Os sons dos pássaros eram o que cortava o silêncio. Fiquei tentada a olhar para ele e me peguei rindo. A vida nos faz passar por tantos obstáculos.

— Desculpa – pedi sentindo seus olhos em mim. – Devo ter interpretado sua gentileza de forma errada, o beijo, enfim... Eu só preciso aceitar o fato de que você não gosta de mim da mesma maneira que eu gosto de você, mas confesso que estou tendo um pouco de dificuldade.

Um breve riso triste saiu de meus lábios ao perceber que ele ainda me fitava. Dylan continuou calado e tomei coragem me virando para olhá-lo também.

— É que você foi tão acolhedor que depois de tanto tempo eu finalmente senti meu coração se aquecer.

— Meu coração também se aqueceu, desde o dia que voltou. – Ele admitiu me pegando de surpresa e suspendi o ar quando ele se aproximou.

Seus lábios vieram calmos e fechei meus olhos vagarosamente sentindo sua mão em minha nuca, me levando para mais perto dele. As batidas do meu coração estavam tão fortes que eu podia jurar que ele sentia quando aprofundou mais o nosso beijo. Sua língua percorria minha boca de forma gentil, era assim que ele era. Dylan me levantou e me fez sentar em seu colo. Senti seu membro cutucar minha bunda e uma rápida sensação de prazer me atingiu. Arfei recuperando o fôlego ao nos separarmos. Dylan abaixou a cabeça me abraçando e sorri abraçando-o de volta.

— Me desculpe, por te magoar.

Ouvi seu pedido de desculpas e o abracei mais forte. Ele havia passado por muita coisa, quer dizer, ao julgar pelo que vi ontem, ele ainda passa. É como se seu passado o assombrasse. Não é culpa dele, agir da forma que age. Na verdade, foi o jeito que ele encontrou de se proteger.

— Você teve seus motivos – digo acariciando suas costas.

— Mas eu não deveria permitir que isso te afetasse.

— Sei que precisa do seu tempo, então quando estiver pronto para se abrir comigo, estarei aqui, pronta para ouvir qualquer coisa que tenha para me dizer.

Dylan levantou o rosto me olhando. Sorri para ele que se levantou me carregando no colo. Ele parecia um pouco nervoso, o que me fez achá-lo ainda mais atraente. Com cuidado Dylan entrou na cabana, fechando a porta e em seguida me levou até sua cama.

— Isso é novo para mim – murmurou baixo se deitando ao meu lado. – Esse sentimento bom que sinto toda vez que você está por perto. – Senti ele entrelaçar seus dedos nos meus e continuei olhando-o. – Todos sabem que fui abandonado quando criança.

Respirei fundo afirmando.

— O que ninguém sabe, é que foi nesta cabana. Fui abandonado primeiro pela minha mãe e em seguida pelo meu pai. – Olhei em volta, me questionando porque ele estaria ali, já que o lugar só trazia memórias ruins. – Era meu pai quem mandava em tudo na casa, inclusive, na minha mãe e em mim. Ele não trabalhava, quem trazia dinheiro para casa era mamãe, e tudo era entregue para ele, que gastava em bebidas e jogos. Havia dias que ela saía e voltava tarde da noite, apenas para conseguir a quantia necessária para o dia. Meu pai era tão covarde que justo nesses dias em que ela trabalhava mais, ele batia nela.

Senti a raiva e o desprezo em sua voz, me aproximei mais dele.

— Você presenciava tudo?

— No início eu apenas escutava os choros, os pedidos para parar, depois eu vi e fiquei tão assustado que não consegui fazer nada. Depois disso ele passou a me bater também por qualquer coisa que eu fazia.

— Quantos anos você tinha?

— Quatro, eu acho. Isso durou por mais dois anos, até que mamãe foi embora e as coisas se tornaram piores. Ele dizia que a culpa era minha, que eu não era um bom filho e a deixava triste todos os dias. Que as surras que ela levava era por minha causa e que por isso ela nos abandonou.

Até Que O Inverno AcabeWhere stories live. Discover now