Dentro de sua prisão de vidro, Grilo estava desanimado. Balançava a cabeça. Tentara escapar de todas as maneiras desde que fora preso ali por João Honesto e Gideão, mas nada adiantou. Era impossível sair.
— Bom, acho que é isso. Este é o meu fim. — Franziu o cenho. Sempre achou que teria uma vida longa e contente. Talvez encontrasse um bom lugar para se assentar, aprender umas músicas novas. Mas aí ele se meteu com essa Fada Azul e esse negócio de consciência e olha só no que deu! Preso num pote de vidro em meio a uma tempestade.
Embaixo dele, o chão começou a tremer. Uma caravana de vagões cambaios, puxada por duas mulas exaustas, se aproximava. Os olhos de Grilo se arregalaram.
— Pelas barbas do profeta... — disse, lendo a placa na lateral do primeiro vagão. — “O Show de Marionetes de Stromboli”. Me pergunto se Pinoquito teve a chance de… — Grilo tirou uma luneta do colete e espiou a caravana. Analisou os vagões dianteiros, depois os de trás. Então, o do meio. Pela janela minúscula, viu Pinóquio. O menino de madeira balançava para a frente e para trás. Numa gaiola.
— Pinóquio! — berrou Grilo. — Ei, Pinóquio! Aqui! Sou eu, Grilo. — Mas não adiantou. Sua voz era abafada pelo vidro grosso do pote. Tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe.
Crec!
Assustado, Grilo olhou em volta.
Tac! Crunch!
Conforme a caravana seguiu, passou por cima de um trecho cheio de pedregulhos soltos. As rodas espalharam alguns que atingiram o vidro. Apareceram rachaduras, e então uma pedra bem grande atingiu o pote. Grande e pesada o suficiente para virar o vidro no chão.
Grilo estava livre!
— Fomos surpreendidos novamente — disse.
Abrindo o guarda-chuva, Grilo se concentrou. Precisava alcançar aquele vagão. Correu atrás da caravana de Stromboli. Por sorte, as ruas estreitas desaceleraram o comboio, e Grilo conseguiu alcançá-lo. Fechou o guarda-chuva, saltou para o vagão onde Pinóquio estava e se enfiou pelo olho mágico da porta de trás. Olhou em volta. Avistou Pinóquio e soltou um “psiu”.
Pinóquio ergueu a cabeça.
— Pinóquio! Escuta aqui! — Grilo gritou sussurrando.
Pinóquio sentou-se mais ereto, reconhecendo a voz do amigo. Quando viu o inseto ensopado pela chuva, um sorriso iluminou seu rosto.
— Grilo! — disse, feliz. — Puxa, estou feliz em ver você! Stromboli me trancou nessa gaiola.
Usando uma marionete pendurada como corda, Grilo balançou-se até a gaiola e remexeu no cadeado. Nem sinal de abrir.
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ℙ𝕀ℕÓℚ𝕌𝕀𝕆 (𝐿𝑖𝑣𝑟𝑜 𝑂𝑓𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝐹𝑖𝑙𝑚𝑒)
FantasyO marceneiro Geppetto vê uma estrela cadente e deseja que o boneco que acabou de criar, Pinóquio, torne-se um menino de verdade. A Fada Azul concede o seu desejo e pede a Jiminy Cricket (o grilo) para servir como a consciência do menino de madeira.