Cachoeira

3.4K 444 341
                                    

Um mês se passou desde aquela noite na praia. 

A relação dos meninos foi ficando cada vez melhor, mesmo as provocações adotaram um ar menos ofensivo e agora eram sinônimos de diversão, quase como piadas internas entre eles. Conforme a perna de Aonung melhorava, os treinos também começaram a voltar mais frequentemente. 

Neteyam já dominava a linguagem de sinais, respiração e nadava tão bem quanto seu corpo permitia. Já havia até domado e aprendido a montar em um Ilu, um daqueles animais marinhos carinhosos que serviam de movimentação e transporte. 

Um coisa que o deixou contente, foi o fato do Metkayina ter gostado do dente do Akula que recebeu como presente. O filho do Olo'eyktan havia o feito de colar, e carregava consigo sempre, para todo lugar. Paralelamente, Neteyam guardou sua pérola com muito carinho entre suas coisas mais importantes. Todos os dias, antes de dormir, ele a observava. A lembrança daquele brilho azul o tranquilizava mais do que ele gostaria de admitir. 

Lo'ak e Tsireya pareciam muito mais próximos. Era quase impossível encontrar um sem o outro. Andavam de mãos dadas, saiam juntos e sozinhos, e nunca se desgrudavam. Ronal parecia relutante em aceitar o relacionamento entre os dois.

Para a irritação de Aonung, realmente os flertes contra o parceiro de treino ficavam cada vez mais frequentes. Ele tentava manejar a situação como podia, mas sempre perdia a cabeça quando via aquele punhado de garotas rindo, cochichando e fitando Teyam ao longe. 

— Vocês não tem nada para fazer? Se trabalhassem tanto quanto fofocam, seriam muito mais úteis — Ele falou irritado dispersando um grupinho de garotas que ria vendo Neteyam sentado numa das passarelas tentando retirar suas tranças sozinho. 

Ele se aproximou lentamente. Queria dar um susto no menino que parecia concentrado, mas foi percebido havia tempo.

— Veio oferecer ajuda, ou só me ver mesmo, peixinho? — O Omaticaya perguntou sem se virar.

— Na verdade, eu tava vindo elogiar seu cabelo, mas depois dessa acho que vou embora mesmo — Falou sentando-se ao lado do outro. 

— Então você acha meu cabelo bonito? — Neteyam parecia concentrado na tarefa. Não era tão fácil, principalmente sozinho. 

— A curvatura dele é bonita... você precisa de ajuda? 

— Oh, que bom que percebeu. Achei que eu teria que implorar — Respondeu sarcasticamente — Sabe, o sal e esse sol infernal estão acabando com meu cabelo. Tá todo ressecado. Lá na floresta a gente não sofre assim. 

Aonung afastou as mãos do menino do próprio cabelo, tomando a tarefa completamente para si. Fazia a tarefa com destreza, apesar de ter a concentração roubada muito frequentemente para ficar apreciando as costas a sua frente. 

— Aqui em Awa'atlu, as garotinhas jovens lavam o cabelo com água docem e passam alguns cremes pelo menos uma vez por mês numa cachoeira próxima. Se você tão irritado pelo seu cabelinho não estar perfeito, posso te levar até lá. 

— Oh, que cavalheiro! Você faria isso por mim?! — Neteyam fingia surpresa, colocando um das mãos em frente a boca. 

— Só porque estou de bom humor. Além disso, meu cabelo também tá precisando. 

— Achei que só as garotinhas faziam isso.

— Não enche, Teyam. 

Combinaram que depois do almoço, eles iriam juntos para a cachoeira. Primeiro, Aonung havia sugerido uma das cachoeiras da ilha em que a vila ficava, mas depois desconversou, dizendo que era muito visitada e que eles não aproveitariam muito bem. Nesse caso, iriam para uma ilha próxima que era menos frequentada. 

Perdido no seu Azul│Aonung X Neteyam │Where stories live. Discover now