|CAPÍTULO 7|

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As bocas se descolaram quando o fôlego lhes faltou. Os dois pares de mãos ainda muito possessivos passeavam pelos corpos úmidos, reconhecendo e afirmando que o desejo era mútuo apesar de incompreendido. Ao abrir os olhos e vencer a dificuldade que os pingos de chuva causavam em seus cílios densos, Soraya sentiu raiva de Simone por beija-la. As lágrimas rolaram por sua face por motivo pior: ela havia gostado.

Sua boca estava trêmula quando se afastou da morena e correu para longe. De certa distância ainda escutou Simone gritar por ela. Seu vestido pesava, obrigando-a a segura-lo com as duas mãos enquanto sujava seus sapatos e meias de lama. Sem medo de se perder, pois já estava muito desnorteada por dentro, a mais nova dos Thronicke chorava enquanto fugia, fugia do que o seu corpo queria.

Olhou para trás, sem parar de andar e se chocou com um corpo quente, igualmente molhado e bem vestido. Ela olhou para cima, reconhecendo-o. Seu rosto era tão belo quanto o dela. Seus cabelos eram tão pretos quanto os dela, seus dentes perfeitamente alinhados dentro de um sorriso eram iguais aos dela. Mas Rodrigo não era ela.

O rapaz a segurou pelos cotovelos em um abraço desajeitado assim que as pernas dela fraquejaram. Por instinto, Soraya jogou-se nos braços do irmão de Simone, abraçando-o com força. Era seu amigo, afinal. Com a mesma força ela apertou os olhos fechados e conseguia sentir tudo outra vez. A fúria, o sangue fervente por baixo da pele, a revolta e o beijo... O seu primeiro beijo havia sido depositado nos lábios de uma mulher. E Soraya nem a amava. Não foi assim que imaginou que seria.

"Simone!" Rodrigo quebrou o silêncio. Soraya abriu os olhos e olhou para trás. Simone estava ensopada. A franja colada ao redor do rosto, os olhos tão vermelhos quanto os de Soraya fizeram a loira questionar para si o motivo da outra chorar. "Minha irmã!" O homem deu alguns passos com Soraya nos braços. Simone ergueu os seus e deu de ombros, estendendo a mão como se apontasse para Thronicke.

"A vi caminhando por aqui e tentei ajudar. Você sabe quantas vezes eu me perdi." Melancolicamente, Simone passa pelos dois em direção ao único caminho que levaria ela para casa, atrás de Rodrigo. Seus dedos delicados acariciaram o ombro de Soraya levemente ao passar e poderia ser naturalmente interpretado como um ato protetor. Afinal, a loira parecia assustada em meio às árvores e a chuva. Soraya arrepiou-se ao sentir aquele toque quente em um dia tão gelado e Simone adiantou o passo.

Soraya a assistiu enquanto caminhava com Rodrigo logo atrás. Ao menos, nenhum dos dois poderia ver o rosto da morena que ainda vertia em lágrimas. Nem Simone sabia o que estava sentindo. Tomou a iniciativa, é claro. Achou praticamente impossível conviver com uma mulher tão inteligente e desbocada sem desejar possuir seus lábios. Mal sabia como seu irmão se controlava e era bom que o fizesse. O que era aquele queimor em seu peito? Por que ela estava reprimindo tanto a vontade que sentia em olhar para trás? Era ciúme?

Claro que sim. No fim das contas, Soraya odiou o beijo e correu para os braços da opção dentre os Tebet que melhor se encaixava para ela... Rodrigo. Seu irmão era um homem bom, respeitoso e muito bonito. Se Soraya gostava dele, ao menos Simone sabia que ele a faria feliz.

O que era isso? Por que ela estava pensando em todas essas coisas enquanto voltava para o casarão? Simone afastou as imagens de Soraya vestida de noiva ao lado de Rodrigo e preferiu ficar com as lembranças do beijo que ela pareceu retribuir com fervor quando as suas línguas se enroscaram.

Sentir o gosto dos doces e do chá enlouqueceram Simone. Nada a havia preparado para o privilégio de provar aquela bela mulher daquela maneira. Seu ponto fraco desde que voltou para Campo Grande. Ela andou ainda mais rápido quando chegou nos degraus frente a casa, praticamente correndo para o seu quarto. Precisava ficar longe. Muito longe de Soraya Thronicke.

Correio Aurora [Simone x Soraya]Where stories live. Discover now