Capítulo 4 - Sara.

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— O que deseja Senhorita? — O som de uma voz grave e baixa ecoou aos meus ouvidos, olhei para a esquerda vendo um senhor de estatura baixa com uma pele toda enrugada e clara, usava um chapéu num estilo fedora na cor marrom escura, sua roupa combinava com o ambiente como se fosse de propósito um terno na mesma cor, mas com uma tonalidade, mas clara, como um traje de época ostentando uma gravata borboleta na cor preta, era muito fofo.

— Preciso de uma caixinha de música. — Informei sem muitos rodeios.

— Acho que sei do que precisa, então, venha comigo. — Sinalizou com a mão enquanto caminhava devagar e calmamente.

Me levou até uma das prateleiras no fundo da loja onde tinha diversos modelos diferentes de bolas de cristal e caixinhas de música, havia diversos formatos e estilos desde vintage até no mais moderno, porém uma me chamou a atenção, um lindo carrossel com cavalos nos tons branco e rosa e detalhes em dourado. O segurei na mão sabendo que seria aquele era a cara de Sara, a menina amava rosa e gostava muito de cavalos, o topo do carrossel o mastro se destacava por não estar colado ao todo resto, deduzi que deveria apertar ali para a música começar a soar, uma melodia de ninar começou a soar era calma apenas um toque de um instrumento lírico.

— Parece que já se decidiu. — A voz do senhor se destacou me despertando do transe em que acabei entrando.

— Sim, levarei esse, por favor, pode colocar em uma caixa de presente? — O pedi lhe entregando a pequena peça.

Assim que saí da loja, segui rumo ao metrô, já que a casa em que James morava ficava do outro lado da cidade, precisaria pegar ao menos dois ônibus para chegar. Como fazia falta um veículo próprio, se sobrasse dinheiro gostaria de comprar uma moto. Andar a pé definitivamente era um incômodo aqui.

Caminhei até a escada do metrô chateada com o tamanho do azar que tinha, precisei vender o carro que comprei com tanto custo para poder comprar o apartamento em que estou morando, era muito difícil continuar na casa antiga, praticamente impossível.

Estranhamente o metrô naquele horário estava vazio, talvez não fosse o horário de pico, fiquei ao lado da porta enquanto um grupo de amigas que entrou depois escolheram os assentos do meio do vagão, estavam rindo felizes, pareciam despreocupadas com as coisas à sua volta, queria que fosse assim, desejava que elas nunca conhecessem pessoas ruins nas suas vidas, respirei fundo e encostei a cabeça no vidro gelado fechei os olhos e esperei até que chegasse a próxima estação.

Acordei quando ouvi a voz mecânica do alto-falante anunciar nossa parada, nem havia notado que adormeci ali, assim que as portas se abriram me apressei em sair dali, caminhei entre as várias pessoas, talvez agora seja o horário em que o metrô fica lotado, subi as escadas e finalmente pus os pés para fora daquele lugar.

"Só um pouco sufocante, acredito. Claro, ninguém realmente gostava de andar de metrô principalmente em horário de pico, só de imaginar aquele tanto de gente exprimido no vagão já me deixava com falta de ar."

O Sul da cidade contava com uma pequena área comercial onde os ônibus circulavam, então a partir da saída do metrô eu precisarei continuar a pé, não era um incômodo já que o bairro era mais tranquilo, as casas individuais com gramados verdes e cercas baixas, não havia nenhum padrão nas mesma, mas todas continham seu próprio charme, o que deixava a paisagem muito agradável, algumas continham árvores outras eram apenas um jardim de flores, e outras contavam até com um mini playground.

Assim que cheguei em frente a casa de James já pude ver uma pequena movimentação no local, sua casa tinha dois andares contando com o sótão e uma garagem mais a frente, Jardim era composto por algumas rosas, margaridas e algumas que não sabia ao certo quais eram mais todas continham seu próprio charme.

Caminhei até a porta passando por um pequeno caminho de pedra como se fosse um quebra-cabeça próprio da natureza, dali já podia ouvir as risadas de dentro da casa, pensei se ainda dava tempo de voltar e irá fazer se não fosse um gritinho fino saindo lá de dentro e o barulho da porta se abrindo não tivesse chegado até meus ouvidos.

"Droga não dá mais para fugir. Realmente tinha uma grande consideração por Sara, caso contrário enviaria o presente pelos correios."

Abri o sorriso mais largo que podia quando uma cabeleira loira pulou em meu colo, tomei para trás, mas consegui segurar a menina de aproximadamente um metro e oito centímetros nos braços.

— Titia-a voxe veiu! — Falava enquanto balançava freneticamente em meus braços.

— Sim, disse que viria né, agora para de se mexer se não quiser cair! — Supliquei, não que a Sara fosse pesada, provavelmente estava pesando uns dezoito quilos, mas não gostava de toda aquela bagunça em cima de mim. Ela parou, mas logo depois abraçou meu pescoço com força, então pude finalmente sentir o amor que aquela criança tinha por mim, e agradecia diariamente por isso, retribui o abraço e dei beijinhos em suas bochechas fofas sentindo o perfume infantil que apenas as crianças possuíam, mas essa vinha com algo adicionado era cheiro de framboesa.

— Vamos princesa, vamos entrar, você está ficando pesada! — Brinquei enquanto apertava sua cinturinha.

— TIA EU NUM CHOU GORDA! — Soltou gritinhos fofos.

— James, o que você está dando para essa menina comer? — Gritei para o homem parado na porta que me encarava rindo.

— Talvez só um pouco de fermento! — Respondeu ainda soltando gargalhadas.

— Viu seu pai concorda que você tá muito pesada. — Provoquei.

— Tia Aba voxe num vai gana bolho! — Disse segurando minhas bochechas em suas mãozinhas com uma expressão séria, completamente fofo.

— Viu James, ela não é pesada, você que é né Sara? — mudei para o homem que agora abria passagem.

— Xim papai é gordo! — Respondeu soltando gargalhadas.

— Pois é papai é gordo, agora desce do colo da tia para mim ter uma conversa séria com o homem gordo. — Coloquei a pequena no chão que saiu correndo para a sala com as outras crianças. Ficamos olhando para a mesma apenas admirando a alegria daquela pequena criança.

— Finalmente saiu daquela espelunca. — Falou agora olhando para mim.

— Não por opção. — Respondi ainda olhando Sara, sabia que mesmo James sendo um grande amigo ele fazia parte das pessoas que foram colocadas para ficar de olho em mim, não era apenas pelo aniversário de Sara, mas sim para mais tarde apresentar um relatório de como estou me comportando.

— Você sabe que se não for eu, outra pessoa vai relatar. — Respondeu.

— E você mesmo sabe que está colocando elas em risco. — Retruquei.

— Eu sei dos riscos e Helena, também sabe. — Rebateu.

— Parece que vocês não estão realmente cientes, então, Helena...

— Eu o quê?...

Ava - VIVER OU MORRERWhere stories live. Discover now