Pete acordou do transplante de coração, mas sua mente não conseguia sossegar, ele precisava saber sobre a pessoa a quem aquele órgão pertencia, após algumas buscas encontrou Vegas, o namorado da garota que morreu em um acidente de carro e a verdadei...
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Pete acordou no meio da noite, ele percebeu que tinha dificuldade de dormir fora de casa, era a primeira vez que fazia isso e ainda por cima compartilhando a cama com um cara que conheceu a menos de um mês, decidiu colocar o fone pra ouvir alguma música que fizesse ele ter sono. De repente, percebeu que Vegas começou a se contorcer violentamente, seus braços e pernas se agitaram como se estivesse lutando contra algo invisível.
Pete ficou preocupado e se aproximou um pouco, ele observou o rosto contorcido de dor e aflição dele, e se deu conta de que ele estava tendo um pesadelo. Ele ficou em silêncio por alguns segundos, sem saber o que fazer. Então, decidiu agir.
Com cuidado, ele tocou suavemente o braço dele, chamando seu nome em voz baixa. Vegas se contorceu mais ainda por alguns instantes, mas logo se acalmou um pouco. Ele acordou lentamente encontrando Pete bem próximo.
- Desculpa te acordar assim, você estava tendo um pesadelo - justificou.
- Obrigado - disse sentando na cama - Foi angustiante - as gotículas de suor que escorriam pela testa dele demonstraram isso, ele parecia mal.
- Foi só um sonho - tentou amenizar.
- Eu sei, mas ainda me sinto como se estivesse nele, a sensação é horrível.
- Qual é o seu filme favorito? - Vegas o olhou confuso - Você me perguntou isso no avião.
- Você parecia nervoso, eu estava tentando te distrair.
- E eu estou tentando fazer o mesmo - ele sorriu.
- Rebeldes sem causa.
- Odiei o final desse filme.
- O final é uma merda mesmo, mas foi o primeiro filme que eu assisti com meu pai, então eu gosto - Vegas encarou Pete de repente - Por que seu filme preferido é Sociedade dos Poetas Mortos?
Pete não admitiria em voz alta mas sentiu uma faísca de felicidade por Vegas lembrar disso, ele sempre tinha a impressão de que as pessoas não ligavam muito pras coisas que ele dizia, percebeu isso porque até mesmo seus amigos esqueciam de coisas básicas ao seu respeito, então ele chegou a um ponto que já não se magoava se a pessoa não fazia o esforço de lembrar, por isso aquilo mexeu com ele mais do que deveria.
- Gosto do significado dele.
- E qual é? - perguntou Vegas curioso.
- Que a vida é curta e valiosa demais para ser desperdiçada, devemos ter a coragem de sermos nós mesmos e buscar nossos próprios caminhos.
- Você fala como um escritor - Pete sorriu daquele comentário.
- E o que seria "falar como um escritor"?
- Falar bonito.
- Isso foi muito genérico, eu só finjo saber das coisas - respondeu.
- Você acabou de reforçar o meu argumento.
- Mas ainda discordo dele.
Vegas sorriu e Pete ficou mais aliviado por ele aparentar estar mais calmo.
- Estava acordado ou eu te acordei? - Vegas perguntou envergonhado.
- Eu acordei uns minutos antes, acho que não consigo dormir bem fora de casa, é estranho.
- Entendo em partes, ultimamente tenho dormido mal, eu não tinha dificuldade pra dormir antes de...- Vegas parou de repente sua fala, mas Pete entendeu o que ele estava querendo dizer.
Ele queria perguntar tantas coisas mas temia ser invasivo, Pete queria saber como ele lidava com aquele trauma, se ele faz terapia ou se tem alguma rede de apoio, desde o começo da viagem ele não viu Vegas tomar remédio e ele nunca comentou sobre ter procurado ajuda, isso o preocupou, mas tinha uma coisa que o incomodava mais, e ele queria ser corajoso o suficiente para perguntar, "será que ele está sendo gentil e cuidadoso comigo porque ele sente que eu estou carregando uma parte da namorada dele" ele suspirou alto quando esse pensamento se fez presente novamente.
- Você quer ouvir música comigo de novo? - Pete perguntou tentando quebrar o silêncio.
Eles ouviram algumas músicas da playlist preferida de Pete, que só conseguiu dormir após constatar que Vegas já havia pegado no sono, seu rosto sereno tranquilizou ele, mas Pete sabia que aquela pergunta entalada iria lhe atormentar por um tempo.
