- Conhece essa frase? - Marissa perguntou, interessada.

- Primeira Epístola aos Coríntios, capítulo seis, versículo doze. Minha mãe é evangélica, e quando eu era pequeno, me levava com ela - explicou. - Conheço muitos versículos da bíblia.

- Entendi. E você não é evangélico?

- Como minha mãe diz a todos que a perguntam isso: ainda não - respondeu com as exatas palavras da mãe. - Mas creio em Deus como criador de todas as coisas. Um pouco do evangelho que aprendi quando ia aos cultos com ela está dentro de mim e faz sentido, mas eu não congrego - explicou. - E você?

- Não, eu não sou de nenhuma igreja. Como você disse, isso foi algo que minha mãe sempre me disse, algo que levo para a vida, e assim como sua mãe fez, ensinei a minha filha.

- Então, seu único problema é nossa diferença de idade?

- Digamos que cinquenta por cento é sim. - Sorriu, sem graça.

- Mas você nem sabe minha idade. Já te passou pela cabeça que posso ser apenas muito bem conservado? - perguntou, sem se dar por vencido.

Existia algo naquela mulher que o atraía ao extremo. Ela era bonita, isso era um fato inegável, tinha um corpo perfeito, poderia jurar que era modelo em algum lugar. Fez uma nota mental de fazer uma pesquisa na internet quando chegasse em casa. Mas, apesar de isso ser um atrativo e tanto, não era isso que o fazia querer estar perto dela, estar com ela; sentia tesão, é claro, mas, além disso, se sentia como uma mariposa, e ela era a lâmpada que o atraía.

Sabia que morreria, mas não conseguia resistir.

- Vai que eu seja um vampiro de mais de cem anos - provocou, fazendo-a rir de verdade.

- Só esse comentário já mostra o quão jovem você é - afirmou, sarcástica. - Vamos fazer assim, vou chutar sua idade, se eu acertar, você me deixa em paz - o desafiou.

Devido à profissão que escolheu, Marissa se tornou muito observadora, o que a levava a descobrir, através das características físicas das pessoas, a idade que possuíam. Eram raras as vezes que errava. Geralmente, isso acontecia com orientais. Por isso, estava convicta de que sabia exatamente quantos anos Tiago tinha.

- E se você errar?

- O quê?

- Isso pareceu uma aposta para mim - provocou. - Se você acertar, eu te deixo em paz, ok, você vai se ver livre da minha insuportável presença...

- Sua presença não é insuportável, Tiago. Para de drama.

- Tá bom, mas você percebe que estou saindo no prejuízo aqui? Portanto, sugiro que façamos uma aposta, onde os dois lados possam sair perdendo, mas também possam ganhar.

Marissa pensou por alguns segundos e encarou Tiago por um momento, procurando algum traço de sorriso em sua face, mas ele apenas a encarou, sério e compenetrado. Ela calculou mais ou menos a idade dele, na verdade, tinha quase certeza, mas dependendo do que ele fosse propor, não valia a pena arriscar.

Ainda mais depois desse beijo.

- O que você sugere?

- Se você acertar minha idade, te deixo em paz. Mas, se você errar, vai aceitar jantar comigo.

- Jantar? Meu filho, qual a parte de que aquilo que aconteceu agora não pode mais se repetir, que você não entendeu?

- Marissa, calma, te chamei pra jantar, não para um motel - brincou.

- Não me tira de doida, menino, conheço esse papo! Jantar, vinho, depois um passeio, beijos calientes, e pronto, estaremos na cama em algum lugar.

- Olha, meu plano era outro, mas gostei mais do seu.

Sobre A-Mar Você - Degustação Onde as histórias ganham vida. Descobre agora