ARCÁDIA

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ARCADIAE

CAPÍTULO UM

A brisa suave do verão acariciava delicadamente o rosto do rapaz. O céu estrelado daquela noite parecia um manto de brilhantes no alto, enquanto a Lua cheia resplandecia no firmamento, iluminando as águas agitadas do mar, que espelhavam a turbulência de seus pensamentos e quebravam suas ondas furiosas na costa. O jovem, de estatura mediana, tentava desvendar razões para seguir em frente, mesmo que seu corpo transbordasse de vida, seu coração parecia estar fragmentado, destroçado. Contudo, ninguém notava. Ninguém se dava ao trabalho de perguntar.

A escuridão o envolvia por completo, estando à beira da suposta felicidade, hesitando em se jogar e mergulhar no profundo azul que o rodeava. Ele se via consumido pela dor que lhe causava um vazio insuportável e um sofrimento constante. Já se despedira da vida, sentindo-se completamente perdido.

Um sorriso iluminou seu rosto e uma única lágrima deslizou suavemente por suas bochechas, seus olhos brilhavam como estrelas na escuridão do espaço e sua respiração se acalmava aos poucos. Ele sabia o que precisava fazer para reencontrá-lo, sabia que precisava arriscar tudo para sentir sua presença mais uma vez. Com determinação, ele saltou, e a brisa suave se transformou em um vento furioso que bagunçava seus cabelos ruivos enquanto ele caía em direção ao desconhecido.

O cenário ao seu redor se transformou rapidamente, as estruturas de concreto deram lugar a um vasto e misterioso oceano. A água turquesa o envolveu por completo, a pressão esmagadora o fez sentir o peso de seu próprio corpo. Mas ele não hesitou, continuou mergulhando em direção ao desconhecido, lutando contra a correnteza e a escuridão que o cercava. Em meio às profundezas do oceano, ele sentiu uma sensação de liberdade e adrenalina que o impulsionava para frente, em busca do que seu coração ansiava encontrar.

Um azul intenso como o olhar que um dia o enfeitiçara, a água fria envolvia seu corpo enquanto ele se afundava sem resistência. A luz da lua refletida na superfície o distraía, mas seus pulmões imploravam desesperadamente por ar. Mesmo assim, sua determinação em reencontrá-lo era mais forte, superando qualquer instinto de sobrevivência. A visão se tornava embaçada, os sentidos enfraqueciam e o medo tentava se instalar em sua mente. No entanto, a imagem daquele rosto amado o impulsionava a continuar. Ignorando a vontade de subir à superfície, ele mergulhou mais fundo, enfrentando a escuridão que o rodeava.

Cada movimento era uma batalha contra a pressão da água, cada suspiro era um desafio, mas ele persistia. A certeza de reencontrá-lo o mantinha firme, mesmo que isso custasse sua própria vida. Assim, ele continuou nadando na escuridão, buscando o tão esperado reencontro, sem hesitar.

Consequentemente, ele podia sentir sua consciência se desfazer e seus olhos perdendo o foco da vida. Seu corpo se debatia de maneira involuntária, e sua determinação era substituída pelo medo. Ele estava realmente preparado para deixar o mundo? Sim, estava! Ele não tinha medo da morte, mas sim medo de não ser resgatado por seu amado.

Finalmente, o garoto não estava mais ali, pelo menos não conscientemente. Apenas seu corpo se encontrava afundado nas águas salgadas do sul de alguma cidade esquecida pela ONU. Uma luz forte surgiu no céu, e o reflexo de grandes asas douradas substituiu o luar. Um corpo humano desceu no profundo oceano, brilhando como o Sol do meio dia, uma luz tão intensa que foi capaz de despertar o causador de todo desequilíbrio natural.

Aquele jovem rapaz, que estava prestes a tirar sua própria vida para se sentir vivo novamente, agora estava seguro nos braços de quem tanto desejava reencontrar. Eles voavam juntos no céu escuro.

—Você veio. — sua voz saiu falha e quase inaudível.

E então, ele desmaiou novamente.

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Arcádia, sete meses antes do ocorrido

THE IMMORTAL |Até a Morte-Livro 1Where stories live. Discover now