Sabor

5. Marmita

─ Você não vai acreditar, Tê. - Disse Pâmela.

A moça e Camila a encontraram na academia. Malhavam juntas pelo menos duas vezes por semana com o mesmo personal. A amiga trabalhava na mesma firma que Luís Fernando e Leonardo. Maitê estava tão entretida com a série de agachamentos que Denis passara que mal dava conta de ouvir as fofocas sobre o ex. Além disso, vinha preferindo pensar no chefe gostosão do que gastar seu tempo com alguém a quem não via há pelo menos um ano.

─ A namorada do Leonardo está grávida. - Aquilo conseguiu chamar sua atenção. Precisou sentar.

Conhecera Leonardo na faculdade. Todos estudaram juntos. Logo fizeram amizade. Camila era amiga de Maitê ainda do colégio e ela já namorava o Luís Fernando desde sempre, quando Luís conheceu Leonardo e Pâmela na mesma turma, viraram um grupinho. Maitê se encantou pelo contraponto entre a carinha de menino e o jeito sério de falar de Leo e, mesmo sendo meio maluquinha na época, achou interessante trocar uns beijos com aquele engomadinho.

Ficaram tantas vezes que acabaram namorando. E o namoro foi ficando sério, porque Leonardo era sério mesmo, apesar da cara de menino. Para além disso, era dedicado, companheiro, prestativo. Maitê foi se apaixonando aos poucos. Quando viu, estava dizendo sim para ele na frente de duzentos convidados.

Nesse tempo, ela também cresceu. Já não era tão maluquinha e assim como o marido, crescia profissionalmente. Viajaram meio mundo. Compraram casa. Compraram carro. E Maitê começou a sentir vontade de ser mãe. A princípio, Leonardo se esquivava, alegava questões profissionais e os anos foram passando. Ela já espreitava certa urgência, mas Leo a acalmava falando de tratamentos para congelamento de óvulos e a possibilidade de uma gestação tardia.

Foi então que Maitê recebeu o diagnóstico da mãe. Um câncer de ovário que a levou a óbito em menos de doze meses. Um tratamento duro. Dor e sofrimento indescritíveis. Chegou mesmo a desejar que Deus a levasse de uma vez, apesar de Dora ser sua referência para quase tudo de bom que conhecia na vida. Até que finalmente ela se foi mesmo.

Passou por tudo isso com Leonardo ao seu lado, segurando sua mão, acompanhando de perto a sugestão médica que indicava uma questão genética em relação a Maitê. Uma probabilidade alta de uma histerectomia preventiva. Então, foi necessário colocar de uma vez as cartas na mesa. E Leonardo não se disse preparado para a paternidade. Não era o momento, dizia ele. Não queria filhos agora, argumentava. Mas o fato era que não queria filhos e ponto final. Só não tinha coragem de admitir isso para ela em voz alta e clara.

Maitê pediu o divórcio porque queria ser mãe. Ainda amava Leonardo quando saiu da casa enorme que compraram em um condomínio. Precisou de muita terapia para aceitar que sua prioridade era a maternidade e não a relação que construíram. Teve de revisitar cada detalhe do seu sonho de família feliz porque o marido não quisera embarcar com ela nessa aventura. E agora, sem mais nem menos, Leonardo ia ser pai.

─ Dizem que foi um acidente de percurso. - Pâmela continuava a puxar ferro e a falar como se fosse uma metralhadora. - Mas ele parece estar encantado com a ideia.

─ Você sabia disso? - Perguntou para Camila.

─ Luís me disse. - Fez que sim com a cabeça. - Mas eu achei melhor nem te contar... Não havia necessidade. - Sentou-se do lado da amiga e colocou a mão nas costas dela em solidariedade.

─ Só fiquei sabendo agora, porque vai ter um chá de fraldas para eles. Vão ter uma menina. Cecília se eu não me engano.

─ Já faz tanto tempo assim que ela está grávida? - Era assustador não saber da vida de uma pessoa com que se conviveu tantos anos a esse ponto.