Hazel Thierry

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- Todo homem tem seus segredos que não quer contar nem mesmo para seu terapeuta de longas datas... - meus lábios estavam secos e a angustia tomava conta.

Eu sentia que era uma perda de tempo estar ali sentado, falando sobre o meu dia com o terapeuta que não tinha nenhuma expressão. Dando-me a insegurança de que ele não estava nem aí para o que contava. Na verdade não era o que ele queria ouvir, meu dia sim, era importante, mas o que se passava dentro de mim e dentro da minha cabeça era o que ele mais queria saber.

- Hazel... Estou aqui para ajudar a desconstruir esses fantasmas que te assombram. - ele descansou o bloco de notas na mesinha lateral. - Seus segredos estarão bem guardados comigo.

Encarei o terapeuta por um breve momento e olhei para o relógio.

- Acabou o nosso tempo... - E me levantei.

A cara dele foi decepcionante quando eu mesmo encerrei a conversa.

- Semana que vem neste mesmo horário? - ele se levantou devagar e estendeu a mão para mim.

- Minha secretária confirmará amanhã. - apertei a sua mão e segui para a porta.

- Hazel! - ele me chamou e eu o olhei sobre o meu ombro. - Pense no que conversamos e sobre a minha pergunta, está bem?

Concordei e deixei a sala do consultório seguindo para dois andares abaixo onde ficava a minha massoterapeuta e reikiana Angel. Terapias que o Psicanalista orientou para me ajudar a soltar as tensões e relaxar o corpo e a alma. Como se depois de trinta minutos fora daquela sala não retornassem novamente. Por outro lado eu sentia que as noites eram mais calmas e dormia com facilidade, por isso continuavam a ir às sessões de Reiki e Massagem relaxante com reflexologia. Era minha tarde, ninguém poderia me tirar àquela sensação de bem estar.

- Boa tarde, Sr. Thierry! - Angel veio me recepcionar na porta. - Como está seu ombro e pescoço?

- Não está doendo... - entrei na sala e já fui tirando o paletó.

- Isso é ótimo de se ouvir. - Sua voz era doce e relaxante, o ar da sala era outra coisa que gostava, pois sempre havia velas e incensos perfumando o local. - Tem alguma queixa?

- Hoje não. - entrei no banheiro e voltei apenas com a toalha enrolada na base da cintura.

Deitei-me de bruços e ela ajeitou a toalha na minha bunda e relaxei.

Nas primeiras sessões de massagem relaxante eu me senti completamente sem jeito, ela era uma senhora e eu não podia mostrar meus atributos assim. Mas para Angel aquilo era tão natural que nem ligava. Suas mãos eram perfeitas, fazia uma massagem tão gostosa que em alguns momentos me fazia dormir.

Duas horas depois eu estava deixando o edifício onde cuidava da minha mente e do meu corpo, entrei no carro e retornei ao meu apartamento em Manhattan. Já era noite e eu queria um banho para tirar aquele óleo do corpo e relaxar na minha cama, já que eu não tinha mais ninguém para dividir a cama.

A solidão era algo que eu vinha curtindo nos últimos meses, era bom não ter alguém para reclamar ou insistir a ir a restaurantes ou festas. Por outro lado era ruim não ter uma mulher afagando meus cabelos, estando disponível para o sexo. E isso nem era problema, eu não tinha problemas de achar uma mulher para me satisfazer.

Na manhã seguinte segui para o escritório no centro econômico de Manhattan. No banco de trás eu ia lendo o jornal para me atualizar.

Baran dirigia a Mercedes com classe, era cuidadoso e muito bom motorista como também segurança, apesar de que não era tão importante assim para alguém tentar um seqüestro ou me matar. Ele parou na minha lanchonete preferida para comprar os nossos cafés, e resolvi descer.

- Deixe que eu compre... - Saí do carro antes mesmo que ele pudesse sair e abrir a porta para mim. - Creme extra?

- Sim, senhor! - disse ele surpreso.

Entrei na cafeteria e esperei na fila, olhando o cardápio, pois queria mudar o meu pedido.

Correndo os olhos nas opções acabei dando de cara com um lindo bebê no colo da mãe, chupando o dedo e olhando para mim, Nossos olhos se cruzaram e ele riu, voltando a chupar o dedo novamente.

Olhando para aquela criança algo me veio na cabeça. Eu não tinha Herdeiros. Eu era um homem sozinho que tinha aversão em casamento.

Aquilo me chocou produzindo uma espécie de revoltar, tristeza, incompetência. Mas por quê?

Voltei para o carro sem os pedidos, me sentei no banco e Baran me olhou sem entender.

- Eu não sei como fazer o pedido. - disse rouco e me sentindo envergonhado.

- Eu pego... - Baran desceu do carro e foi buscar os pedidos.

Nessa hora eu entrei no mundo que eu detestava relembrar, minha infância, minha adolescência e a vida que meus pais me proporcionaram.

HAZELOnde histórias criam vida. Descubra agora