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Antônio tinha aquele ar debochado, era dele.

— E se eu for? Não é da sua conta — respondeu ela no mesmo tom de deboche.

Pela primeira vez, viu algo nos olhos negros, malícia, pura malícia, Estela ficou vermelha, mas se manteve firme.

— Então é isso, você não conseguiu perder a virgindade até hoje? — ele riu lançando um olhar breve para ela. — Querida, também com esse gênio, quem se atreveria?

— Não sou geniosa, só não sou paga para ficar fingindo ser o que você quer toda hora — negou Estela irritada. — E, você não é um mar de flores Antônio, quem o conhece que o compre.

— Não tenho essa visão linda sobre a vida, Estela, unicórnios não existem e príncipes de contos de fadas estão todos mortos, eu não me iludo, porque as mulheres no fundo só querem duas coisas de mim, meu título e o meu dinheiro. — Ele falava com uma cara de mal-amado que só ele sabia fazer, depois bebeu um gole do uísque. — Você é a primeira que só quis o dinheiro, mas ainda assim, é minha noiva então...

— Não é de verdade. — Reforçar aquilo era desnecessário, muito menos que fosse sarcástica, sabia, mas precisava. — Algumas vezes tenho a leve impressão que no fundo é um covarde.

— Covarde? — Ele se fechou de novo. — Eu não sou covarde, apenas curto a minha vida da forma que acho que devo, por acaso lhe devo algo Estela? Não é paga para questionar nada sobre a minha vida pessoal.

— Tudo bem, me perdoe alteza — respondeu irônica e se afastou até o terraço.

O coração apertado com a resposta, ela sabia que precisava de seu dinheiro, mas a petulância era algo do qual abominava nele.

— É sempre bom quando fica calada, você é ótima calada.

— Eu já me desculpei.

O sangue dela fervia e ele sabia daquilo porque Estela não gostava do tom de voz dele, não gostava que ele achasse que o fato de estar pagando a ela dava o direito de viver dizendo coisas ofensivas.

— Se lembre das cláusulas, obediência total, interesseira.

A ponta de dignidade foi ferida demais para ela aguentar, que se danassem os cinco milhões da multa, ela não se importava, que ele ficasse com tudo, menos ficar na presença daquele homem frio e cruel.

— Enfia seu dinheiro no meio do cú, Vossa Alteza.

Ela girou os calcanhares disposta a ir embora, fechando os punhos, querendo acertar um soco de direita na cara daquele animal. Disposta a falar para ele que quebraria o contrato, que não queria mais prosseguir com aquilo, e todo o resto que estava entalado nas últimas duas semanas.

Estela iria desistir.

Quando de repente trombou com Antônio com força, ela tentou se equilibrar, mas perdeu o equilíbrio e quando começou a cair na piscina ele tentou segurá-la e puxá-la, mas não foi algo que adiantou, ambos se desequilibraram e caíram juntos na piscina, a água gelada fez com que todos os seus sentidos despertassem. Estela não estava furiosa, apenas assustada, trêmula, ele a havia assustado, mas ao mesmo tempo tinha sido muito engraçado, nadou depressa até superfície tomando fôlego, o casaco de poliéster boiando, exibindo metade da barriga dela, barriga essa que em breve sabia que ficaria enorme.

— POR QUE NÃO PRESTA ATENÇÃO? — berrou Antônio furioso atrás dela.

— EU não presto atenção? — perguntou confusa e ao mesmo tempo irritada.

Era insuportável mesmo estar na presença daquele homem.

Estela nadou rápido até a borda nada disposta a continuar ali.

— Para onde pensa que vai? — ele perguntou nadando atrás dela, seguindo-a. — Estela fale comigo quando eu falar com você!

— VAI SE FERRAR, EU PREFIRO PASSAR O RESTO DOS MEUS DIAS PRESA A UMA DÍVIDA QUE NÃO PUDE PAGAR, A FICAR UM SEGUNDO A MAIS NA SUA PRESENÇA — gritou enquanto subia a escadaria da piscina com dificuldade.

As roupas pesavam, a pele se arrepiava devido frio e ela só queria ir embora, para o seu pequeno apartamento que não ia há dias, para o seu sofá, comer uma pizza e ver televisão. Ela saiu da piscina e voltou para dentro da suíte espremendo o as barras do sobretudo.

Que se danasse para lá.

— Como? — ele a seguiu para dentro da suíte. — Está quebrando o contrato?

— Sim, eu estou — berrou furiosa e começou a caminhar em direção a porta depressa. — Eu quebro e o livro de quaisquer danos, e aproveita e enfia o seu dinheiro no meio do seu cu, seu...

Mas antes que ela falasse a mão firme e grande do príncipe a segurou, ele a puxou, Estela não se recordava de sentir o coração tão acelerado, quase pulando na garganta quando os olhos escuros caíram sobre ela, foi quase como um hipnotismo, viu-se presa no olhar penetrante dele, tarde demais, o príncipe a beijou...

— Estela... Estela!

Como num estalar de dedos ela acordou da lembrança, sentindo a textura firme daquelas mãos enormes sobre seus ombros, piscou diante do espelho, o reflexo dela intacto, mas a maquiagem borrada por lágrimas, que ela sequer sentiu caindo, era assim desde que Antônio se foi, às vezes as lembranças daquelas semanas vinham e ela chorava sem notar, agora ele estava ali, atrás dela, com as mãos em seus ombros, chamando-a, parecendo preocupado.

Ela se soltou das mãos quentes e foi a penteadeira, limpou as faces rápido e corrigiu a maquiagem limpando os cantos com um lenço de papel, ele ficou ali parado olhando-a em silêncio, Estela o ignorou e começou a passar uma leve camada de pó compacto no rosto, retocou a máscara para cílios e o gloss rápido, depois já parecia recomposta, mesmo que dentro dela seu coração ainda doesse demais.

— O que foi? — Antônio perguntou se aproximando de novo. — Por que estava chorando?

— Por nada — disse firmemente e se levantou. — Podemos ir, Vick já está pronto?

Deixou Vick aos cuidados das meninas na sala, já havia colocado uma roupinha nova nele, sapatos, agasalho e montado a bolsa.

— Sim, ele já está até na cadeirinha — falou sério. — Diga, por que estava chorando?

— Eu estou fazendo o que você quer, não estou? Não precisa ficar fingindo que se importa — argumentou Estela, pegando a bolsa num canto. — Vamos logo, quero passar no Kenny na volta, prometi uma visita.

— Tudo bem — ele endureceu de novo. — Vamos.



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Indecisa - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now