Prólogo

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Vamos iniciar a leitura de: Sobre A-mar Você. ?

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A salva de palmas ouvida pelo anúncio da entrada no palco do famoso autor Best-Seller, dos thrillers psicológicos e suspense, T. J. Smith, já não é mais uma novidade para ele, que respira fundo antes de colocar um sorriso na face e adentrar pelo iluminado espaço da Biblioteca Nacional de Portugal.

Dez anos se passaram desde que seu terceiro livro caiu no gosto dos leitores, o transformando em quem é hoje, um dos escritores mais aclamados do mundo. Lilian Pereira, famosa jornalista local e convidada para mediar o encontro entre T. J. e seus leitores portugueses, o recebe com um largo sorriso.

O cumprimenta de maneira educada, porém efusiva, o que demonstra claramente o quanto está feliz por estar recebendo-o.

— Seja muito bem-vindo T. J. Smith — Lilian o recepciona, depois que as palmas cessam e ambos se sentam na grande e confortável sala criada no local, como um cenário de TV —, é um prazer e uma honra recebê-lo.

— Acredite, estou mais feliz e emocionado que vocês — T. J. confessa, sorrindo.

— Sei que todos vocês têm conhecimento de quem é esta pessoa sentada ao meu lado, o que dispensa uma apresentação, mas como estamos sendo transmitidos ao vivo para todo o país, farei as devidas apresentações. Hoje nós estamos recebendo o autor brasileiro T. J. Smith, que tem mais de vinte livros de suspense, thriller psicológico e afins, para falarmos sobre seu novo livro, que para a surpresa de todos, se trata de seu primeiro romance.

Ovações são ouvidas e alguns fãs erguem o exemplar do livro em questão, como se erguessem um troféu, tamanho orgulho que sentem ao ter a primeira edição do mais novo sucesso do autor, e ainda mais pela certeza de um autógrafo depois da leitura coletiva.

— Então, nos conte T. J., por que, depois de ter se tornado o mestre do suspense e do que habita no mais obscuro da mente humana, decidiu se enveredar pelas linhas mais românticas da literatura?

— Ah, imagina, ainda falta um longo caminho até que me torne um mestre, mas recebo e agradeço o elogio — confessa com um sorriso aberto. — Essa história, assim como todas as outras que escrevi, vieram à minha mente como em uma enxurrada. Um tsunami de palavras, fatos e a interminável conversa dos personagens em minha mente, que chega a me deixar tonto — explica, lembrando-se da sensação.

— Nossa, deve ser complicado conviver com tantas vozes! — Lilian brinca, mas parece um pouco assustada com a revelação do autor.

— A gente se acostuma — desdenha. — Mas confesso que num primeiro momento pensei que estava com alguns parafusos soltos — confessa, fazendo todos, inclusive Lilian, rirem.

— E como funciona? Você faz um roteiro para que saiba o que vai escrever em cada capítulo? Porque olha, eu sou uma de suas leitoras — fala, sentindo-se corar —, e por muitas vezes me vi tão presa na trama que criou, que nem percebia estar prendendo a respiração.

— Assim você me lisonjeia!

— Só estou dizendo a verdade!

— Obrigado! É muito gratificante ver nosso trabalho reconhecido depois de tanto esforço, mas não é algo do qual gosto muito de me gabar, porque, na verdade, as histórias não são minhas — revela, causando uma comoção na plateia e nos outros convidados.

— O quê? Como assim? Não é você quem escreve as histórias?

— Sim, sou eu quem as escrevo, mas sou apenas o contador das histórias. — Ao que o silêncio paira em todo estúdio, o autor continua: — Não estou dizendo que pego histórias de outras pessoas, plagio ou algo do tipo; o que quero dizer é que as histórias são contadas a mim pelos personagens que habitam em minha mente. As histórias que conto, são as histórias deles, enquanto eu não passo de um mero narrador. Contudo, nesse livro em específico, além de narrador, ouso dizer que posso ser visto como um interlocutor.

— Ahhhhh! — O alívio é sentido nas exclamações de todos, inclusive da apresentadora, que solta o ar que estava prendendo.

— Então quer dizer que os personagens desse livro existem de verdade e que você é um deles? — interroga Lilian, honestamente fascinada. — Espera! O livro é baseado em uma história real? — Folheia seu próprio exemplar, em busca dessa informação. — É isso que está nos dizendo?

— Eu não disse isso.

— Mas...

— O que quero dizer, é que todo autor coloca um pouco de si quando escreve um livro, seja o modo de falar de um personagem, suas convicções, ou até mesmo o ambiente em que se passa a história, que pode ser seu lugar preferido no mundo — explica. — Esse livro tem apenas um pouco mais de mim.

— Certo. Então não há roteiro, nenhuma linha de criação, simplesmente sai.

— Exatamente — afirma. — É como se fosse um escritório, e nesse escritório existissem arquivos. Sabe aqueles arquivos que você puxa e tem várias pastas dentro?

— Sim.

— É exatamente assim. Como se minha mente fosse uma grande sala dividida em vários e vários arquivos, por onde eu passeio, à escolha de qual gaveta abrir.

— Mas você não está sozinho lá?

— Você pegou como a coisa funciona. — Gargalha. — Não, eu não estou sozinho. Todos os personagens já escritos estão lá, e alguns que já imaginei as histórias, mas não consegui concluí-las. Acredite, esses são os piores — sussurra, como se revelasse um segredo.

— É impossível não imaginar o quão interessante seria, para nós, seus leitores, passear por sua mente, se fosse possível — a apresentadora revela, animada com a possibilidade.

— Ah, seria bom para vocês, mas não para mim, pois teriam acesso ao lado mais obscuro da minha mente, acabariam deixando de comprar meus livros e eu morreria de fome.

Todos explodem em risadas. T. J. tem um carisma incrível, característico de todo brasileiro, e cativa todos à sua volta, enquanto tenta não revelar seu mais valioso segredo.

— Enquanto passeio na minha mente, em meio aos personagens e arquivos — continua —, chega um determinado momento que uma gaveta me chama atenção. — Como o bom narrador que é, a atenção de todos é voltada para T. J., que prossegue: — Ela não possui nada demais, nada que a diferencie das outras: um brilho, mancha ou cor diferente. Mas eu sei que é ela apenas pelo que me faz sentir. Então a abro, e pronto, nasce uma nova história. — Sorri.

— Não pode ser só isso!

— Não, quer dizer, resumindo é isso. A história vem completa, sei tudo o que vai acontecer, onde será ambientada, características, tanto físicas quanto pessoais de cada personagem. — Pausa. — Na verdade, é como se eu estivesse vendo um filme se desenrolar à minha frente, e é esse filme que passo para o papel.

— Uau! Deve ser fantástico!

— Realmente é, mas não vejo tudo, porém, o que não consigo ver, os personagens me contam como aconteceu. Por isso, que tantas vezes é complicado escrever um final que o público espera, porque o personagem não aceita e a história não flui. — Dá de ombros. — Pelo menos, comigo é assim.

— Fascinante! Então, vamos ao real motivo de sua presença aqui.

— Certo. Vamos iniciar a leitura de: Sobre A-mar Você

Sobre A-Mar Você - Degustação Where stories live. Discover now