|CAPÍTULO 16|

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N/A: Senti muita saudade de vocês. Espero que gostem. 🖤

Soraya continuou caminhando mesmo com muita vontade de olhar para trás. Seu braço esquerdo não parou de formigar na região onde os dedos delicados de Simone passaram na tentativa de segura-la. A mais jovem literalmente escapou por entre os seus dedos como água brotando de uma torneira. Esta se cobriu mais com a echarpe e permaneceu com o olhar fixo no caminho apesar daquela vontade avassaladora de correr de volta e se jogar nos braços da morena.

Resistir foi como nadar contra a maré, mas nem mar Soraya conhecia. Não sabia como era sentir a areia quentinha na sola dos pés e a água fria lamber os dedos. Não sabia como era o repuxo da água revolta contra o seu corpo. Acabou constatando durante os primeiros passos que aquilo que sentia por Simone Tebet era tão forte quanto a natureza.

Um suspiro pesado saiu por sua boca, movimentando seus ombros. A postura retraída era a legenda de seus sentimentos confusos. Se ao menos ela pudesse conversar com alguém sobre isso... Os seus olhos experimentaram um ardor quando as primeiras lágrimas escorreram pelas bochechas. Sua pele percebeu o rastro frio do choro por causa da umidade do ar. Distraiu-se nos pensamentos ao tentar voltar para casa.

Por dentre as árvores da calçada de pedras, ela escutou o uivo da noite. Dona Ilda diria que era ali onde o vento fazia a curva. Soraya apertou ainda mais os dedos no tecido da echarpe de sua mãe e tremeu ao se arrepiar. Olhou para os próprios pés mas ergueu as vistas rapidamente quando ouviu vozes altivas metros à frente.

Pelo barulho dos saltos altos contra o paralelepípedo, julgou que duas das três pessoas eram mulheres. Elas se vestiam totalmente diferentes da maioria das moças de Mato Grosso do Sul. Pareciam vir de um baile europeu. Os tecidos de suas roupas brilhavam e tinham movimento, com suas saias cheias de franjas. Próxima o suficiente, surpreendeu-se com as coxas desnudas daquelas duas jovens, com tiaras na cabeça, abraçadas à um homem.

Ele estava amarrotado, com o colete do conjunto de alfaiataria aberto. Ramez II, o irmão gêmeo de Rodrigo, cambaleava segurando uma garrafa de uísque na metade pelo gargalo. Estava rindo alto, visivelmente bêbado. Naquele momento, Soraya desejou evaporar. Qualquer coisa menos ter que lidar com mais um irmão de Simone. Quando a viu, o filho do Coronel tirou os braços dos ombros das duas mulheres, sendo as duas loiras e os estendeu para frente em direção à Thronicke.

"Sor...aya!" Ele chamou em um tom comemorativo que rapidamente chegou até a mais jovem e soou extremamente forçado. Por causa da voz embolada, o seu estado embriagado se tornou muito evidente.

"Ramez. Boa noite." Respondeu e deu meio passo para o lado tentando desviar dele quando sentiu o tranco de ser puxada para trás pela mão firme do mesmo em seu braço, afundando os dedos na carne. Rapidamente pensou em Simone e em como ela tinha tocado aquele mesmo lugar gentilmente minutos atrás. O total oposto de seu irmão. "Ei, me solta!" Reclamou alto.

Soraya puxou com força o braço para baixo e o homem bêbado quase se desequilibrou, soltando-a. Ele fez uma cara azeda, completamente incrédulo. Não estava acostumado! Nenhuma mulher negava as investidas, por mínimas que fossem, do filho do grande Coronel. A loira saiu andando, apertando o passo. Alguns metros distante, ainda escutou ele dizer em voz alta: "Você ainda vai se arrepender!"

Na festa, Simone procurava por Eduarda e Rodrigo. Muito mais por Rodrigo do quê por Eduarda. Seu coração batia acelerado. A sensação era nauseante. Ela nunca havia experimentado algo assim. Vale salientar que a professora não tinha medo algum do seu pai descobrir sobre as suas escolhas. Mas, quando implicava a honra e a reputação de Soraya, o jogo mudava. Algo dizia para ela que a mais nova não suportaria se tudo viesse à tona. E isso significaria perdê-la.

Correio Aurora [Simone x Soraya]Kde žijí příběhy. Začni objevovat