7. Café da tarde

35 5 1
                                    

Boccati começou o dia fazendo exercícios de fisioterapia com Ana Lívia na piscina. Agora era a vez de entreter Chiara com brincadeiras na água. A menina gritava de animação e dava mergulhos. Não saberia precisar quem sairia mais cansado daquela brincadeira. Maitê desceu para tomar café logo cedo, mas tinha compromissos marcados para a manhã de sábado. Voltou para o quarto e ficou trabalhando até perto das onze horas.

Quando desceu, Henrique estava na cozinha fazendo o almoço com Natália e Chiara. As duas o ajudavam, cada uma mais animada que a outra, uma farra. Maitê pegou sua bolsinha de esmaltes e foi para o quarto de Ana Lívia.

─ Oi, Ana. - A moça se virou para ouvir a voz dela. - Vim aqui para saber se você gostaria que eu pintasse as suas unhas?

Desde que a vira pela primeira vez, imaginava se Ana Lívia ainda se percebia apenas como uma garotinha ou se tinha noção de que já era uma adolescente. Boccati e as enfermeiras a mantinham num mundo cor-de-rosa bem infantil, porém, o corpo dela já tinha mudado e provavelmente algo na sua cognição acompanhou esse desenvolvimento.

─ Não tem problema se eu pintar as unhas dela, tem? - Perguntou à cuidadora.

─ Imagina, dona Maitê. Problema nenhum. Acho que ela vai adorar.

Maitê pegou seu conjunto de manicure e segurando com carinho a mão de Ana, começou a lixar e a tratar as unhas. A moça acompanhava a tarefa sem oferecer maiores resistências.

─ Sabe, Ana, quando eu tinha a sua idade, eu roía minhas unhas. Bastava eu ficar nervosa por causa de um rapaz, acabava com todas elas. - Até riu se lembrando dessas besteiras da adolescência. - As suas unhas, pelo contrário, são belíssimas e bem-cuidadas. - Claramente que as cuidadoras faziam as unhas da menina com regularidade e as deixavam curtas para evitar acidentes. - Qual cor você deseja? Ou quem sabe uma unha de cada cor? - Maitê adorava fazer isso quando tinha treze anos. Pintou cada unha de cada dedo com uma cor alegre diferente. Até comprou alguns esmaltes de cores mais vivas e um brilho especial com glitter só para fazer isso com a filha de Boccati. - Agora você precisa deixar secar, certo?

Enquanto as unhas de Ana Lívia secavam, Maitê achou por bem fazer as próprias unhas também, do mesmo jeito colorido que fizera as da menina. Passava cuidadosamente os esmaltes, limpava os cantinhos com um palito de acetona e conversava com a cuidadora sobre os gostos de Ana. Descobriu que a moça gostava de Frozen e Toy Story. Maitê sugeriu de elas assistirem juntas High School Music.

Enquanto passava a última camada de glitter, Chiara entrou no quarto pedindo esmalte colorido também. E Maitê prometeu que faria as unhas dela depois do almoço. Henrique as observava na porta do quarto. Olhava para Maitê de uma maneira que não tinha feito antes. Maitê sorriu. Ficava nervosa com aquela forma de olhar diferente.

─ Vamos almoçar! - Chamou dona Teresa alto o bastante para que todos ouvissem.

Chiara se levantou e saiu correndo. Maitê encontrou Henrique na porta ainda olhando para ela com esse jeito enternecido.

─ O que foi? - Ela perguntou. - Nunca me viu?

Henrique a beijou de uma forma profunda. As pernas até bambearam e o coração parecia querer sair pela boca. Se ela não estivesse tão nervosa com as emoções que aquele beijo provocara, talvez chegasse à conclusão que não se tratava de um beijo de paixão, mas sim um beijo de amor.

***

─ Tome, Maitê. - Entregava uma cesta com vegetais de folhas verdes e tomates bem vermelhos. - O tomate ajuda os ovários e as folhas verdes têm ácido fólico que é essencial no começo da gestação, sabia?

Henrique acabou cochilando depois do almoço e Maitê foi dar um passeio com Chiara para tentar distrair a menina. Foram à horta e ao galinheiro e agora passavam em frente a casa de dona Teresa. Quando o filho vinha, ela dormia com as netas na casa grande, mas quando ficava sozinha durante a semana, preferia a casinha mais ao final da propriedade que se localizava mais próxima dos vizinhos. Era uma casinha branca pequena com uma lareira gostosa e um cheiro de planta.

SaborWhere stories live. Discover now