Um

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  Um estranho é incapaz de trair outro. A traição sempre vem daquele do qual depositamos confiança. Parece que quão mais próxima a pessoa é, mas cruel é a dor da traição. Pior ainda quando é vinda de um dos pais

  Qualquer um poderia dizer que Marcel não era pai de Davina, mas a dor que ela sentiu ao acordar, foi a mesma de quando sua mãe tentou matá-la. Marcel era um traidor.

  A jovem levantou da cama com os olhos cheios de lágrimas, sentou na cama e cobriu o rosto com as mãos e deixou as lágrimas caírem livremente. O original escondido nas sombras sentiu pena da menina, ele estava acostumado a manipular quem fosse preciso para o bem da sua família, mas ao ver o quão destruída a menina estava, seu ódio por Marcel aumentou.

  — Ele mentiu — não era uma pergunta, ele apenas afirmou um fato e ela o encarou.

  Seus olhos vermelhos e nublados pelas lágrimas, encaram o original de terno. Ela apenas foi capaz de assentir, um plano se formando em sua mente. Seus olhos focaram uma caixa ao lado de sua cama, lembrava exatamente o conteúdo dela.

  — Eu aceito o acordo — declarou com a voz embargada e Elijah assentiu com rosto sério, sabia o quão difícil era aquela decisão para ela — com uma condição.

  — Diga-me e verei se é plausível — ele falou e ergueu a sobrancelha com o olhar determinado na jovem.

  — Farei o feitiço, mas receberei cinco mil dólares — Davina declarou sem deixar hipótese de discussão e ficou satisfeita com o aceno dele.

  — Feito, o que você precisará? — questionou.

  — Sangue da pessoa envolvida, um nó feito de cordão impossível de desatar e meu sangue — Davina informou e Elijah assentiu antes de partir.

  Assim que constatou estar totalmente sozinha, correu até a caixa e abriu, fotos de quando era criança tomaram conta de sua visão, mas não foi isso que a traiu. A certidão de nascimento descansando no fundo da caixa parecia zombar dela, durante toda sua vida ouviu a mãe dizer que ela não tinha pai, havia sido fruto de uma noite bêbada e que sua mãe não fazia ideia de quem era seu pai. Mas o nome escrito era a prova de que havia mais uma mentira em sua vida.

  Charles Owen Swan

  Ela nunca havia visto esse nome, mas mesmo assim, digitou o nome no velho notebook que Marcel havia lhe dado, foi a desculpa de usar o aparelho para o estudo, que lhe garantiu o presente. A pesquisa revelou algo inesperado, o homem era chefe de polícia de um lugar chamado Forks, uma pequena cidade pesqueira.

  Ao clicar na foto do homem, constatou que era uma cópia do pai, uma versão feminina dele com olhos verdes. A decisão em sua mente se formou rapidamente. Com rapidez procurou a mala que usou para trazer suas roupas da casa de sua mãe e juntou tudo que lhe era importante, duas calças jeans, três camisetas e dois vestidos, apenas uma sandália e um tênis velho.  Com tudo pronto, esperou o vampiro voltar para poder partir.

  Ela não precisou esperar tanto. Quando voltou, o vampiro trazia uma bolsa com tudo que ela havia pedido, incluindo o dinheiro.

  — Vamos começar — declarou e começou a fazer o ritual, jogou seu sangue e o da pessoa envolvido em cima do nó e se concentrou, em poucos instantes começou a sentir o vínculo e uma força mágica que parecia se agarrar a si, um leve desconforto começou a aparecer em seu ventre.

  Elijah assistia admirado o tamanho poder vindo da jovem, em seus mil anos, nunca havia se deparado com tamanho poder, nem sua mãe era tão forte como aquele ser humano minúsculo. Ficou extremamente grato por tê-la ao lado de sua família. O toque em seu celular avisou que uma mensagem havia chegado, sua mão buscou o aparelho e ele viu a mensagem urgente de sua irmã.

  Hayley piorou, precisamos de você.

  O original olhou para Davina e suspirou antes de partir, ele confiava que ela cumpriria sua palavra, por isso deixou o pagamento dela antes de ir. A jovem bruxa sentiu o vampiro partir, mas não se importou, sua mente estava totalmente focada em quebrar aquele vínculo. Parecia que o vínculo estava machucando aquela força mágica e isso doía em seu próprio corpo, cada vez que mais magia liberava, mais a dor em seu ventre aumentava, até que o vínculo quebrou e a dor ficou tanta que sua vista embaçou, mas tão rápido quanto começou, terminou.

  Inclinou-se na mesa respirando com dificuldade, esperando sua visão voltar ao normal antes de correr para a bolsa cheia de dinheiro e suspirou ao ver que não havia cinco mil e sim dez mil. Havia também um celular em cima do dinheiro e na mesma hora que tocou nele, sua tela iluminou e o nome Elijah apareceu.

  — Alô? — ela saudou ao atender.

  — Foi ótimo fazer este acordo com você senhorita Claire, peço tão somente que não conte a ninguém sobre isso, assim como não direi sobre a mala em sua cama — ele parecia estar andando, a jovem sentiu o coração acelerar de medo, mas mesmo assim conseguiu focar sua mente.

  — Não direi nada — jurou.

  Assim que a ligação foi encerrada com promessas de jamais manter contato, Davina pegou suas coisas e partiu, deixando para trás uma vida cheia de mentiras e enganos, mesmo que estivesse trilhando um caminho de incerteza, tinha que arriscar.

  Ao chegar na rodoviária, pois havia decidido que era a forma mais anônima de viajar, comprou a passagem mais rápida para seu destino. Infelizmente não haviam ônibus de Nova Orleans para Forks, por isso teria que descer em Port Angels e pedir um táxi até a casa de seu pai, mesmo que não fizesse a mínima ideia de onde poderia ser, uma sensação de liberdade tomou conta de seu corpo assim que passou pela fronteira da cidade, sentiu a pressão da ligação com os ancestrais sendo desfeita e finalmente foi capaz de respirar aliviada.

  Não sabia o que havia deixado para trás e principalmente, não sabia o que estava levando consigo.

Golpe de sorteWhere stories live. Discover now