Tia Sara desligou o motor, mergulhando-nos em uma escuridão quase completa. - Eu era da anos mais nova que seu pai - falou. - Eu tinha sua idade quando ele trouxe sua mãe pra casa.


   Significa que ela tinha 19 anos quando meus pais morreram.


- Mas eu sempre gostei dela. - falou. - Ela era boa comigo. - um brilho intrigante em seus olhos. - Meiga, gentil e silenciosa.


  Em meio à falta de iluminação, olhei de canto de olho para foto desbotada da mulher de vestido leve, de pé ao lado de um daqueles enormes e antigos carvalhos que se espalhavam em toda a cidade.  Nunca vira nada como esses carvalhos no Colorado. Mas aqui... eram como esculturas vivas, sobrevivendo por centenas de anos. Era estranho encontrar árvores enormes, imponentes, em áreas onde a tempestade havia destruído todo o resto, quase como se fossem...


   Eternas.

  A palavra parou em minha garganta, e, assim como na velha casa, eu senti um arrepio. Estava bem quebre do lado de fora. Eu sabia. Mas, mesmo quando tia Sara abriu a porta do carro, o calor não me atingiu.

 

  Entorpecido, saí do carro e segui minha tia no estacionamento mal iluminado, onde havia mais espaços vagos que ocupados. Nova Orleans se recuperava, mas tia Sara havia dito que muita gente ainda não tinha voltado.

Entre as sombras, percebi o eco dos nossos passos, a breve espera pelo elevador, a entrada e o momento em que tia Sara digitava o código de acesso.


Tudo o que eu conseguia pensar era... e se? E se meus pais tivessem continuado vivos? Como teria sido crescer ao lado deles? Aqui? Nesta cidade?


  A resposta era fácil. Essa noite nunca teria acontecido.


  O elevador se abriu e percorremos a curta distância até o apartamento de tia Sara.


À porta foi aberta.


- Como eles morreram? - a pergunta escapou antes que eu pudesse perceber ou evitar.


  Ao solado da porta, minha tia paralisou. Eu a admirava. Ela não me enrolava, ou até mesmo jogava comigo. - Você não sabe?

 

O cabelo estava sobre seu rosto e não pude ver sua expressão.

- a vovó nunca gostou de falar disso.


Ela permaneceu parada por um ou dois segundos, e, então entrou em casa.


Acendeu algumas luzes e soltou a bolsa sobre uma pequena mesa, como se eu não estivesse aguardando pela resposta.


  - Você também não quer me contar, não ?


Ela tirou seus sapatos, um de cada vez. - Não é isso. - falou - é só que... - Virou-se, e antes mesmo de continuar, eu vi a mudança, e soube que não haveriam mais respostas... não nessa noite. - Louis.

  

O jeito como ela disse isso meu nome, me fez me sentir como se eu escondesse algo.


   - Você não acha que é hora de me contar Lou?

 

     De modo defensivo, senti minha garganta de fechando. - Contar o quê?

 

   Eu sabia o que ela queria dizer, eu sabia e sabia muito bem.

    

Smashed DreamsWhere stories live. Discover now