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  A ideia de Pinóquio era ambiciosa

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  A ideia de Pinóquio era ambiciosa. Precisou argumentar um pouco para convencer Sofia. Mas parecia estar funcionando. Pinóquio planava na água, como se os sapatos de madeira fossem esquis. Na mão, segurava uma corda comprida, cuja outra ponta Sofia segurava pelo bico. As asas dela batiam furiosamente ao puxá-los. Empoleirado na aba do chapéu de Pinóquio, Grilo fazia o papel de vigia.

  — Sem barcos! Nada! Só água até onde a vista alcança.

  — Vamos achá-lo — afirmou Pinóquio. Não tinha passado por tudo aquilo só para perder o pai bem agora.

  Sofia tentou falar algo lá do alto, mas a voz saiu abafada pela corda.

  — Meu mi muma moisa! — avisou.

  Grilo inclinou a cabeça.

  — O quê? O que ela disse?

  — Meu mi muma moisa! — Pinóquio repetiu, o que não ajudou em nada.

  — Sim, isso eu ouvi! Mas o que ela… — De repente, entendeu. — Sofia, você viu uma coisa?

  A gaivota fez que sim, animada. Grilo escalou a corda e observou a imensidão de água. De lá, poderia ver muito além. Estreitou os olhos, tentando ver o que a Sofia tinha visto. Então, deu um grito:

  — Pinóquio, estou vendo um barquinho!

  Outra vez, Sofia murmurou algo:

  — Mememo!

  Grilo inclinou a cabeça, sem entender. Mas, lá em-baixo, na água, Pinóquio entendeu. Deu um grito feliz ao traduzir:

  — Ge-pe-to! Ela viu meu pai!

  Espiando por uma luneta, Grilo viu que o pássaro tinha razão. Ao leme do minúsculo barco, estava ninguém mais, ninguém menos que Gepeto.

  Batendo as asas ainda mais rápido, Sofia rebocou Pinóquio na direção do barco enquanto este gritava pelo pai. Ao se aproximarem, o boneco viu que Fígaro e Cléo estavam lá também. O rosto de Gepeto estava amuado, olhando na direção contrária do filho que se aproximava.

  Ouvindo algo além das ondas, Gepeto se aprumou.

  — Ouviu alguma coisa, Fígaro? — O gato negou com a cabeça. Mas, então, outra vez. Parecia um chamado de alguém. Ele se virou e arregalou os olhos ao ver Pinóquio deslizando pela água. — É um milagre! Pinóquio! Pinóquio! Está de volta!

  — Sim, papai! — gritou Pinóquio. — Estou chegando até você!

  — Eu vou até você! — Gepeto berrou de volta.

  Agora que estava tão próximo do filho perdido, precisava alcançá-lo o mais rápido possível. Movendo a retranca, virou o barco e foi na direção de Pinóquio.

  — Papai! — disse Pinóquio ao se aproximarem. — Preciso pedir desculpas.

  — Desculpas? — Gepeto ficou confuso.

  — Sim! — Então Pinóquio começou a se desculpar por tudo que tinha feito de errado naquele curto tempo em que estiveram afastados. Desculpou-se por ser expulso da escola. Desculpou-se por se juntar a um circo de marionetes e ser enganado por Stromboli, tudo porque queria ser famoso. Desculpou-se por ter dado ouvidos ao cocheiro e a Espoleta e ido parar na Ilha dos Prazeres. E então desculpou-se por se transformar num burro e, principalmente, desculpou-se por fazer o pai vender todos os relógios. Quando enfim terminou de pedir desculpas, respirou fundo, sem fôlego de tanto falar.

  — Fez tudo isso em um dia? — disse Gepeto, olhando para Pinóquio com surpresa, além de certa admiração.

  Pinóquio assentiu.

  — Fiz.

  — Caramba! — Exclamou Gepeto, que não parecia nem um pouco chateado. — Eu não fiz um terço disso a minha vida toda. — Enquanto falava, o barco se aproximava de Pinóquio. De lá, já podia enxergar o rosto do filho. Sabia que algumas das ações dele eram culpa sua. Se não tivesse o protegido demais do mundo, ou demonstrado tanta expectativa, o menino poderia ter feito escolhas diferentes. Enfim, tanto faz, não importava. O passado tinha passado. Era hora de seguir em frente.

  — Pinóquio, meu garoto — disse —, você está perdoado. Fico feliz que esteja de volta, são e salvo. Agora podemos voltar para casa e ficarmos todos juntos. — As palavras sobrevoaram a água e fizeram Pinóquio sorrir. — Seremos uma grande e feliz fam…

  Mas antes que Gepeto pudesse acabar de falar, a água entre o barco e Pinóquio transformou-se em espuma branca. Logo depois, uma criatura gigante explodiu das profundezas. Em um gole enorme, uma baleia monstruosa engoliu o barco de Gepeto por inteiro.

  — É o Monstro! É o Monstro! — gritou Sofia, largando a corda, o que a permitiu falar com clareza. Sem mais uma palavra, ela partiu, deixando Pinóquio afundar.

  Grilo abriu o guarda-chuva e caiu flutuando.

  Pinóquio ressurgiu na superfície. Cuspia água feito uma fonte, enquanto Grilo pousava em seu peito. O corpo inteiro de Pinóquio tremia de medo. Tinha pensado que as criaturas enlameadas eram aterrorizantes. Tinha pensado que Stromboli era horrível. Mas Monstro? Era pior do que Pinóquio poderia imaginar. E agora ele tinha engolido seu pai.

  Whump!

  Outro paredão de água se ergueu quando Monstro ressurgiu, levantando Pinóquio e Grilo pelos ares. Quando o corpo enorme da baleia se arqueou acima das ondas, a criatura abriu a boca e engoliu Pinóquio. Grilo observou de cima enquanto pairava com a ajuda do guarda-chuva.

  Fechando a mandíbula com tudo, a baleia bateu na água e então ficou flutuando na superfície. As ondas espumosas se acalmaram.

  Então, Monstro começou a roncar.

  — Que coisa — disse Grilo, flutuando à frente da pálpebra fechada da gigante. — Está dormindo!

  Cutucou a boca da baleia. Estava bem fechada. Não ia conseguir entrar. E isso significava que infelizmente também não havia maneira de sair. Gepeto e Pinóquio estavam presos lá dentro.

ℙ𝕀ℕÓℚ𝕌𝕀𝕆 (𝐿𝑖𝑣𝑟𝑜 𝑂𝑓𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝐹𝑖𝑙𝑚𝑒)Where stories live. Discover now