Capítulo 7

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— Não deveria estar aqui – disse em repreensão e me dei conta de que essa era a primeira vez que o ouvia irritado.

— Você também não – rebati afastando-me enxugando as lágrimas de meu rosto.

— Está machucada?

— Não.

— Por que está chorando?

— Porque eu estava com medo, achei que estava perdida – expliquei e ele me analisou por alguns segundos, respirando fundo em seguida.

— Vamos voltar, você está tremendo muito.

— Cadê sua lanterna?

— Eu não preciso disso e na verdade, eu que deveria estar te perguntando sobre isso.

Ele virou-se mostrando-me suas costas e segurei em seu braço. Senti seus músculos tencionarem sob minhas mãos e levantei a cabeça olhando para seu rosto confuso que encarava minhas mãos.

— Não quero me perder outra vez – murmurei.

— Você está comigo agora, não precisa ter medo – falou calmo e confiante.

Seus olhos subiram até meu rosto e ele sorriu preocupado. Com a outra mão livre, Dylan tirou minha mão de seu braço segurando-a. Aquela atitude me surpreendeu e eu apenas deixei que ele me guiasse de volta para casa.

Ainda estávamos de mãos dadas quando subimos para o segundo andar. Dylan soltou minha mão e pude sentir vazio de seu calor.

— Por que foi para as montanhas? – ele iniciou tirando os dois casacos que usava ficando com sua blusa cinza de malha grossa.

— Você não aparecia e estava ficando frio.

— Então resolveu ir atrás de mim? – questionou e me sentei no sofá. – Como soube que eu estava lá?

— Sua irmã. Ela apareceu por aqui para pegar um livro.

Vi ele pensar por alguns segundos seguindo para o fogão colocando uma panela de água para ferver.

— Ela por acaso não te disse que era perigoso? – Sua voz não era mais de repreensão, ele demonstrava apenas uma certa inquietação.

— Disse, mas...

Eu fiquei preocupada. Quis dizer, no entanto, fiquei calada.

— Por que não levou uma lanterna?

— Eu levei e acabei perdendo. – A pouca água que ele havia colocado no fogo já estava quase fervendo. Dylan tirou colocando em uma xícara com um sachê de chá de maracujá.

— Não deveria ir para as montanhas à noite – avisou me entregando a xícara de chá.

— Nem você.

— Estou familiarizado com a montanha, Lisa. Mas para quem não é, é fácil se perder, até mesmo à luz do dia.

— Está com raiva? – questionei.

— Apenas não quero que se machuque por minha causa. Agora, tome seu chá e tente descansar – falou e saiu para seu quarto.

Não. Ele não estava com raiva, estava preocupado. Engoli em seco bebendo um pouco do chá. Lembrei do momento que esbarrei nele, sentindo a segurança que ele me passava. Dos seus olhos assustados por me ver com medo e de seu coração acelerado que pude sentir quando o abracei. O que havia naquela montanha para que ele fosse lá tantas vezes? Suspirei terminando o chá e indo dormir em seguida.

***

Eram seis da manhã quando despertei, levantei-me da cama indo até à janela do meu quarto temporário. Observei a neve cair por alguns minutos e saí. O ambiente estava quieto como de costume, fui até à sala me certificando de que Dylan não estava lá e respirei aliviada. Tive sonhos estranhos com ele e não estava nem um pouco a fim de vê-lo agora.

Até Que O Inverno AcabeWhere stories live. Discover now