2. Entrada

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─ Então é hoje que a senhora vai sair com o Chefe Gostosão? - Camila se divertia do outro lado da linha, enquanto Maitê tentava dar um jeito no cabelo. - Se inveja matasse você estaria mortinha agora...

─ Confesso que estou mais nervosa do que imaginei que estaria. - Nem acreditou quando Boccati telefonou no dia seguinte ao incidente no elevador. Não imaginava que ele fosse insistir em manter algum contato, afinal, parecia ser aquele tipo de homem ocupadíssimo. Mas ele ligou sim e foi bem charmoso ao telefone na verdade. Conversaram por uns dez minutos de uma maneira tão natural que ela não viu motivo algum para recusar o convite para jantar. Agora, entretanto, faltando meia hora para o horário combinado, não sabia ao certo o que faria com aquele homem em um dos restaurantes mais chiques da Cidade. - Não acho que é hora de me envolver com ninguém...

─ Quem está falando sobre envolvimento, Tetê? - Camila sabia muito bem sobre o que ela falava. - Pelo amor de Deus, simplesmente vai lá e dá pra ele, amiga. Por mim.

Maitê quase borrou o delineado com essa. Nem disse nada, só gargalhou.

─ Falando sério agora... - Camila ponderou. - Esse cara se interessou por você em uma horinha de conversa no elevador, não que você não seja incrível, amiga, mas todo mundo sabe que ele tem fama de garanhão. - Maitê não saberia, aparentemente, era uma das únicas da sua idade que não acompanhava nem o programa, nem as fofocas sobre o programa. - Ele tem três filhos, cada um com uma mulher diferente, sabia? - Não, não sabia. - Se ele quer sair com você, pagar um jantar e ter um lancezinho gostoso... Bem, que mal tem, miga? - Camila tinha um ponto. - Tenho certeza que não vai atrapalhar em nada seus objetivos.

Provavelmente não iria mesmo. Maitê estava em um tratamento para engravidar. Aos trinta e cinco estava decidida a ser mãe. Terminara seu relacionamento de 10 anos com Leo basicamente por causa disso, ele não queria filhos e ela tinha esse sonho desde sempre. Pensava que o tempo mudaria a forma com que o ex pensava, que quando estivessem estabelecidos financeiramente, Leo conseguiria falar sobre constituir uma família, mas não acontecera assim. Quanto mais os dois avançavam em suas respectivas carreiras, mais Leonardo vislumbrava novas possibilidades de crescimento.

O tempo estava passando e ela não tinha mais um limite tão amplo para negociações, era hora de agir ou seria necessário desistir do seu sonho de maternidade. Foi preciso ter uma conversa, a conversa. Leo alegou que tinha sido honesto desde sempre sobre esse assunto. Ele queria ser CEO da empresa que trabalhava, faltava muito pouco e, quando isso acontecesse, trabalharia mais, viajaria mais, não haveria lugar para filhos no seu planejamento.

Maitê decidiu que também não haveria lugar para ela nesse planejamento.

Apesar de terem sido francos e terminarem sem brigas, não foi fácil. Demorou quase um ano para ouvir o nome do ex sem ter vontade de chorar. E, depois que ele saiu da sua vida, precisou de muita terapia para aceitar que realizar seu sonho envolvia ressignificar a maternidade, pois não estava disposta a esperar mais pelo par perfeito para engravidar. Precisou aceitar que seria mãe solo, de uma fertilização in vitro, de um doador desconhecido. Não viveria nunca o sonho da família do comercial de margarina.

Durante todo esse processo de terapia, não encontrou ninguém que chamasse sua atenção. Não tinha olhos para homem nenhum depois do término com Leonardo, mesmo apesar da insistência das amigas. Já estava nessa havia dois anos e nada era capaz de tirar o seu foco. E justo agora, quando ela finalmente estava fazendo a estimulação dos ovários com medicação, aparecia Henrique Boccati com seu charme e suas tatuagens. Não podia ser verdade.

─ Acho que perdi a coragem de ir, Camis...

─ Calma, Tetê. Respira fundo. - Fez exatamente o que a amiga pedira. - Não tem nada demais em se divertir um pouco. Basta você ser honesta o tempo inteiro. - Estava sendo sensata. apesar da aparente loucura e do tanto que era desbocada, Camila sempre fora sensata. - Relaxe, converse, tome uns drinques com ele. Vá pra cama dele, se você quiser... Vá mesmo! - Riu. - E se você achar que existe alguma possibilidade de envolvimento, é só despejar a verdade. Você conhece os homens, ele vai fugir imediatamente. - Concordou com a amiga. - Você vai voltar para o mesmo ponto que já está, mas pelo menos vai dar uma voltinha pelos restaurantes mais maravilhosos dessa cidade.

SaborWhere stories live. Discover now