse te dava o mundo.!" Mas a minha certeza era de que ela não aceitaria. Mas eu sou uma pessoa ansiosa. Já queria dar casa pra mãe dela, e mesmo sem conhecê-la, já sentia carinho apenas pelas coisas que a Pérola contava. Eita mulher lutadora e porreta.

Minha boca estava na sua nuca e eu sentia o cheiro gostoso do seu pescoço. Mesmo com o cabelo preso eu sentia uns fiozinhos fazendo cócegas no meu nariz. Passei meu nariz no seu ombro para ao mesmo tempo coçar e mostrar a ela que tinha acordado.

— Amor... acordou? Tá com fome? - perguntou deixando o celular de lado.

— Que horas são?

— Umas onze. Como tá a dor?

— Muito melhor. 

— Peraí... - saiu e foi até a bandeja de frutas em cima do frigobar. - Come. - Me trouxe uma pinha, uma fruta da região que parecia uma fruta do conde mas era mais doce. - Você não pode tomar mais remédios com o estômago vazio.

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