FUNERAL

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FUNERA

CAPÍTULO ONZE

  Algo terrível estava acontecendo em Angelus. Algo que nem mesmo as autoridades tinham controle e conhecimento do causador de tais atrocidades, a localidade não era muito diferente de Arcádia, tendo um pouco mais de sessenta mil habitantes a cidade era de longe tranquila, pelo menos nos últimos dias.

  O primeiro caso de homicídio havia sido registrado no domingo, tendo poucas informações divulgadas. Trevor e os pais estavam encarregados de noticiar os acontecimentos no jornal local do distrito, afinal todos esperavam por  uma luz que pudesse tranquilizá‐los. O hotel que estavam hospedados com certeza era maior e mais confortável do que a pousada da família Grayson no final da rua da grande biblioteca de Arcádia, Trevor podia sentir-se descansado, apesar das diversas viagens que fazia junto aos pais para os locais que eram palcos de cenas horrendas das vítimas.

  Coincidentemente os crimes seguiam um padrão, o primeiro corpo foi encontrado dilacerado, totalmente desconfigurado.  O segundo não tinha o coração, o órgão encontrava-se grudado na própria mão e, por fim, o terceiro sequer viu algo, os olhos foram arracandos e postos em uma boneca de pano que felizmente sorria para um autorretrato. Crimes horrendos que tiravam a paz dos cidadãos, crimes que de alguma forma ligavam a maior cidade da região ao distrito e era questão de tempo até o mal chegar em Arcádia.

   Aquela avenida transbordava em um amontoado de pessoas, se olhasse com cuidado era possível notar os rostos cansados e apreensivos  dos transeuntes, provavelmente estivessem indo para seus trabalhos. O garoto de fios escuros se contorcia no banco do passageiro, ele só não estava entediado como também necessitava terrivelmente de ir ao banheiro. O senhor e a senhora Walker já estavam naquela cafeteria por pelos menos vinte minutos, possivelmente fazendo diversas perguntas para os clientes e funcionários. Os pensamentos do garoto oscilavam entre sair daquele carro abafado e acabar com o sofrimento que sua bexiga causava, e também magicamente achar algum ponto que tivesse um bom sinal para assim poder conversar com seu namorado, o que com certeza não ia rolar. Angelus ainda estava parada no tempo, diferente de Arcádia, a cidade nunca saiu da idade média.

  Foi o que ele fez, deixou o fusion preto e ao invés de adentrar na cafeteria preferiu seguir até a praça central, onde certamente teria banheiros químicos. Ele não estava nenhum pouco interessado em ajudar os veteranos na composição da matéria, estava junto a eles apenas por obrigação, o senhor e a senhora Walker insistia na ideia de o filho seguir com o legado da família, o jornal dos Walker era a fonte principal e mais importante de Arcádia, e se por uma simples escolha de um adolescente a empresa fosse esquecida provavelmente os mais velhos entrariam em um surto coletivo. As ruas lembravam os becos sem saída que ele costumava se esconder com Kalel, todas incrivelmente rústicas e com uma brisa suave que lhe trazia um sono repentino. Trevor estranhou a presença do Sol no céu azul, se Arcádia era extremamente chuvosa, com certeza Angelus era dez vezes pior, entretanto, o clima estava estranhamente desregulado nos últimos meses e isso o preocupava.

  A temperatura também o intrigava, acostumado com o frio, o moreno sentia-se como numa sauna sem nem ao menos ter estado em uma. Quando finalmente avistou os banheiros azulados certificou‐se de correr até o paraíso, ele tinha um único objetivo. Aliviar sua bexiga. Não demorou muito naquela pequena caixa de metal que fedia a urina e a alguma outra substância suspeita, certamente se arrependera de não ter ido ao local mais limpo, porém já estava feito. Ele andou pela praça que naquela época do ano estava toda decorada para o festival de primavera, diferente da sua cidade natal, Angelus sequer tinha contato com o Conselho de Fundadores, os prefeitos anteriores a Harris também optaram por se instalarem no distrito que há séculos havia sido povoado, por mais que Angelus fosse duas vezes maior, Arcádia era o centro. Trevor ficou se perguntado do por que de Harris não largar a vida "simples" no distrito e se mudar para as ruas movimentadas e bem estruturadas da maior cidade de algum estado dos Estados Unidos esquecido pela ONU, mas logo teve seus pensamentos substituídos pelo ruivo que tanto ansiava rever. Felizmente conseguiu achar sinal num beco repleto de grafites, não muito longe da praça, discou o número do garoto de fios acobreados e esperou ser recebido com a voz doce e inocente que apenas aquele corpo pequeno conseguia transmitir.

THE IMMORTAL |Até a Morte-Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora