|CAPÍTULO 4|

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Ainda naquela noite, depois de Rodrigo tê-la acompanhado de volta, Soraya tentou abrir a porta de sua casa bem devagar. As dobradiças rangeram e ela fechou os olhos, apertando as pálpebras com força e encolhendo o corpo. Seu plano de entrar despercebida e ir direto para o quarto foi por água abaixo.

"Soraya?" Ouviu a voz de sua mãe chamando. No cantinho da sala, ela se ninava em uma cadeira de balanço, bem devagar. Estava com os olhos fechados, respirando calmamente. A jovem estava chegando em casa antes do previsto, mas Mauro e seus irmãos já estavam deitados há algum tempo, levando em consideração o horário que acordavam para trabalhar.

"Sou eu, mamãe. Já cheguei." A voz aveludada de Soraya soou ao entrar e trancar a porta. Ela se aproximou da cadeira da mãe e lhe deu um beijo na testa em sinal de respeito e cumprimento. A mais velha pegou na mão da filha e virou o rosto para olhá-la. Arregalou os olhos em pura surpresa. Afinal, Soraya estava com outros trajes.

"Onde está o seu vestido?" Ilda perguntou, franzindo a testa. Soraya negou com a cabeça o que quer que ela mesma pensou naquele momento e se deitou no sofá ao lado da cadeira da mãe, descarregando o peso do corpo de maneira desajeitada, com a barriga para cima e os pés ainda no chão.

"Longa história... Eu caí em uma fonte na casa dos Tebet, me molhei inteira. A filha deles me emprestou esse..." Ela chacoalhou as mãos a certa distância da roupa luxuosa em comparação às suas. "...vestido."

Ilda quase riu. Soraya escutou o tranco de uma gargalhada que ela tentou segurar.

"Desde pequenininha você anda se machucando e se esbarrando nas coisas, Soraya. Tenha mais atenção, menina." Foi a vez de Soraya rir baixo, lembrando-se de como era desajeitada em sua adolescência. Ela se levantou e tocou o ombro da mãe, dizendo:

"Pode deixar, minha mãe. Vou ferver uma água para tomar banho e me deitar. Boa noite." A mais jovem fez o que havia dito em poucos minutos após se despedir.

No banheiro de Soraya havia uma antiga banheira vitoriana de pés que seu pai arranjou e poliu para que ela pudesse se banhar. Ela a encheu com água gelada que subia pelo encanamento e temperou o banho com um bule cheio de água fervente. Desta maneira, a temperatura se tornava morna e agradava seu corpo.

Ilda era a responsável por fazer o sabão da casa e tinha um cuidado especial com Soraya, perfumando sua água com jasmins. Soraya acabava tendo um cheiro suave e adocicado na pele assim como aquelas flores brancas e levemente amareladas em seu centro. Se pareciam com ela. Com um sol particular em seu interior.

A loira já tinha se despido do vestido de Simone quando entrou na água e se encolheu em um canto da banheira, ficando submersa até a linha dos ombros. Ela se sentia um pouco desnorteada desde que bateu a porta do quarto da morena. Teve que controlar seus impulsos para não voltar e continuar discutindo com ela. O seu banheiro era iluminado com um conjunto de três velas gastas, tornando o ambiente mais aconchegante para aquele momento.

Seus ombros estavam tensos, doloridos, ela realmente precisava relaxar. A jovem suspirou e foi deslizando dentro da banheira até deitar seu pescoço na borda, fechando os olhos.

"Mal educada..." Ela escutou a voz de Simone sendo sussurrada baixo em seu ouvido. Não teve controle sobre suas lembranças. O rosto da morena estava nítido em sua mente nublada, cada detalhe visto tão de perto quando encurralada.

Simone é intragável. Pensou. Como pode ser tão... invasiva? Se questionou. Estava revivendo todas as notas do ocorrido mais cedo quando sentiu o topo de suas virilhas contraindo. Assustou-se com a intensidade e abriu os olhos em um rompante.

Antes de se erguer, Soraya afundou o corpo inteiro na banheira e segurou com firmeza na borda dela, emergindo um pouco ofegante. Sentia uma urgência em seu peito, seus batimentos estavam acelerados.

Mesmo molhando-se dos pés à cabeça,  o incômodo súbito não desapareceu. Na verdade, sentiu a mesma contração e leve queimor em suas partes íntimas outra vez.

Sentou-se melhor na banheira e afastou lentamente as pernas. Através do aspecto turvo da água, examinou sua nudez. Tocou levemente com a ponta dos dedos a coxa grossa na junção entre as pernas e notou o quanto estava quente. Parecia febril. Ela jogou o corpo para trás e ao fechar os olhos, para sua surpresa, a viu outra vez.

Soraya fechou os olhos e subiu um pouco mais as mãos até o seu centro. O atrito entre as pontas dos seus dedos e a sua carne macia e imaculada a fez tremer involuntariamente. Ela sentia uma pulsação forte e não era do seu coração.

Timidamente, ela percorreu a fenda entre seus lábios vaginais com o dedo indicador e sentiu pela primeira vez em toda a sua vida a viscosidade e quentura de um líquido que se acumulava em sua buceta para além da água da banheira.

Thronicke soltou o ar e arqueou as costas. Seu coração parecia bater na garganta, prestes a escapulir da boca. Ela fechou os olhos outra vez e desejou nunca tê-lo feito. Soraya a viu e não foi uma lembrança e sim, uma projeção.

A garota, ainda virgem, sentiu seus dedos se juntarem naquele calor convidativo enquanto visualizava aqueles lábios tão bem desenhados. Simone Tebet parecia dar vida à um sonho que Soraya teve noites atrás, cujo uma morena tão bonita deixava seu par sem fôlego com seus beijos. Quando a loira rabiscou o pequeno poema, não imaginou que conheceria uma mulher tão parecida e que se veria no lugar daquele par, desejando aquela boca.

Ainda trêmula, de seus lábios saíram um gemido sôfrego e tímido. Rapidamente, Soraya afastou as mãos de seu corpo e tapou a boca, agitando a água ao temer que alguém a tivesse escutado. Na mesma velocidade, a loira se levantou da banheira e foi atrás de sua toalha, molhando o chão de madeira do quarto.

O que eu estou fazendo? Se perguntou, apertando o tecido atoalhado com força no corpo. Sentia-se muito mais quente agora que saiu da água. Ela enfiou-se debaixo das cobertas e fechou os olhos. Respirou profundamente e sentiu o cheiro do perfume daquela mulher invadindo as suas narinas. Que castigo! Ela puxou o lençol até cobrir seu rosto. Simone Tebet, você me paga. Ela cochichou, fazendo de tudo para adormecer...

Correio Aurora [Simone x Soraya]Where stories live. Discover now